Interpol prendeu o albanês Armando Pacani, investigado no
Brasil por integrar uma organização criminosa que enviava cocaína à Europa
Pacani estava na
lista vermelha da Interpol e foi preso no dia 29 de julho em Dubai, nos
Emirados Árabes. O Brasil tem o prazo de 30 dias para enviar a solicitação formal
do pedido de extradição.
Segundo denúncia
do Ministério Público Federal (MPF), Pacani era o destinatário de boa parte das
17 toneladas de cocaína pura que o grupo criminoso com base em portos do Sul do
país enviou à Europa no período de dois anos, mercadoria estimada em R$ 3,8
bilhões.
De acordo com o
MPF, o grupo mandou pelo menos 13 remessas de cocaína vinda dos países andinos,
a partir do Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e do Porto de Itajaí, em
Santa Catarina. A droga era escondida em contêineres com carga lícita, sem o
conhecimento dos donos das mercadorias, ou partia em embarcações pesqueiras.
Uma das remessas foi apreendida pela Marinha Francesa perto de Serra Leoa em novembro de 2022. O
barco pesqueiro levava 4,6 toneladas de cocaína em cerca de cem malas — o
equivalente a quase R$ 800 milhões. A operação foi um trabalho conjunto da PF,
da Drug Enforcement Administration (DEA), da Agência da União Europeia para a
Cooperação Policial (Europol) e de autoridades francesas.
As investigações
mostram que um cidadão paraguaio fornecia carregamentos de cocaína comprada na
Bolívia aos donos de empresas de logística marítima no Sul do Brasil, espécies
de narcoempreendedores, que enviavam para a Europa. A droga entrava em
território nacional pela fronteira com o Paraguai, na região de Pedro Juan
Caballero e Ponta Porã, atravessava alguns estados de caminhão, logística sob a
responsabilidade de parceiros, até chegar ao Sul. Dali, eles enviavam para
compradores europeus, em especial dos Bálcãs e da Península Ibérica.
Integrante da
máfia albanesa, Pacani é apontado pelo MPF como responsável por acompanhar
"a logística do tráfico internacional de drogas, desde o fornecimento nos
países andinos, passando pelo armazenamento e trabalhos portuários, transporte
marítimo, até o recebimento na Europa".
Ele estava
foragido desde a deflagração pela Polícia Federal da Operação Hinterland, em
março do ano passado. Conhecido pelos codinomes Albanês, Forbes e Globe, Pacani
é acusado dos crimes de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e organização
criminosa.
SAIBA MAIS: OPERAÇÃO DESARTICULA ORCRIM INVESTIGADA PELO ENVIO DE TONELADAS DE COCAÍNA PARA A EUROPA
Para dissimular
as grandes cifras movimentadas pelo tráfico internacional, a organização
criminosa do Sul usou diversas modalidades de ocultação de capitais. Segundo o
MPF, o grupo contava com uma espécie de banco paralelo, sistemas financeiros à
margem para enviar dinheiro ao exterior para pagamento de fornecedores, e com
redes de pessoas jurídicas de fachada para fazer circular o fluxo financeiro.
LEIA TAMBÉM: PF DEFLAGRA SEGUNDA FASE DA OPERAÇÃO HINTERLAND DE COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS
Plataforma de comunicação criptografada Sky ECC
Uma megaoperação
policial contra o tráfico internacional, coordenada pelas polícias de Bélgica,
França e Holanda e deflagrada em março de 2021, acabou por definir também o
futuro dos narcoempreendedores do Sul do Brasil. A operação derrubou a
plataforma de comunicação criptografada Sky ECC, amplamente usada para planejar
o comércio global de entorpecentes, e forneceu aos governos de dezenas de
países trocas de mensagens valiosas entre criminosos.
Segundo a PF, a
Hinterland foi a primeira operação do Brasil a se debruçar sobre mensagens do
SKY ECC para chegar aos autores de crimes. Foi ao acessar as mensagens do Sky
ECC que os investigadores chegaram a Pacani, apontado como principal comprador
da droga da organização criminosa na Europa. Registros da imigração apontam que
Pacani entrou no Brasil em janeiro de 2019 e saiu em agosto de 2020, em voo da
Emirates de São Paulo para Dubai.
Em nota, os
advogados Eduardo Maurício e Diego Pereira Barrios afirmam que Pacani "é
inocente, e mesmo assim é perseguido pela justiça brasileira por ser cidadão
estrangeiro e residir no exterior, que insiste em não revogar a sua prisão
preventiva, simplesmente para extraditá-lo e colocá-lo em liberdade em seguida,
como ocorre na maioria dos casos, um verdadeiro absurdo e afronta à
justiça".
A defesa afirma
que está pleiteando a revogação da prisão preventiva por meio de habeas corpus,
para que possa responder o processo em liberdade e à distância em solo Árabe.
Sobre a
extradição, os advogados dizem que vão "atacar tecnicamente, já que a ação
penal de origem está suspensa pela existência de provas ilícitas (conversas via
SKY ECC); pelo fato de ter sido enviado pelo Brasil a Dubai somente a denúncia
e o mandado de prisão; bem como pela questão da violação dos direitos e
garantias fundamentais”.
Fonte: O Globo
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