Operação
Downfall contou com a participação da Receita Federal e da Polícia Civil do
Paraná
A Polícia federal
(PF) deflagrou na semana passada, quinta- feira, 4 de maio, a Operação
Downfall, que é resultado de uma Força-tarefa com a participação da Receita
Federal do Brasil (RFB) e da Polícia Civil do Paraná (PCPR) e teve como foco
inicial a investigação de fatos criminosos como homicídios, tráfico
internacional de drogas e organização criminosa.
O objetivo foi
reprimir e desarticular uma organização criminosa (Orcrim) especializada no
tráfico internacional e interestadual de drogas com diversas ramificações no
país.
Cerca de 350
policiais federais, 130 policiais civis e 25 auditores da RFB foram as ruas
para dar cumprimento a 30 mandados de prisão preventiva e 87 mandados de busca
e apreensão em endereços situados nos Estados do Paraná, Santa Catarina, São
Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Goiás e Espírito Santo.
Também foram decretadas
medidas patrimoniais de sequestro de imóveis, bloqueio de bens e valores
existentes nas contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados, que
totalizam um valor estimado de aproximadamente R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão
de reais).
Investigação
A PCPR iniciou a
investigação para apurar crimes de homicídios que vinham ocorrendo em Paranaguá
e constatou que o aumento da violência estava relacionado a disputa pelo
controle do tráfico de drogas no local.
Na ocasião,
verificou-se que um dos criminosos mais procurados do Estado, com extensa ficha
criminal e registros por diversos crimes, como tráfico de drogas, associação
para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo e organização criminosa, seria o
responsável por financiar esses homicídios, fornecendo armas e munições para
execução de integrantes de grupos rivais.
Esse indivíduo
estava foragido desde 2016, em virtude de três mandados de prisão expedidos
pela Justiça Estadual do Paraná, mas foi preso em 16 de agosto de 2021 com
documentos falsos em uma clínica de cirurgia plástica em São Paulo, em ação
coordenada pela PCPR.
A investigação
constatou a relação direta da organização criminosa com o aumento da violência
em Paranaguá e no litoral, sendo responsável, inclusive, por um atentado com incêndio
de dois veículos na Delegacia de Polícia de Matinhos em 16 de abril de 2020,
demonstrando o altíssimo grau de periculosidade da organização criminosa.
Esses veículos
estavam envolvidos em um duplo homicídio a tiros de fuzil calibre 556, pistola
9 mm e espingarda calibre 12 ocorrido em Matinhos, no dia 13 de abril de 2020.
Durante a
investigação constatou-se que além de sua atuação no tráfico interno e outros
crimes, como homicídios, o líder da organização criminosa também atuava no
tráfico internacional de drogas, desencadeando um trabalho conjunto entre a
PCPR e a Polícia Federal.
Na RFB, os
trabalhos tiveram início após diversas apreensões ocorridas no Porto de
Paranaguá e que tinham os portos de Roterdam, Antuérpia e Algeciras como
destino.
As investigações
revelaram que a Orcrim, constituiu uma complexa estrutura logística para
operacionalizar as ações de narcotráfico interestadual e internacional, que
abrange desde a produção da droga no exterior, seu posterior ingresso e
transporte dentro do território nacional, distribuição interna, preparação e o
envio dos carregamentos de cocaína para o exterior utilizando principalmente o
modal marítimo.
Foram
identificadas diversas apreensões de carregamentos de cocaína vinculados a atuação
desta Orcrim e, por meio de um trabalho conjunto entre a PF e a PCPR, também
foram realizadas prisões em flagrante e apreensões de droga no decorrer da
investigação, totalizando aproximadamente 5,2 toneladas de cocaína.
Cumprimento de mandados
No final da manhã
do dia da operação, a PF informou ter cumprido 26 mandados de prisão preventiva
e efetuado três prisões em flagrante. Como um deles estava com mandado de
prisão em aberto, o total de presos estava em 28 pessoas. Havia, ainda, três
foragidos. Doze veículos já tinham sido apreendidos, além de armas, drogas e
joias.
