O tema da sua exposição no evento foi "A Guarda
Portuária no Enfrentamento ao Tráfico Internacional de Drogas"
A 21ª edição do
projeto Segurança Pública em Foco, realizada na quinta-feira, 26 de setembro,
no Plenário do Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP.
O evento, organizado
pela Comissão do Sistema Prisional, Controle Externo da Atividade Policial e
Segurança Pública (CSP), com o tema "A Guarda Portuária no Enfrentamento
ao Tráfico Internacional de Drogas", e mediado pelo presidente da CSP,
Conselheiro Jaime de Cassio Miranda, contou com a participação do fundador e
diretor executivo da Associação Nacional da Guarda Portuária do Brasil (ANGPB),
Lucas Bernardo Vasconcelos, e do procurador da República Paulo Henrique Trazzi,
que contextualizou o papel do Ministério Público no combate ao crime
organizado.
Abertura
Na abertura do
evento, o conselheiro Jaime Miranda destacou a importância de discutir o
tráfico internacional de drogas e o enfrentamento dessa atividade no ambiente
portuário. Ele ressaltou que, embora não seja possível determinar com precisão
a principal fonte de renda das organizações criminosas, o tráfico internacional
de entorpecentes certamente é uma delas, o que demanda uma atenção redobrada
por parte do Estado. Segundo Miranda, é fundamental que o Brasil esteja
preparado para atuar com eficácia na fiscalização, investigação e apuração
desses crimes.
A Guarda Portuária nos portos do Brasil
O diretor da ANGPB iniciou sua apresentação com uma provocação ao público, perguntando se conheciam a instituição. Ele ressaltou que, apesar de ser uma entidade centenária – com seu primeiro regulamento - Decreto 1.286, de 17 de fevereiro de 1.893, poucas pessoas têm ciência de suas atividades e importância.
Em sua
exposição, Lucas Bernardo traçou um panorama histórico da evolução da
legislação relacionada à Guarda Portuária, desde sua criação até hoje, como o
Decreto 1.532/1906; Regulamento do Porto de Santos de 1913, Decreto
24.447/1934; Decreto 8.680/1942; Decreto 48.270/1960; Decreto-Lei 3/1966 e
Decreto 87.230/1982. Em seguida traçou um paralelo da GPort antes e depois da
Constituição Federal (CF) de 1988, onde três órgãos policiais eram vinculados
ao Ministério dos Transportes (Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia
Ferroviária Federal (PFF) e Guarda Portuária (GPort), no entanto, os dois
primeiros, através do Art. 144-CF, passaram a ser vinculados ao Ministério da
Justiça.
11 de setembro
Em seguida, destacou que a GPort passou a ter uma grande relevância, após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, com a criação do ISPS Code - Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias, ensejando a sua valorização, com o aumento do efetivo, com a realização de concursos públicos e investimentos em equipamentos.
Citou também outras
legislações que mencionam a Gport foi inserida no SUSP - Sistema Único de
Segurança Pública, criado pela Lei 13.615/2018, que disciplina o Art. 144,
parágrafo 7º, da Constituição Federal. “Apesar de a Guarda Portuária não estar
presente, diretamente, como órgão de segurança pública, a Lei do SUSP veio
corrigir esse limbo jurídico”, disse.
Atribuições
Entre as principais atribuições da GPort, além do policiamento ostensivo, estão o controle de acesso e monitoramento das instalações, fiscalização do trânsito nas vias portuárias, patrulhamento marítimo, prevenção e combate a incêndios, além de ações de inteligência.
Efetivo
Atualmente, a GPort conta com um efetivo de 1,3 mil agentes, entre homens e mulheres, responsáveis pela segurança e policiamento ostensivo em 36 portos públicos brasileiros, sob a autoridade das respectivas Autoridades Portuárias, administradas pelo Governo Federal, Estadual e Municipal.
