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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

OPERAÇÃO DESARTICULA FACÇÃO ENVOLVIDA NO TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS

 

De acordo as investigações, a cúpula da organização movimenta anualmente cerca de R$ 100 milhões

O Ministério Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), e a Polícia Militar (PM) prenderam quatro integrantes de uma organização criminosa durante a segunda fase da Operação Sharks, deflagrada na última terça-feira (12) para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro usado por facções.

A ação é um desdobramento da primeira fase da operação, concluída em 2020. A partir dela, foram cruzados diversos dados para chegar até os alvos, mirando os principais líderes. 

Durante a operação foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão em São Paulo. E quatro mandatos de busca e apreensão na Bahia, na cidade de Planalto, na região de Vitória da Conquista, com o apoio do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar da Bahia e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Também foram cumpridos três mandatos de prisão, que resultaram na apreensão de um revólver calibre 257 com quatro munições, de R$ 65,6 mil reais, de 4.268 dólares e de 2.745 euros, além de 35 relógios de luxo e diversos aparelhos celulares, notebooks, pen drives e cartões bancários.

Investigações levaram à Segunda fase

A Operação Sharks, com a primeira etapa concluída em setembro de 2020, teve início o trabalho desenvolvido por oito promotores de Justiça a partir de investigações conduzidas com o cruzamento de dados múltiplos, mirando integrantes dos principais escalões da organização.

De acordo com a decisão judicial da denúncia oferecida pelos promotores, este núcleo usava, entre outras, empresas do ramo de cosméticos, imobiliário e farmácia, para a lavagem do dinheiro.

Segundo o Gaeco, foram movimentados mais de R$ 100 milhões desde 2020, valores oriundos do tráfico de drogas e da arrecadação entre seus membros, com controle rigoroso em planilhas.

O promotor Fábio Bechara, especialista em lavagem de dinheiro, explicou que o Brasil tem fragilidades que favorecem o branqueamento de capitais.

— A facilidade com que se abre e fecha empresas e a dificuldade de se verificar documentos públicos e privados facilitam o crime — ponderou.

SAIBA MAIS: INVESTIGAÇÕES DO GAECO APONTAM ATUAÇÃO DO PCC NO TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS

Alvos da operação

A Operação teve como alvos familiares de laranjas de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, e Odair Lopes Mazzi Júnior, o Dezinho.

Segundo as investigações, os presos atuavam como "laranjas". Dois deles foram presos em flagrante, um por posse ilegal de arma de fogo e outro com munições". Os outros foram presos durante cumprimento de mandado judicial.

Tuta

Tuta foi o principal líder da organização criminosa até julho de 2019. Depois disso, foi excluído da facção. As causas foram explicadas em uma mensagem conhecida como “salve”, em que os membros diziam que sua “expulsão foi por má condução” e “falta de responsabilidade”. Promotores e policiais chegaram a achar que ele havia sido assassinado, hipóteses nunca confirmadas.

— Não temos essa confirmação. Sabemos que ele pode estar na Bolívia e que os laranjas dele continuaram a operar — afirmou o promotor público do Gaeco, Lincoln Gakiya.

Gakiya frisou que os denunciados pela operação já estão presos ou permanecem foragidos. "Nós visamos a asfixia financeira da organização, então nós estamos atacando o patrimônio formado pelo núcleo de dois chefes".

Consta na decisão judicial que Tuta, teria estruturado uma organização externa à lavagem dos valores por ele “obtidos ilicitamente, com a utilização de dois ‘testes de ferro’ que atuavam na negociação de imóveis, na compra e administração de empresas e na transferência bancária de valores”.

Os operadores financeiros de Tuta são, segundo o documento, Dário Alencar Pereira e Márcio Roberto de Souza Costa. A Justiça de São Paulo decretou a prisão de ambos.

Pereira, ex-diretor da Otrantur, empresa que era responsável pelo transporte coletivo em São Vicente (SP), foi preso em Praia Grande, no litoral de São Paulo, e Costa, na capital.

Segundo o promotor do Gaeco “há acusações fortes” de que os investigados estão desviando dinheiro do crime organizado, pelo patrimônio vultoso que acumularam em pouco tempo.

— Esse pessoal saiu do sistema penitenciário sem recursos, e hoje são donos de patrimônio específico. Fazem viagens para o exterior, andam de jato particular, executivo. Tudo às custas da facção. Enquanto isso, presos que estão no sistema não desfrutam do mesmo luxo. Isso tem gerado revolta, inclusive contra essas lideranças — disse o promotor.

