A “Operação Conexão Paraíba” ocorreu de forma simultânea com a “Operação Mafiusi”, que foi realizada no estado do Paraná
A Polícia Federal (PF) deflagrou na terça-feira, 10/12, no estado da Paraíba, a “Operação Conexão Paraíba”, que ocorreu de forma simultânea com a “Operação Mafiusi”, que foi realizada no estado do Paraná.
Ambas as ações foram
realizadas em conjunto com a polícia italiana e visa desarticular um núcleo de
uma organização criminosa (ORCRIM) transnacional especializada em tráfico
internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Nesta ação a PF
cumpriu 16 mandados de busca e apreensão criminal nos estados da Paraíba (João
Pessoa), do Rio Grande do Norte (Parnamirim), Pernambuco (Recife), São Paulo (São
Paulo, Guarulhos, Campos do Jordão, Santos) e Paraná (Antonina); 8 mandados de
prisão preventiva; determinações judiciais para o bloqueio de valores bancários
e o sequestro de bens móveis e imóveis.
Na capital
paraibana, um dos mandados de prisão preventiva foi no bairro Jardim Cidade
Universitária, na Zona Sul de João Pessoa. Uma mansão em Campos do Jordão (SP)
foi alvo da operação
Mansão em Campos do Jordão foi alvo da operação - Foto: Divulgação PF |
Na operação foram
apreendidos R$ 120 mil, 30 mil dólares e cerca de 4 mil euros, além de relógios
que podem chegar a R$ 200 mil.
Relógios preendidos na operação - Foto: Divulgação PF |
Investigação
A operação é um
desdobramento das investigações iniciadas em 2019, após a prisão de dois
integrantes da máfia italiana, Rocco Morabito e Vincenzo Pasquino, em João
Pessoa.
Rocco Morabito - Foto: Divulgação |
O mafioso Rocco Morabito, o "rei da cocaína de Milão", era o 2º mais procurado da Itália na época que foi preso em 24 de maio de 2021 pela Interpol, em um hotel de João Pessoa, junto com Vicenzo Pasquino.
Vicenzo Pasquino - Foto: Divulgação |
Rocco era considerado um dos 10 traficantes mais perigosos da máfia italiana. Após sua prisão, foi extraditado para a Itália em 2022. Antes, em 2007 Morabito foi preso no Uruguai, mas fugiu em 2009.
A partir da
assinatura de um acordo entre a Secretaria de Cooperação Internacional (SCI) do
MPF e as autoridades italianas, foi criada uma Equipe Conjunta de Investigação
(ECI) responsável pelas investigações.
Operação Conexão Paraíba - Foto: Divulgação PF |
Desde então, o
trabalho conjunto permitiu desvendar as estreitas conexões entre as estruturas
mafiosas italianas, espalhadas no Brasil e na Itália, e as organizações
criminosas brasileiras de tráfico de drogas.
As investigações
também contaram com o apoio dos organismos de cooperação jurídica e policial da
Europa (Eurojust e Europol), do Departamento Italiano de Segurança Pública, da
Direção Nacional Antimáfia e da Diretoria Central Antidrogas italianas, da
Coordenação-Geral de Repressão a Drogas da Polícia Federal do Brasil e da
Embaixada da Itália em Brasília (DF).
Durante as
apurações, foram identificados vínculos entre indivíduos e organizações locais
com a estrutura internacional do crime organizado.
A Polícia Federal e
autoridades europeias descobriram que a máfia italiana 'NDrangheta, considerada
a mais poderosa na Itália, tinha uma base montada em João Pessoa, de onde
articulava a compra e venda internacional de drogas. Nos últimos anos, a
Paraíba se tornou um ponto estratégico para a organização criminosa.
De lá, a facção
articulava operações internacionais de tráfico de drogas, o que levou a uma
série de ações policiais conjuntas entre o Brasil e a Europa.
Conexões com o Brasil (PCC / CV)
As conexões com o
Brasil foram reveladas pelo mafioso Vincenzo Pasquino, que decidiu colaborar
com a Justiça do seu país. Membro da máfia da Calábria, ele descreveu as
relações da sua organização criminosa com facções brasileiras, como o Primeiro
Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
O mafioso foi ouvido
em 7 de maio, mas suas declarações foram tornadas públicas em julho, quando
começaram a ser noticiadas pela imprensa do país europeu. Na audiência, o
criminoso descreveu suas passagens por várias capitais brasileiras, 'cúpulas'
realizadas com chefes do PCC e do CV, e os interesses dos italianos no
transporte de cocaína a partir de portos brasileiros.