Grupos Especializados
Para enfrentar essas táticas cada vez mais sofisticadas, a GPort conta com grupos especializados, como o Grupamento de Ações Estratégicas (GAE) e o K9 no porto de Santos, que utiliza cães policiais treinados para detecção de drogas e explosivos e o Grupamento de Ações Extraordinárias (GAEX) no Porto do Rio.
Apreensão de drogas nos portos
Lucas Bernardo
apresentou dados da Polícia Federal (PF) que mostram que, entre 2019 e 2021,
foram apreendidas, em média, 55 toneladas de drogas, sobretudo cocaína, nos
portos brasileiros.
Dentro do tema,
mostrou a atuação da Guarda Portuária no Enfrentamento ao Tráfico Internacional
de Drogas, citando os modus operandi e várias apreensões realizadas pela GPort.
Ele explicou que os
métodos utilizados pelas organizações criminosas incluem a técnica
“Ripon/Ripoff”, em que drogas são inseridas em contêineres sem o conhecimento
dos proprietários, muitas vezes com a cooptação de funcionários dos portos.
Outros métodos utilizados são o içamento de drogas em navios e o uso de
mergulhadores para esconder os entorpecentes na caixa-mar (sea Chest) dos
navios.
“A caixa-mar é um
compartimento que fica submerso e que capta a água do mar para resfriamento das
máquinas do navio. As organizações criminosas têm utilizado esse espaço ‘oco’
do navio para colocar drogas. Elas utilizam mergulhadores extremamente
habilidosos nessas atividades”, explicou.
“O fato do trabalho
da GPort não ser muito conhecida a nível
nacional, se deve muitas vezes ao fato dela realizar a localização da droga e
prender os envolvidos, após a ocorrência ser apresentada na Polícia Federal (PF),
é divulgado na imprensa que a ação foi realizada por àquela corporação”,
comentou Lucas Bernardo.
Por último apresentou um vídeo institucional demonstrando o trabalho da corporação no Porto de Santos.
Conselheiro e mediador Jaime de Cassio Miranda
Após a apresentação
de Lucas Bernardo, Após a apresentação, o presidente da CSP, Conselheiro Jaime
de Cassio Miranda, Jaime Miranda pontuou que o Projeto Segurança Pública em
Foco é um cenário interessante para divulgação do trabalho da Guarda Portuária,
para que se conheça um pouco mais desse trabalho. “Pela quantidade de droga
apreendida, a gente pode supor a quantidade que sai”, disse, acrescentando que
o Ministério Público é um dos órgãos que lida diretamente com o tráfico
internacional de drogas.
Em seguida admitiu
que o trabalho da GPort é desconhecida por grande parte da sociedade
brasileira, entendendo no entanto, que o principal culpado é a própria
corporação, cabendo a mesma fazer uma grande divulgação das suas ações.
Apresentação do Procurador da República
O procurador da
República do Ministério Público Federal (MPF), Paulo Henrique Camargos Trazzi,
atualmente lotado, em Vitória, no Espírito Santo, demonstrou como o Ministério
Público Federal (MPF) encerrou o evento discutindo as condições legais que
permitem o ingresso de agentes do Estado em domicílios, confrontando a garantia
de inviolabilidade prevista na Constituição.
“No direito
brasileiro, tanto a doutrina quanto a jurisprudência são pacíficas em
considerar que a garantia da inviolabilidade de domicílio tem um conceito
bastante amplo, que envolve estabelecimentos comerciais não abertos a públicos,
inclusive navios, barcos, cabines de trem, etc., ou seja, a atuação da Guarda
Policial, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Marinha do
Brasil, para ingresso forçado nesses locais precisa ter uma fundada razão, uma
justa causa para isso”, afirmou.
Lucas Bernardo
Agradeço imensamente
a oportunidade de participar de tão importante Projeto, que tem por objetivo
estreitar o diálogo e a integração entre o Ministério Público e os órgãos dos
Sistemas de Segurança Pública e de Justiça, disse Lucas Bernardo.
Assista à 21ª Edição
do projeto Segurança Pública em Foco pelo canal do CNMP no YouTube.
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