Jan
Op Gen Oorth, porta-voz da Europol (Norddeutscher Rundfunk (NDR)/Reprodução) |
O tráfico internacional de cocaína, viabilizado em
parte pelo crime organizado brasileiro, em especial a facção Primeiro Comando
Capital (PCC), é uma das preocupações de autoridades nacionais e internacionais,
como mostra reportagem de VEJA. Estima-se que na Colômbia seja produzidas de
2.000 a 2.500 toneladas por ano do entorpecente com destino à Europa, saindo pelos
portos de Guaiaquil (Equador) ou do Brasil, principalmente de Santos.
Em entrevista a VEJA, Jan Op Gen Oorth,
porta-voz e consultor sênior da Europol, a polícia da União Europeia, alerta
para a necessidade de construção de uma rede global de enfrentamento ao crime
organizado, que se globalizou na mesma medida que o comércio de produtos
legais. “As máfias trabalham juntas e tratam o crime como negócio”, afirma
Oorth.
Leia
a entrevista a seguir:
Traficantes
brasileiros e europeus estão usando novas rotas através dos países dos Bálcãs
para levar cocaína para a Europa?
Há um crescente impacto provocado pelos cartéis dos
Bálcãs no tráfico internacional de cocaína, mas o entorpecente não entra
necessariamente pelos países de lá. Quando falamos do envolvimento de grupos
dos Bálcãs, falamos de ex-Iugoslávia, Sérvia, Montenegro e Croácia, todos muito
envolvidos com o comércio global de cocaína. Nos anos 1980 e 90 prevalecia o
crime organizado da Itália e os cartéis colombianos. Porém, da mesma forma que
a economia se globalizou, o tráfico se globalizou também. Hoje há uma grande
quantidade de grupos envolvidos. Tivemos um exemplo disso na semana passada, com
a ação polícias da Croácia, da Sérvia, dos países dos Bálcãs, do Brasil, da
Espanha, da Turquia e a Europol, forças de três continentes trabalhando juntas
em um caso. Eu diria que comércio mundial de cocaína é muito mais internacional,
com mais grupos e mais países envolvidos do que no passado.
“Os cartéis colombianos evitam exportar a cocaína
através da Colômbia, porque nos portos europeus, como Roterdã e Hamburgo, se um
navio chega da Colômbia, ele tem mais chances de ser inspecionado”
Como
funciona a rota da cocaína que sai da América Latina?
A cocaína não é produzida no Brasil. Ela é
cultivada, quase que exclusivamente, na Colômbia, que tem de 80% a 90% da
produção. Peru e Bolívia também produzem. A maior parte da cocaína é enviada de
navio através do porto de Guaiaquil, no Equador, mas os portos brasileiros
também são usados. Por meio de rios bolivianos, às vezes pelo Paraguai, a
cocaína da Bolívia é escoada até o Brasil, que é um país muito bonito e com uma
longa costa cheia de cidades e portos. Há muitas oportunidades logísticas para
o envio da cocaína, usando o oeste da África como “hub” ou indo direto para a
Europa. Os carteis colombianos evitam exportar a cocaína através da Colômbia,
porque aqui nos portos europeus, como Roterdã e Hamburgo, se um navio chega da
Colômbia, ele tem mais chances de ser inspecionado, devido ao histórico de
tráfico.
A
Europol está investigando o PCC? A ação do grupo brasileiro na Europa aumentou
nos últimos anos?
Os cartéis colombianos vendem a cocaína aos
brasileiros ou pagam para que eles façam o serviço logístico de mandar a droga
para a Europa. Tivemos duas grandes operações ano passado envolvendo o PCC. Uma
envolvendo a ‘Ndranghetta, da Calábria, máfia italiana mais forte no tráfico de
cocaína. A outra ação foi em outubro passado. Dezesseis pessoas foram presas
pela Polícia Federal brasileira e pelos parceiros europeus. O PCC é um dos
maiores players do Brasil no tráfico de cocaína.
Uma operação da Europol em 12 de junho prendeu quarenta pessoas, inclusive do Brasil. Quantos foram e onde os brasileiros
foram presos? Essa operação foi muito complexa. A investigação durou mais de
três anos e envolveu pelo menos dez forças policiais diferentes, como, além da
polícia do Brasil, a Guarda Espanhola, as polícias da Croácia, da Sérvia, da
Turquia, de Dubai e dos Emirados Árabes, ou seja, de três continentes – Europa,
América Latina e Ásia. As prisões aconteceram no Brasil, na Alemanha, na Sérvia
e na Croácia, o que mostra claramente quão global essa rede é. Parte dos brasileiros
estava no Ceará e em São Paulo.
“Temos um problema criminal global. Por isso,
precisamos de uma solução global. Reunimos as informações da inteligência de
todos e as juntamos como peças de quebra-cabeças”
Alguns
críticos afirmam que o combate ao tráfico internacional de drogas aqui no
Brasil ainda está muito restrito às nossas fronteiras. Como funciona a cooperação
das autoridades brasileiras com a Europol?
O Brasil é um player importantíssimo, por causa do
tamanho do país, por causa da quantidade de droga exportada e da quantidade de portos
que tem. Exportar cocaína do Brasil é muito atrativo, por causa da longa costa
e dos muitos portos. A cooperação com o Brasil é primordial. A Europol funciona
como a organização que articula todos esses parceiros juntos. O Brasil não
cooperaria com a Sérvia em condições normais. Nem com a Croácia ou Dubai.
Talvez com os EUA, Portugal, Espanha, Argentina, Bolívia e Colômbia. Porém, nos
temos um problema criminal global. Por isso, precisamos de uma solução global.
Reunimos as informações da inteligência de todos e as juntamos como peças de
quebra-cabeças. A Europol tem um acordo estratégico com o Brasil, que permite a
troca de informações estratégicas. Porém, não temos um acordo operacional, por
isso não podemos trocar dados operacionais. Eu diria que o Brasil é um parceiro
extremamente importante no combate mundial contra o tráfico de cocaína, e só se
pode combater uma rede com outra rede ainda mais forte.
Fonte: Veja
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