Os mandados de
busca e apreensão foram cumpridos no Paraná – nas cidades de Curitiba (10),
Matinhos (1), Morretes (2), Pinhais (1), Ponta Grossa (4), Pontal do Paraná (2)
e São José dos Pinhais (1) – e em São Paulo, nos municípios de Araçatuba (1),
Bady Bassit (3), Diadema (1), Guarujá (1), Santana do Paranaíba (1), São
Bernardo dos Campos (3), São José do Rio Preto (5), São Paulo (3) e Sud
Mannucci (1).
Em Guarujá, no
Jardim Acapulco, condomínio fechado de alto padrão a Polícia Federal (PF) apreendeu
um carro de luxo, um quadriciclo e uma moto aquática. Os veículos foram levados
para a Delegacia da PF no Centro de Santos.
“Em Santa
Catarina, em Balneário Camboriú (4), Itajaí (3), Itapema (17), Joinville (1),
Penha (1), Porto Belo (3), São Francisco do Sul (1), Tijucas (2). No Mato
Grosso do Sul, nas cidades de Campo Grande (2) e Dourados (4). No Espírito
Santo, Vila Velha (1). No Mato Grosso, Cuiabá (1). Em Goiás, em Goiana (1). No
Rio de Janeiro, em Niterói (1)”, detalhou a PF.
Segundo a PF, os
policiais apreenderam 36 veículos, armas, joias, mais de R$ 2,1 milhões em
espécie, US$ 126 mil, R$ 228.170,46 em cheques, além de 210 kg de cocaína.
De acordo com a
PC-PR, também foram decretadas medidas patrimoniais de sequestro de imóveis,
bloqueio de bens e valores e aplicações financeiras em um valor estimado em
mais de R$ 1 bilhão.
Outros Crimes
Além do esquema
de narcotráfico, alguns dos seus integrantes também estão envolvidos com outras
práticas criminosas, como homicídios e o tráfico de armas de fogo, munições e
acessórios.
As investigações
revelaram ainda que lideranças dessa Orcrim empregavam diversas metodologias
para ocultar e dissimular a procedência ilícita dos valores obtidos a partir do
narcotráfico.
Lavagem de Dinheiro
Nas investigações,
apurou-se que o principal esquema financeiro para promover a lavagem do
dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas era o investimento no
setor imobiliário do litoral de Santa Catarina, com aquisição de apartamentos
de alto padrão e financiamento de outros empreendimentos.
As construtoras e
empresas do setor envolvidas no esquema também foram alvos da ação, pois, de
acordo com a investigação, elas são suspeitas de realizarem negócios jurídicos
fraudulentos ou não declarados.
Segundo a PF, há indícios
de que seus representantes tinham conhecimento da procedência ilícita dos
valores que subsidiaram as transações. As investigações também constataram
pagamentos de imóveis de luxo com altas quantias de dinheiro em espécie sem a
devida comunicação aos órgãos competentes, bem como a utilização de interpostas
pessoas para ocultar a identidade do real adquirente.
A Força-Tarefa irá
avaliar a partir de agora se proprietários de construtoras e incorporadoras
contribuíram para a ocultação da verdadeira propriedade de bens pertencentes à
organização criminosa e que de fato foram adquiridos com recursos ilícitos.
Serão verificadas
as declarações referentes às operações de construção, incorporação, loteamento
e intermediação de aquisições/alienações, envolvendo imóveis adquiridos pelos
investigados. A DIMOB (Declaração sobre Operações Imobiliárias) é obrigatória e
todas as pessoas físicas ou jurídicas que realizem as citadas operações devem
entregá-la no ano em que ocorrerem a contratação de serviços ou a compra/venda
de imóveis.
O mesmo ocorre
com os recebimentos em “espécie” que devem ser comunicados através da
Declaração sobre Operações em Moeda em Espécie – DME. A ausência dessas
comunicações, aliada à falta de registros contábeis das transações por parte do
vendedor, pode caracterizar o auxílio material para a prática do crime de
lavagem ou ocultação de bens e sujeitar os responsáveis também às penas
cominadas a este crime.
Penas
Os investigados
nesta operação responderão, cada qual dentro da sua esfera de responsabilidade,
pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de drogas e
associação para fins de tráfico, com penas que podem chegar a 50 anos de
reclusão, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro, com penas que podem
chegar a 10 anos de reclusão por cada ação perpetrada.
Nome da operação
O nome da
operação “Downfall” faz alusão à efetiva desarticulação estrutural e financeira
da Organização Criminosa, resultado este que possível em razão da cooperação entre
as instituições.
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