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terça-feira, 6 de junho de 2023

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MERGULHADORES DA COCAÍNA: NOVA TÁTICA DO TRÁFICO PRODUZ LUCRO E MORTES

 

A estratégia é cheia de riscos e, segundo a Polícia Federal (PF), já acabou até em morte

A participação de mergulhadores profissionais para auxiliar o tráfico de drogas internacional surpreende especialistas, que consideram a tática uma nova modalidade dentro organizações criminosas. A estratégia é cheia de riscos e, segundo a Polícia Federal (PF), já acabou até em morte.

Quatro suspeitos foram alvos de mandados de prisão preventiva da PF em uma operação realizada nodia 24 de maio, sendo que dois eram mergulhadores. Eles integravam o grupo criminoso e eram responsáveis por ocultar a droga nos cascos dos navios. Mais de 1.470 kg de cloridrato de cocaína foram apreendidos e tinham como destino o continente europeu.

Como os mergulhadores agem

Caixa do mar: O transporte ilegal das drogas é feito na parte traseira das embarcações, que em sua grande maioria têm duas "caixas de mar", uma na lateral e outra na parte de baixo.

Existe um sistema dentro dessas caixas com bombas que sugam água do mar: Ela serve para resfriar os motores.

Mergulho e amarração: Quando há caixa com a bomba desligada, esses mergulhadores descem, abrem as grades, amarram os pacotes de cocaína com cordas e cabos, fecham, e fogem em seguida. Durante esse processo, muitos acabam até morrendo, de acordo com a Polícia Federal — que não deu detalhes de quantas pessoas teriam morrido neste tipo de ação, nem quando.

Mergulhadores do tráfico escondem cocaína em navios de carga

'Método inovador'

Há quase 15 anos, a professora Carolina Grillo, coordenadora do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense) do Rio de Janeiro, estuda o Comando Vermelho e sua forma de atuação. O uso de mergulhadores e a forma como essas drogas estavam sendo transportadas é uma nova aposta das organizações criminosas:

"As formas mais comuns são transportar as drogas pelos aeroportos, veleiros e dentro de contêineres, mas transportar nos cascos das embarcações e com o auxílio de mergulhadores, parece ser um método inovador. Eles criam esquemas com essas pessoas, com funcionários e agentes de fiscalização desse porto para que esse transporte.

A Polícia Federal investiga o grupo desde agosto de 2021, quando teve acesso a uma gravação com câmera térmica no Porto do Rio. Um mergulhador e um homem foram presos. O grupo é apontado por ter ligação com o Comando Vermelho, mas a professora explica que essas facções poderiam estar trabalhando em parceria, devido ao nível de complexidade da operação.

"Nesse nível de escala internacional, que tenha contatos com a Europa, são redes operadas principalmente por grupos estrangeiros ou de famílias de classe média alta que operam essas redes do Brasil e que possuem conexões com mais de uma facção para viabilizar isso, como o PCC", diz Carolina.

A professora acredita que essas drogas são oriundas da Colômbia e do Peru. Elas passam pelo Brasil, que é um entreposto importante, antes de seguir para a Europa: "As margens de lucro são muito maiores no exterior, então esses grupos precisam ter contatos fortes para essa revenda e se tiver algum contato que se responsabilize para fazer esse transporte dentro do país, já é uma vantagem para eles".

Lucro no atacado

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), Bruno Paes Manso explica que o tráfico dos anos 1980 e dos anos 2000 está muito ligado ao varejo da droga, a venda nas cidades. Com o desenvolvimento nos últimos 40 anos de tráfico, esses grupos, tanto o PCC quanto o CV, perceberam que o maior lucro estava ligado a essa venda para o exterior, então o Brasil passou a ser um caminho de distribuição, uma espécie de "corredor das drogas".

"Essa exportação da droga faz com que esses grupos se tornem mais especializados, envolve cada vez mais dinheiro e seduz cada vez mais profissionais de diferentes áreas. Só que agora o dinheiro é o dólar. Fica mais interessante", explicou o pesquisador ao UOL.

O uso de mergulhadores também foi uma novidade para o professor, que nunca tinha visto esse modo de atuação. Ele cita um relatório da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) que mostra que o quilo da cocaína fora do Brasil chega a US$ 80 mil (R$ 400 mil) e no mercado interno, dentro do país, US$ 8 mil (R$ 40 mil).

"Eles vão descobrindo maneiras de fazer essas ofertas, de burlar o sistema. A droga na comunidade envolve muita violência e muita notícia, afeta o cotidiano na cidade e é o que chama mais atenção, mas o que envolve o dinheiro grosso é o tráfico internacional, que envolve doleiros, advogados, offshores, ou seja, o buraco é mais em cima", diz o pesquisador.

Fonte: Daniele Dutra / UOL


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