No âmbito da Aliança, os participantes trocarão informações
para proteger portos, mapear rotas e desmantelar redes criminosas
A União Europeia
(UE) lançou na última quarta-feira (24) em Antuérpia, na Bélgica, a principal
porta de entrada de cocaína no continente, uma "Aliança de Portos".
O lançamento da
plataforma, em cooperação com a presidência belga do Conselho da União Europeia
(UE), tem como propósito melhorar a coordenação de informação entre os 27 portos
da UE para combater o tráfico de droga e o crime organizado, que costumam
utilizar os portos dos países europeus como plataformas para continuar a
atividade criminosa, aproveitando lacunas e um sistema altamente complexo.
“Baseada no
entendimento das debilidades existentes, a Aliança Europeia de Portos procura
mobilizar a comunidade aduaneira para melhorar a antevisão de riscos e controle
de alvos. Secundariamente, a aliança quer reforçar a coordenação das
investigações das autoridades policiais a grupos organizados por detrás do
tráfico de estupefacientes em larga escala”, dá conta uma nota divulgada a antever
o lançamento desta aliança. Esta parceria já é aplicada nos portos de
Antuérpia, Roterdan, nos Países Baixos, e Hamburgo, na Alemanha.
"Para combater uma
rede, precisamos formar outra rede. Medidas contra criminosos tomadas em um
único porto apenas deslocarão o tráfico para outros portos", afirmou a
Comissária Europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson.
A cocaína procedente
da América Latina inunda o mercado europeu. As apreensões disparam, mas
"os preços [de venda] nas ruas caem, o que demonstra que esta droga está
muito presente", disse a comissária sueca.
A Aliança Europeia
de Portos pretende criar uma parceria entre autoridades portuárias, alfândegas,
polícia e empresas de transporte marítimo. No lançamento, estiveram
representados 16 dos principais portos de contêineres europeus, incluindo os de
Roterdã (Países Baixos-Holanda), Hamburgo (Alemanha), Algeciras (Espanha),
Marselha (França) e Antuérpia (Bélgica).
"A complexidade
do panorama criminoso tem aumentado. É óbvio que não seremos capazes de ter
sucesso se nos concentrarmos apenas no âmbito nacional", sublinhou a
ministra do Interior belga, Annelies Verlinden, cujo país detém a presidência
do Conselho da UE, durante o evento que contou com a presença de ministros
europeus.
Os grandes portos
são alvo de máfias locais, que não hesitam em subornar estivadores, agentes
portuários ou caminhoneiros, funcionários da alfândega e às vezes policiais,
para facilitar a recuperação de drogas nos contêineres.
Recorde de apreensões no Porto de Antuérpia
No Porto de
Antuérpia as apreensões bateram um novo recorde, com 116 toneladas
interceptadas em 2023. A cidade é regularmente abalada pela violência ligada a
quadrilhas que lutam pelo controle do tráfico e sua grande movimentação
financeira.
"Agora que a
Antuérpia está intensificando a luta contra as drogas, parece que o tráfico
também se dirige para portos menores. Por exemplo, há indícios de que mais
carregamentos estão chegando a Helsingborg, na Suécia", disse Verlinden à
AFP.
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O mesmo fenômeno é
observado na saída das drogas da América Latina, segundo ela: depois que
medidas foram tomadas nos portos colombianos, o de Guayaquil, no Equador,
tornou-se o principal ponto de exportação para a Europa da cocaína produzida na
Colômbia e no Peru.
Na UE, quase 70% das
apreensões de drogas efetuadas pelas alfândegas ocorrem nos portos.
"Precisamos de
mais cooperação, não só com a polícia e as alfândegas, mas também com os
empresários nos portos", sublinha Ylva Johansson. O fenômeno da corrupção
nos portos ligado ao tráfico de drogas "também é um risco para o comércio
legal, por isso ninguém quer isso", insiste.
Para o ministro do
Interior francês, Gérald Darmanin, é crucial ter o mesmo nível de segurança em
todos os portos da UE, a fim de respeitar a "concorrência leal", uma
vez estes controles levam tempo e podem atrasar a atividade comercial e
enfraquecer a atratividade econômica de um porto.
No âmbito da
Aliança, os participantes trocarão informações e melhores práticas para
proteger portos, mapear rotas usadas pelos traficantes e desmantelar redes
criminosas.
"Precisamos de
mais cooperação, não apenas com a polícia e com as alfândegas, mas também com
os atores privados nos portos", defendeu Johansson.
O fenômeno da
corrupção ligada ao narcotráfico nessas infraestruturas "também é um risco
para o comércio legal" e "ninguém quer isso", acrescentou.
Dentro desta
aliança, os participantes vão trocar informações e boas práticas para aumentar
a segurança nos portos, mapear fluxos e desmantelar redes criminosas.
A UE vai aportar 200
milhões de euros (cerca de 1 bilhão de reais) para que os serviços de alfândega
adquiram equipamento moderno para escanear contêineres.
Além da chegada de
contêineres aos grandes portos do norte da Europa, outra modalidade operacional
consiste no envio das drogas para o norte ou oeste da África, onde são
colocadas em embarcações menores que costumam levar essa carga para a costa de
Espanha, explicou a comissária europeia.
Junto com a cocaína,
as autoridades públicas se preocupam com o aumento do tráfico de drogas
sintéticas.
O ministro do
Interior da França, Gérald Darmanin, destacou que entorpecentes como as
anfetaminas ou o ecstasy "estão fazendo nascer uma nova rede criminosa
europeia". Nesse sentido, fez um apelo por uma estratégia comum
"especialmente para evitar que o fentanil chegue à Europa".
Este potente opioide
sintético, fabricado com componentes muitas vezes importados da China, causa
dezenas de milhares de overdoses todos os anos nos Estados Unidos, onde foi introduzido
por cartéis mexicanos.
Embora a presença do
fentanil na Europa seja "muito fraca" por enquanto, Johansson
destacou que muitas outras drogas sintéticas são fabricadas na UE, que é um
"exportador líquido para o resto do mundo".
"Desmantelamos
400 laboratórios todos os anos, é algo que realmente me preocupa",
declarou a comissária, alertando que os traficantes europeus adquiriram dos cartéis
mexicanos o conhecimento necessário para produzir fentanil”, disse Gérald
Darmanin.
* (Com informações
da AFP)
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