Após chegarem à região, facções do Sudeste entraram em
conflitos, que se somam à elevada taxa de letalidade policial
Um porto menos
fiscalizado do que os de outros estados atraiu facções criminosas em busca de
novas rotas para traficar drogas. E a guerra entre essas organizações se
misturou à alta letalidade em ações policiais para fazer o Amapá ter o maior
crescimento de mortes violentas intencionais no país no ano passado (39,8%),
segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O mesmo relatório do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública que divulgou esse percentual na quinta-feira
apontou Santana, ao lado de Macapá, como a cidade mais violenta do Brasil. A
capital do estado está em nono lugar no ranking.
Segundo o
anuário, a maior taxa de mortes violentas do país se concentra no Sul do
estado, entre Macapá, Santana, Itaubal, Mazagão, Laranjal do Jari e Vitória do
Jari. Um dos motivos para essa concentração está no Porto de Santana, que atrai
criminosos por ser uma via de acesso à Região Amazônica e pela maior
proximidade com a Europa. A taxa de letalidade policial no estado é de 23,6
mortos por 100 mil habitantes.
— Nos últimos
três anos, começamos a ter a chegada de braços de grupos de São Paulo e Rio de
Janeiro, o que envolve conflito com os grupos locais — opina o geógrafo Aiala
Couto, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Universidade
do Estado do Pará (Uepa). — A polícia do Amapá é violenta. É como se tivesse
carta branca para matar — acrescenta.
Embora a taxa de
letalidade policial seja de 23,6 mortos por 100 mil habitantes, o governo do
Amapá atribui o aumento no número de mortes ao enfrentamento entre grupos
criminosos. As autoridades locais chamam a atenção para resultados positivos no
primeiro semestre de 2024, com uma queda de 32% nos crimes violentos letais
intencionais, quando comparado ao mesmo período do ano passado. O número de
vítimas caiu de 175 para 119 (os dados do anuário são referentes a 2023).
— Não acho que
seja possível fazer uma análise, já que os números seguem elevados e mantêm o
estado lá em cima no ranking — ressalva Aiala Couto.
O governo do
estado informou ainda ter adotado estratégias juntamente com o Ministério da
Justiça, como a Operação Hórus, uma ação permanente em municípios fronteiriços.
A aquisição de equipamentos como viaturas, drones e armamentos também é
lembrada para demonstrar o esforço no combate à criminalidade.
Aumento da Violência no Amapá
Mapa mostra região onde
episódios de violência se concentraram — Foto: Editoria Arte O Globo
Para
especialistas, a movimentação de facções do Sudeste, como o Primeiro Comando da
Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), rumo ao Norte envolve a busca por
novas rotas para movimentar cocaína diante do desgaste das vias tradicionais. É
o caso da chamada “rota caipira”, que vai do Paraguai até o Porto de Santos.
— Ela é bem
conhecida e mapeada. Há sistemas recentes para mapeamento de voos clandestinos,
e a droga chega em portos cada vez mais fiscalizados — explica o pesquisador
Gabriel Patriarca, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.
As 10 cidades mais violentas em 2023
Ranking mostra as cidades mais
violentas do Brasil em 2023 — Foto: Editoria Arte O Globo
Conexões globais
A migração faz métodos usados em outros estados serem repetidos no Amapá. No dia 10 de abril, uma operação da Polícia Federal (PF), em operação conjunta com as Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado (FICCO), prendeu integrantes de uma organização que usava mergulhadores para colocar drogas em cascos de navios no Porto de Santana, prática que já foi detectada em Santos e no Sul do país. Os criminosos vinham do Rio Grande do Norte e de São Paulo.
Na chegada ao
estado, o PCC se associou à facção local Família Terror do Amapá (FTA),
enquanto o CV buscou apoio da Amigos para Sempre (APS). Outro fator que atrai
esses grupos é a proximidade do estado com o Suriname e a Guiana Francesa.
— Hoje você tem
uma conexão global do narcotráfico e outros tipos de atividades ilegais —
afirma Aiala Costa — Há uma conexão que pega a Guiana e o Suriname em direção à
Europa. Santana é estratégico nesse contexto.
Fonte: O Globo
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