Com aumento da fiscalização no Porto de Santos, o PCC
ampliou conexões para enviar cocaína à Europa pelo Porto do Rio, onde impera o
CV
O aumento da
fiscalização contra o tráfico internacional de drogas no Porto de Santos, nos
últimos anos, levou o Primeiro Comando da Capital (PCC) a montar uma ampla rede
criminosa para migrar parte do bilionário esquema de envio de cocaína à Europa,
por via marítima, para o Porto do Rio de Janeiro, onde impera o Comando
Vermelho (CV), rival da facção paulista.
Investigações
feitas ao longo de dois anos pela Polícia Federal (PF), que contou com um
agente infiltrado na organização criminosa, mostram como o PCC recrutou
funcionários do porto fluminense, despachantes com acesso a contêineres de
navios de carga e operadores altamente influentes na logística de envio da
cocaína no Brasil e recebimento da droga no continente europeu.
Entre as
peças-chave no esquema descoberto pelos policiais federais, estavam Chendal
Wilfrido Rosa, conhecido como “Gringo” ou “Bolt” e apontado como representante
da máfia italiana ‘Ndrangheta no Brasil, e Cleide Roseane Boettsche, vulgo Isa,
braço direito de Karine de Oliveira Campos, a “rainha do pó”, que era
considerada a maior exportadora de cocaína via portos do país e está foragida
desde 2021.
De babá a operadora do tráfico
Uma denúncia do
Ministério Público Federal (MPF) feita a partir da Operação Brutium, deflagrada
em 2022, mostra que, antes de ascender como operadora do tráfico, Isa era babá
de um dos filhos da “rainha do pó” e assumiu a responsabilidade pelas
negociações do grupo criminoso após a decretação da prisão de Karine, em 2019,
pelo envio de 5,3 toneladas de cocaína para o exterior.
Segundo o MPF,
Isa atuou como representante comercial do PCC, em território fluminense, até
fevereiro de 2022, quando foi presa na operação da PF. Antes de ser detida, ela
havia passado a “cuidar do cofre” da patroa, incluindo os pagamentos de
advogados para a “defesa de lideranças do PCC” e também de “algumas lideranças
políticas do Brasil”, não especificadas.
Isa foi
condenada a 15 anos por tráfico e associação ao tráfico de drogas, em regime
fechado, e segue atrás das grades. Segundo o MPF, ela estava “diretamente
envolvida” na operação para enviar 300 quilos de cocaína para o porto de Le
Havre, na França. A embarcação, contudo, foi apreendida durante o percurso, no
porto de Tanger, no Marrocos.
Assassinos do Caribe e máfia italiana
Toda essa
operação, que envolvia o transporte terrestre da droga desde a Baixada Santista
até o Porto do Rio, contava com a participação do grupo de Chendal Wilfrido
Rosa, natural de Curaçao, ilha holandesa no Caribe. Ele é apontado como
integrante do grupo criminoso No Limit Soldiers — envolvido com tráfico
internacional e especializado em assassinatos por encomenda — e representante
da ‘Ndrangheta no Brasil, principal cliente do PCC na Europa.
Antes da
operação de 2022, Chendal já tinha sido preso e acusado pelo crime de tráfico
internacional de drogas na Holanda e em Aruba, outra ilha caribenha, envolvido
no envio de cocaína para a Europa e para a África. Segundo o MPF, ele
“participou efetivamente” da remessa de quase uma tonelada de cocaína para os
portos da Antuérpia, na Bélgica, e de Valência, na Espanha.
De acordo com a
investigação, a cocaína adquirida no Brasil, em cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, oriunda de países produtores como Colômbia, Peru e Bolívia, custa em
torno de U$ 5 mil. Já no destino final, na Europa, o valor pago por compradores
gira em torno de € 25 mil e € 30 mil. Isso rende cerca de R$ 100 mil de lucro
líquido a cada quilo da droga vendido no exterior.
Agente da PF infiltrado
A descoberta do
esquema envolvendo o tráfico de drogas do PCC via Porto do Rio só foi possível
graças à atuação de um agente da PF infiltrado na organização criminosa. O
policial foi contratado pelo grupo chefiado por Isa e Chedal, que pagou o
equivalente a R$ 3,3 milhões em dólar, acreditando que o falso atravessador
enviaria 1,75 tonelada de cocaína, dividida em seis cargas diferentes, para o
outro lado do Atlântico.
Segundo a
investigação resultante do trabalho do policial infiltrado, Isa contratou o
agente, acreditando que ele seria um facilitador no Porto do Rio de Janeiro
para despachar 300 kg de cocaína para o Porto de Le Havre, na França. Meses
antes de sua prisão, Isa recepcionou o agente infiltrado em um apartamento no
Leme, zona sul do Rio de Janeiro, em outubro de 2021.
Pelo serviço
prestado na operação, o agente infiltrado recebeu US$ 640 mil da organização
criminosa. A droga despachada em um contêiner no navio, contudo, foi
interceptada em Marrocos, após alerta emitido pelas autoridades brasileiras
àquele país.
Graças ao
trabalho do agente, a PF pôde identificar parte da rede de contatos usada pela
facção paulista para despachar cocaína por meio do porto fluminense. Ao longo
de dois anos de investigações com a infiltração policial, foram realizadas seis
ações controladas e 12 interceptações telefônicas.
Chendal e Isa
foram presos durante a Operação Brutium da PF, deflagrada com base nas
investigações do agente infiltrado, em 2022. Além deles, outros 17 criminosos
envolvidos no tráfico internacional de drogas foram detidos. Do total, 14
residiam no litoral paulista — nove, no Guarujá.
Fonte:
Metrópolis- Por Alfredo Henrique
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