O
governo francês anunciou medidas para lutar contra o tráfico. Entre elas, o Porto
de Dunquerque, contará com uma brigada de 24 funcionários aduaneiros
Os principais portos franceses se transformaram em
pontos de entrada de droga na Europa, principalmente de cocaína. O governo
francês anunciou no dia 8 de dezembro, medidas para lutar contra o tráfico que,
segundo o especialista Michel Gandilhon, não serão suficientes.
O governo francês anunciou que quer fortalecer a luta
contra o tráfico nos portos franceses. O ministro delegado do Tesouro francês e
encarregado das alfândegas, Thomas Cazenave, esteve no porto de Dunquerque, o
terceiro do país, no norte da França (a aproximadamente 300 km de Paris), e
anunciou um reforço com a contratação de 25 agentes alfandegários
suplementares, aquisição de 10 scanners móveis e uma formação para lutar contra
a corrupção entre os funcionários dos portos.
Para Michel Gandilhon, especialista associado ao
departamento de Segurança e Defesa do Cnanm (Consertorio Nacional das Artes e
Profissões), membro do conselho de orientação cientifica do ObsCl (Observatorio
da Criminalidade Internacional) e autor do livro "Drugstore, drogue
illicite et trafic en France" (Drugstore, droga ilícita e tráfico na
França), as medidas anunciadas não estão à altura do problema.
O especialista explicou à RFI que a maior parte da
cocaína que entra atualmente na Europa passa pelos portos e o canal preferido
dos traficantes passou a ser "o contêiner".
Na França, a atividade em geral nos portos
aumentou, devido a uma saturação de outras entradas europeias como Antuérpia,
na Bélgica, e Roterdã, na Holanda. O porto de Dunquerque triplicou o número de
contêineres descarregados em seus cais entre 2010 e 2022, passando de 250.000 a
754.000 de acordo com dados publicados no jornal Le Parisien.
O aumento da atividade faz com que o interesse do
crime organizado por esses pontos de entrada aumente e que estejam sujeitos ao
tráfico.
Ainda é difícil afirmar que os portos franceses são
mais utilizados que antes pelos traficantes de droga, mas as estatísticas
mostram que as apreensões aumentaram. "Sobretudo no porto da cidade do
Havre. Há 10 anos, em 2021, era apreendida uma centena de quilos de cocaína. Em
2021, foram apreendidas 10 toneladas", salienta Gandilhon.
Além do porto do Havre, a aproximadamente 200 km a
noroeste de Paris, e de Dunquerque, outro porto usado para entrada de droga é o
de Marselha, no sul da França.
"O tráfico está aumentando porque a produção
de cocaína quintuplicou na Colômbia, principal produtor da droga. Alcançamos
atualmente níveis recordes, então tem mais cocaína que passa (pelos
portos)", diz. Além disso, o trabalho da polícia se intensificou. "E
como os serviços de polícia e as alfândegas são cada vez mais orientados para a
questão dos portos, descobrimos cada vez mais cocaína", diz.
Corrupção
De acordo com uma nota da alfândega francesa obtida
pelo jornal Le Parisien, "diversas redes criminosas do Havre têm como
patrocinadores regulares membros da Mocro Maffia", uma quadrilha holandesa
poderosa e violenta, mandante de uma dezena de assassinatos nos Países Baixos,
entre eles a de um jornalista, e de uma tentativa de sequestro do ministro da
Justiça belga.
O mesmo documento afirma que a corrupção nos portos
seria "subestimada" e revela diversas atividades ilegais, como fugas
de informação sobre controles planejados, inspeções de carregamentos canceladas
ou voluntariamente negligenciadas, permissão de acesso a zonas específicas, deslocamento
de carregamento, impedimento de investigações e de procedimentos judiciais.
O ministro Thomas Cazenave anunciou planos de
formação de agentes públicos para lutar contra a corrupção. Mas de acordo com
Michel Gandilhon, "não são somente os agentes das alfândegas que são
corruptos, são sobretudo os trabalhadores dos portos, porque a cocaína é
desembarcada sobretudo pelos trabalhares portuários, a profissão alvo dos
traficantes", explica.
"Hoje sabemos que um trabalhador do porto que
sai com um saco de um quilo de cocaína pode ser remunerado em até € 1.000
(R$ 5.300), um operador de guindaste que vai mover um contêiner pode receber
várias dezenas de milhares de euros, assim como uma pessoa que realiza um
trabalho técnico e que pode recrutar um traficante ou um cúmplice de
traficantes para trabalhar no porto", afirma.
Além do pagamento de propina, existe também pressão
feita por grupos criminosos sobre os trabalhadores. "Ainda que o dinheiro
seja o principal motivador, existem também pressões, chantagens, ameaças sobre
familiares. Então, eventualmente, e tivemos exemplos, recentemente, de casos de
trabalhadores que não queriam colaborar e foram ameaçados de sequestros ou
torturados. Então as pressões exercidas pelas quadrilhas são intensas sobre
estas pessoas", diz.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários publicados não representam a opinião do Portal Segurança Portuária Em Foco. A responsabilidade é do autor da mensagem. Não serão aceitos comentários anônimos. Caso não tenha conta no Google, entre como anônimo mas se identique no final do seu comentário e insira o seu e-mail.