Sensor
eletroquímico que detecta a droga é mais barata do que adquirir equipamentos de
cromatografia
Novo dispositivo
portátil, criado por pesquisadores da USP, utiliza um sensor eletroquímico para
detecção do cloridrato de cocaína, a droga em pó, pela polícia no local da apreensão.
Esse sensor é
capaz de detectar compostos químicos em uma amostra através de um sinal
eletrônico, e pode ser quantificado. O novo método possui alta sensibilidade e
seletividade, sendo uma alternativa, até mesmo econômica, para a Cromatografia
Líquida de Alta Performance (HPLC), método de análise utilizado hoje, com alto
custo e trabalhoso.
A criação do novo
dispositivo foi realizada pelo químico Alex Soares Castro, em sua tese de
doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
(FFCLRP) da USP, sob orientação do professor Marcelo Firmino de Oliveira. O
artigo Use of voltammetric and chemometric tools to develop a sensor in
forensic chemistry publicado no jornal científico Talanta Open descreve as
descobertas.
O dispositivo
O novo método de
análise portátil foi pensado unindo a voltametria, técnica eletroquímica capaz
de obter informações qualitativas e quantitativas de uma espécie química, e a
quimiometria – método estatístico utilizado para prever resultados de estudos
ou análises.
Castro comenta
que, quando são utilizadas técnicas voltamétricas para análise de moléculas
parecidas, se obtém perfis voltamétricos muito parecidos, então, para garantir
que a análise seja específica para a espécie química investigada, são
utilizadas as ferramentas quimiométricas.
No trabalho de
criação do dispositivo foi utilizado o cloridrato de cocaína, que é a droga
apreendida em formato de pó. Segundo Castro, para aumentar a quantidade, “fazer
volume” e atrapalhar a detecção pela polícia, alguns interferentes são
misturados à droga, como a teobromina, a lidocaína e a cafeína.
Para garantir a
precisão da análise com os sensores voltamétricos, foram utilizados programas
computacionais para agrupar resultados de diferentes moléculas e realizar um
modelo quimiométrico – padrão de medida – que possibilita prever com confiança
a molécula de cocaína.
Pedido de patente e estudos futuros
O autor do
trabalho diz que o pedido de patente já consta no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (Inpi). “O pedido de patente foi feito em cima da arquitetura do
sensor desenvolvido, porque assim é possível aplicar, com os devidos ajustes,
esse sensor não apenas na área forense, mas também em outras áreas como a
alimentícia, a farmacêutica, e afins”, comenta Castro.
A tecnologia
empregada no sensor está sendo aplicada em outros detectores forenses, como,
por exemplo, na linha de pesquisa para análise de resíduos de arma de fogo,
pelo Grupo de Eletroquímica, Eletroanalítica e Química Forense (GEEQFor),
coordenado pelo professor Marcelo Firmino de Oliveira, da FFCLRP da USP.
Alta demanda por agilidade e segurança
Combater o
tráfico de drogas não é uma tarefa fácil. A apreensão de cocaína no Estado de
São Paulo, no primeiro semestre de 2022, foi de mais de 11 toneladas, segundo
dados fornecidos pela Polícia Federal (PF). Esse número corresponde a
aproximadamente 25% do total apreendido no Brasil nesse período. No ano
passado, a apreensão total da droga foi acima das 93 toneladas, o que
corresponde a 24% do total apreendido no País.
Segundo Castro,
“a alta demanda por parte da polícia científica em ter sensores capazes de
identificar a substância no local de apreensão da droga” serviu de motivação
para a criação do dispositivo. A ideia surgiu, diz o pesquisador, a partir da
observação de um sensor de teor de glicose no sangue, que também é um sensor
eletroquímico, que fez o autor formular algo próximo a isso para análise de
cocaína.
As vantagens do
novo dispositivo são econômicas e práticas, uma vez que a produção do sensor é
bem mais barata do que adquirir equipamentos de cromatografia e não há
necessidade de um profissional qualificado no manuseio. Outra vantagem é a
possibilidade de realizar as análises in loco, ou seja, no local da apreensão.
“Quando você tem o sensor que eu propus, que utiliza a voltametria e a
quimiometria, só precisa apertar botão, ou seja, qualquer leigo consegue entender
o resultado”, afirma Castro.
Fonte: Jornal da USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários publicados não representam a opinião do Portal Segurança Portuária Em Foco. A responsabilidade é do autor da mensagem. Não serão aceitos comentários anônimos. Caso não tenha conta no Google, entre como anônimo mas se identique no final do seu comentário e insira o seu e-mail.