Edifício Sede da Alfândega de Santos - Foto: Divulgação Receita Federal |
As duas maiores apreensões do ano foram realizadas em um
intervalo de dois dias. Droga é exportada pelo PCC com destino a países
europeus
Em dois dias, a
Alfândega da Receita Federal apreendeu no Porto de Santos mais do que o triplo
da quantidade de cocaína que havia sido interceptada por lá em todo o ano de
2024. Ao todo, 1.262 kg da droga foram encontrados na mesma semana, número
superior aos 361 kg localizados de janeiro a junho. Foi a quinta apreensão do
ano. As possíveis causas da alta repentina ainda são apuradas.
No dia 4 de julho, a Receita do Brasil (RFB) interceptou um total de 380 kg de cocaína em
um de dois contêineres de um carregamento de 42 toneladas de café cru em grão.
A apreensão se deu em um dos terminais do Porto de Santos, considerado o maior
do hemisfério sul.
O navio onde a
droga seria embarcada tinha como destino o porto de Gotemburgo, na Suécia, mas
ainda faria baldeação no porto de Antuérpia, na Bélgica.
Como mostrou o
Estadão, antes desta apreensão, a Receita Federal já havia realizado na manhã
do dia 2/7 a maior apreensão de droga do ano no Porto de Santos: 882 kg de cocaína foram interceptados em só um contêiner. A carga estava escondida em
meio a uma remessa de 677 toneladas de açúcar, segundo as autoridades.
O navio para
onde os entorpecentes seriam levados tinha como destino a Guiné, na África
Ocidental. Mas antes, a embarcação que receberia o carregamento também faria
baldeação em Antuérpia, na Bélgica.
"Como a
Europa é um grande consumidor da cocaína, mais provavelmente a droga iria ser
retirada ainda por lá", afirmou Richard Neubarth, delegado da Alfândega da
Receita Federal do Porto de Santos.
Como mostrou o
Estadão, o Primeiro Comando da Capital (PCC), principal organização criminosa a
operar no Porto de Santos, tem a Europa como o principal destino dos
carregamentos que saem daqui.
Por lá, o grama
da cocaína pode chegar a US$ 85 (R$ 480, na cotação atual). Em países vizinhos
ao Brasil, como Colômbia, Peru e Bolívia, a mesma quantidade pode ser comprada
por apenas US$ 1 (R$ 5,65).
O lucro é
tamanho que a organização criminosa aumentou o envio de drogas para a África
como forma para aumentar seu lucro com o tráfico internacional de cocaína.
Muitas vezes, enviar a droga para lá pode facilitar a destinação posterior para
Ásia, Oceania e Europa.
Conforme a RFB,
em ambos as apreensões, o entorpecente foi encontrado durante a execução de
trabalhos de vigilância e repressão aduaneiras, realizados continuamente por
equipes da Alfândega. As identificações da carga ilícita contaram com auxílio
de um cão farejador.
Após confirmada
a "contaminação" (quando há presença de droga em meio a cargas
aparentemente lícitas), a conduta padrão é acionar a Polícia Federal (PF) para
realizar a perícia no local onde a cocaína foi encontrada a fim de subsidiar a
investigação sobre as origens e destinação da droga.
Quais foram as outras interceptações realizadas neste ano pela Receita?
Quantos quilos
de cocaína foram apreendidos em outros anos no Porto de Santos?
Ainda com esta
última apreensão, a quantidade de cocaína apreendida neste ano segue em patamar
bem abaixo do que se viu em períodos anteriores, segundo dados da RFB. Confirma
abaixo a quantidade interceptada não só em 2024, como em outros anos:
- 2024: 1.623 kg
- 2023: 7.143 kg
- 2022: 16.075 kg
- 2021: 16.917 kg
- 2020: 20.572 kg
Como mostrou o
Estadão em reportagem especial publicada neste ano, por mais que o tráfico via
contêineres seja mais "tradicional", uma tática que tem ganhado força
no período recente é o uso de "caixas de mar" (recipientes
localizados no casco).
Isso porque, no
envio de cargas para Europa e África, o tráfico via contêiner passou a ter mais
risco com medidas implementadas nos últimos anos: a regra é de que sejam
vasculhadas por scanners logo na chegada aos terminais.
No último ano,
1,68 tonelada de cocaína foi apreendida em cascos de navios no Porto de Santos
por mergulhadores militares, mais do que o triplo do que os 483 quilos
interceptados em 2020, segundo balanço da Marinha obtido pelo Estadão.
Dados da
Alfândega de Santos reunidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP mostram
como o tráfico submarino tem crescido. Em 2020, a proporção de droga achada em
cascos de navios era de 2,3% do montante. Em 2023, só até agosto, a fatia
saltou para 13,5%.
Fonte/Autor:
Terra - Ítalo Lo Re
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