Pasquino fez as
declarações ressaltando sua vontade de colaborar com a justiça do seu país,
conforme noticiou a mídia local. O mafioso reconstituiu as suas relações com
alguns grupos envolvidos no tráfico internacional de droga, relatando
acontecimentos a partir de 2015. Um dos casos relatados é uma reunião com as
cúpulas do crime organizado brasileiro.
Divisão de droga com facção brasileira
Em outro trecho do
depoimento, Pasquino descreve como funciona o crime organizado no Brasil. O
documento divulgado pela Justiça italiana omite nomes, mas reconstitui o modus
operandi do tráfico internacional de drogas em solo brasileiro.
"Em 2020, (nome
omitido) saiu de Brasília (onde vivia) e veio visitar-me em Aracaju (onde eu
vivia na época), com escala em Salvador e destino à Fortaleza. Ele tomou essas
precauções porque eu era um fugitivo. Veio visitar-me porque tínhamos algumas
importações em curso, incluindo uma em Roterdã", afirmou Pasquino.
Ele também mencionou
uma conversa com um grupo de traficantes na qual foi negociado o envio de meia
tonelada de cocaína para Gioia Tauro, na Itália. "Combinamos então dividir
os 500 kg 50-50 entre nós e os brasileiros.
"Depois da
ruptura, de que falei num relatório anteriormente (...), pediram-nos para
encontrar pessoas sérias com quem trabalhar. Foi nesse momento, como já
expliquei, que começaram as relações com o grupo de Nirta", afirmou.
A logística do grupo
usava tecnologias de comunicação com aplicativos de mensagens criptografados.
Esquema sofisticado
Os investigados são
suspeitos de integrar um esquema sofisticado de envio de grandes carregamentos
de cocaína para a Europa. A droga era transportada pelo método conhecido como
"RIP ON – RIP OFF", em que o entorpecente era escondido em
contêineres com cargas lícitas, com destino a portos europeus. A organização
criminosa também utilizava aeronaves privadas para transporte aéreo de drogas a
aeroportos na Europa.
Estima-se que, entre
2018 e março de 2024, o grupo movimentou aproximadamente R$ 7 bilhões em
transações financeiras ilegais. Esses valores foram lavados por meio de uma
rede de empresas e contas bancárias utilizadas para ocultar e dissimular a
origem ilícita dos recursos.
Máfia calabresa: 'Ndrangheta
O grupo nasceu na
região da Calábria, sul da Itália, o nome ‘Ndrangheta vem do grego
“andragathia”, que significa coragem e lealdade, "um grupo de homens de honra".
Hoje, é considerada
a organização criminosa mais rica e poderosa da Itália, superando a Cosa Nostra
e a Camorra. Com operações em todos os continentes do mundo, o grupo fatura
cerca de US$ 60 bilhões por ano (R$ 297,5 bilhões).
A fonte deste
dinheiro é principalmente a cocaína. A organização é dominante no mercado
mundial, e é estimado que cerca de 80% do tráfico de drogas na Europa seja
controlado por ela.
Em 2019, uma
operação internacional conjunta da Itália, Alemanha, Suíça e Bulgária prendeu
335 suspeitos ligados ao grupo. Entre eles, advogados, contadores e até
ex-parlamentares. Todos eram membros ou conectados com a família Mancuso, um
dos 150 clãs que compõem a organização. As acusações contra os detidos incluem
homicídio, extorsão e tráfico de drogas. Em março deste ano, outros 61 supostos
membros também foram presos.
Em maio de 2023, a “Operação
Eureka”, coordenada por dez países prendeu 132 integrantes da 'NDrangheta,
incluindo membros no Brasil. Essa investigação revelou esquemas de lavagem de
dinheiro, corrupção e tráfico de drogas envolvendo grandes quantias de
dinheiro.
Base em João Pessoa
A escolha da capital
paraibana como base operativa se deve, segundo a PF, por ser considerada uma
cidade pacata, longe dos maiores centros urbanos do país. Para não serem
flagrados, eles usavam aplicativos de mensagens de celulares criptografados, ou
seja, que não podem ser grampeados.
Segundo a PF, o
grupo organizava tudo em João Pessoa por celular, onde faziam toda a logística.
Muitas vezes a droga saía de outros países do continente americano — que é o
principal fornecedor de cocaína para a Europa. Entre o material enviado, a PF
chegou a perceber que eles chegavam a mandar cargas avaliadas em 10 milhões de
euros (mais de R$ 63 milhões) em contêineres.
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