Dezinho

Dezinho foi preso em julho deste ano enquanto estava em um resort de luxo na praia de Carneiros, em Pernambuco. De acordo com as investigações, ele ocupa uma das mais altas posições na facção, sendo o responsável por gerenciar parte do tráfico de drogas do exterior para o Brasil. Ele também atuava em esquemas para lavagem de dinheiro. Com o denunciado, as autoridades apreenderam documentos de identificação falsos, cartões de crédito e celulares.

Segundo o MPSP, Dezinho seria responsável por coordenar o tráfico internacional de drogas do PCC e esteve à frente do envio de R$ 1,2 bilhão para o Paraguai em 2019, através do esquema de “dólar cabo”, técnica de lavagem de dinheiro.

Atualmente, ele está na capital e será transferido para a Penitenciária de Venceslau, no interior de São Paulo. O terceiro mandado desta fase dos Sharks é contra Júnior.

MPSP mirou esposas de chefões do PCC

Segundo o site Metrópolis, documentos sob sigilo, obtidos pelo site, mostram que o MPSP chegou a pedir à Justiça a prisão preventiva de Carolina Mazzi de Aquino Lopes, a esposa de Dezinho, suspeita de comprar imóveis e usar empresas de fachada para esquentar recursos. Com a mulher, os policiais apreenderam joias e relógios de luxo, avaliados em R$ 2 milhões. Ela alega inocência.

Também houve pedido de prisão contra Adriana Cristina dos Santos, a mulher de Tuta, que é acusado de usar uma incorporadora, farmácias e padarias para lavar dinheiro do tráfico de cocaína. A promotoria conseguiu o sequestro na Justiça de quatro imóveis na capital e no litoral paulista, ligados ao criminoso.

Ainda de acordo com a investigação, o capital ilícito era usado para abrir negócios no nome da sua mulher e de outros laranjas. À Justiça, a promotoria pediu que oito empresas que têm participação de Carolina, incluindo clínicas de bronzeamento, tivessem as atividades econômicas suspensas. Apenas um dos pedidos foi acolhido.

O MPSP aponta que Carolina comprou um apartamento, na Rua Voluntários da Pátria, em Santana, na zona norte da capital paulista, por R$ 501,4 mil. Inicialmente, ela teria tentado pagar o valor em espécie, mas a construtora recusou a transação. O casal também é proprietário de um Volvo X60, um Jeep Compass e uma Land Rover Freelander, segundo a promotoria.

Outro indício de lavagem de dinheiro é uma reforma de R$ 100 mil em uma clínica de estética de Carolina, aberta em junho de 2020, com valores quitados por transferência eletrônica e dinheiro vivo. Só com cadeiras para o espaço, ela teria gastado R$ 22,7 mil.

O pedido de prisão preventiva da mulher de Dezinho foi recusado pelo juiz Thiago Baldani Gomes de Filippo, 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). O magistrado, no entanto, autorizou buscas e apreensões nos endereços.

Na decisão, o juiz ponderou que o encarceramento de Carolina, que não tem antecedentes criminais, seria desnecessário – apesar de haver indícios de ela ter “prestado relevantes contribuições às práticas criminosas voltadas ao branqueamento do capital ilícito angariado”.

“Ao menos em tese, a prisão de seu esposo teria o esperado efeito inibidor em relação a ela”, escreveu Thiago Baldani Gomes de Filippo. Já a nova prisão preventiva de Dezinho foi autorizada pelo juiz.

Família de Tuta

Gomes de Filippo autorizou, ainda, buscas em endereços ligados a Tuta. O traficante chegou a ocupar o posto de número um do PCC nas ruas em 2020, mas o MPSP acredita que ele tenha sido expulso da facção, por suposto desvio de dinheiro.

Na nova investigação, o MPSP pediu a prisão de 15 pessoas ligadas ao traficante – incluindo a sua mulher, Adriana Cristina dos Santos. O juiz, no entanto, rejeitou a maioria dos pedidos e decidiu decretar duas delas: Dario Pereira Alencar e de Márcio Roberto de Souza Costa, considerados os “principais operadores” de Tuta, de quem obedeceriam ordem direta.

Segundo a promotoria, Tuta constituiu empresas no nome da mulher e de cunhados para lavar dinheiro. Já Dario Pereira e Marcio Roberto eram “‘testas de ferro’ na negociação de imóveis, na compra e administração de empresas e na movimentação bancária de valores”, com uso de fintechs (empresas de tecnologia financeira).

O esquema envolveria até o uso do dinheiro do tráfico para comprar imóveis e depois “revender” para integrantes do grupo. A investigação também identificou uma chácara em Araçatuba, no interior paulista, que foi adquirida por Dario e repassada depois para o nome de filhos de Tuta.


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