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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

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PAGAMENTO DE ATÉ R$ 300 MIL E RISCO DE MORTE: USO DE MERGULHADORES PELO TRÁFICO DISPARA NO PAÍS

Mergulhador brasileiro Bruno Borges morreu na Austrália e foi encontrado ao lado de carregamento de cocaína — Foto: Reprodução

Cada vez mais, facções recorrem a profissionais, que muitas vezes já trabalham nos portos, para contaminar embarcações com cocaína

A ação é feita geralmente à noite. O pagamento é alto, e pode alcançar R$ 300 mil, mas o risco é elevado, e já houve caso de contratados para o serviço que morreram durante a sua execução. O uso de mergulhadores profissionais pelo tráfico para colocar drogas escondidas em navios tem se espalhado pelos portos brasileiros. Em 2019, foram apreendidos 360 quilos de cocaína introduzidas em embarcações por este procedimento. No ano passado, foram quase três toneladas.

Em portos como o de Santos (SP), Vila Velha (ES) e Pecém (CE), os mergulhadores ocultam tijolos de cocaína em estruturas submersas de graneleiros e cargueiros. A droga geralmente é colocada em caixas de mar (sea chest), que captam água usada como lastro ou para resfriar motores.

O campeão de apreensões é o Porto de Santos, onde mais de duas toneladas foram encontradas no ano passado. Em 2019, a cocaína retirada de caixas de mar representava 2,4% do total de apreensões no maior porto do Brasil. Quatro anos depois, o percentual saltou para 30%.

Segundo o pesquisador Gabriel Patriarca, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, apesar de os contêineres continuarem sendo o principal esconderijo para o tráfico por navios, o aumento da fiscalização fez as caixas de mar no casco se tornarem uma alternativa. Uma portaria da Receita Federal de 27 de junho, por exemplo, incluiu novos destinos que terão suas cargas submetidas ao scanner do Porto de Santos, como Rússia e Israel.

— A estrutura para contêiner já é bem consolidada. E tanto a Receita Federal do Brasil (RFB) quanto a Polícia Federal (PF) já sabem quais são as vulnerabilidades e como tratá-las. A varredura do casco é uma coisa nova — diz Patriarca.

Por causa de Santos, São Paulo é o estado com mais apreensões (4.711kg) de cocaína em cascos de navio, seguido do Rio (815kg), Espírito Santo (649kg) e Ceará (483kg). Há registros ainda no Rio Grande do Sul (364kg), Santa Catarina (414kg) e Paraná (204kg), além de Pará (85kg) e Amapá (155kg).

Infográfico mostra um dos principais locais nos quais mergulhadores ocultam drogas em cascos de navios — Foto: Arte O Globo

A variedade de portos acompanha uma tendência da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) de buscar novos locais para escoar drogas, em reação à fiscalização no Porto de Santos, segundo especialistas. Para Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), outro elemento que contribui é o investimento de outras facções.

— É difícil determinar quando, mas o Comando Vermelho (CV) passou a também focar no tráfico internacional. O Porto de Santos é uma área de hegemonia completa do PCC — diz Hirata. — Há presença do CV no Espírito Santo, Ceará e Pará, um lugar de relações importantes para a facção. No Sul, temos uma grande influência do PCC — acrescenta.

Mais difícil de ser detectado, o uso de mergulhadores é um desafio às autoridades. Um relatório da seguradora marítima Proinde de abril deste ano indica que mais da metade das apreensões em caixas de mar contaminadas no Brasil ocorre fora do país (53%). A preferência é por graneleiros, que transportam desde produtos agrícolas a minério de ferro. São menos fiscalizados que os cargueiros.

— Nem a PF e nem a Receita tem equipes especializadas nesse tipo de mergulho — explica Patriarca, ressaltando existir uma dependência de profissionais de Marinha do Brasil (MB) e Polícia Militar (PM). — Como não tem essa mão de obra a todo momento, fazem quando há uma movimentação suspeita ou informação de inteligência.

A dificuldade inerente ao trabalho é um limite para o uso dos mergulhadores pelas facções criminosas. Um relatório de 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) destaca que o processo é arriscado, com altas chances de fracassar pela ocorrência de acidentes ou apenas do mau tempo.

— O mergulho é muito difícil, as águas são turvas. O casco do navio fica próximo ao cais, e o mergulhador pode ser esmagado — diz Patriarca.

A mão de obra vem, assim, dos próprios portos, onde mergulhadores atuam em reparos e limpeza de estruturas submersas. Mas estrangeiros também podem ser usados. Foi o caso do “Aquaman do PCC”, como ficou conhecido o espanhol Joaquín Francisco Gimenez, em janeiro de 2022 no Guarujá (SP). Com atuação no Porto de Santos e Vitória, ele era dono de uma empresa em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, que tinha contratos com autoridades locais, segundo o jornal “La Provincia”. Pelos mergulhos do tráfico, receberia cerca de R$ 300 mil.

Morte na Austrália

Uma ação ilegal que custou a vida de pelo menos um brasileiro ocorreu em maio de 2022, naAustrália. O capixaba Bruno Borges foi retirado morto das águas de Newscastle, ao lado de 54 quilos de cocaína. Borges e o paulista Jhoni Fernandes da Silva haviam viajado clandestinamente ao país para recolherem um carregamento de cocaína.

Jhoni está desaparecido. Em maio, uma caminhonete usada pelos criminosos foi desenterrada em uma área de mata de Newcastle. No mês seguinte, uma perícia foi realizada em uma casa de um subúrbio de Sydney, onde se acredita que Jhoni tenha residido depois da morte de Borges.

O empresário do ramo do turismo e operador de iates James Blake Blee foi preso em um aeroporto dois dias depois de o corpo do brasileiro ser encontrado. Ele teria contrabandeado US$20 milhões em cocaína e trazido ilegalmente a dupla em um veleiro da Indonésia. No fim de 2023, Blee admitiu ser culpado das acusações e aguarda julgamento, previsto para agosto.

Fonte: O Globo 


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