Anderson
Lacerda Pereira, conhecido como Gordão, era procurado desde 2017 e tinha o nome
na lista da Difusão Vermelha da Interpol
Um dos três traficantes mais procurados do Brasil,
segundo a Polícia Civil do Estado de São Paulo e apontado como colaborador
da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) foi preso.
Anderson Lacerda Pereira, conhecido como Gordão,
era procurado desde 2017 e tinha o nome na lista da Difusão Vermelha da
Interpol, a Polícia Internacional, desde 2020. Ele é acusado de enviar cocaína
para países da Europa e de fraudar compras públicas na área da saúde na Grande
São Paulo.
Ele ficou conhecido no mundo do crime em 2014,
quando intermediou a venda de cocaína entre Marcola, chefe do PCC, facção que
atua de dentro e fora dos presídios no país, e uma temida máfia italiana.
Segundo a polícia, Gordão ficou milionário e se
inspirava em traficantes internacionais, como o mexicano Amado Carrilo Fuentes
e o narcotraficante colombiano Pablo Escobar, seu maior ídolo.
O braço direito de Anderson, identificado como Jânio
Nascimento Barroso, 41 anos, também foi preso.
Notoriedade
Anderson Gordão ganhou notoriedade no mundo do
crime em 2014, ao intermediar a venda de cocaína da família de Marcola para a
máfia italiana. Em 2017, ele foi condenado por tráfico internacional de drogas.
Dois anos depois, ele entrou para a lista dos
criminosos mais procurados do mundo pela Interpol. Em junho de 2020, Gordão deixou
as pressas um de seus apartamentos antes da chegada dos policiais da operação
Soldi Sporchi (dinheiro sujo), mas o criminoso conseguiu fugir para a Bolívia, em
Santa Cruz de La Sierra, onde teria vivido por dois anos com outras lideranças do
cartel. A polícia também encontrou pistas de uma passagem dele pela cidade do
Recife.
Depois, voltou ao Brasil e permaneceu em Santos, no
litoral de São Paulo.
Investigação
Anderson Gordão foi investigado em 2014 na Operação
Oversea, deflagrada pela PF para combater as remessas de toneladas de cocaína
para a Europa, via Porto de Santos, e acabou condenado a sete anos de prisão
por tráfico internacional de drogas, mas ficou preso por sete meses.
Ele foi detido em 2010, na Operação Alquimia, da
polícia Federal, mas acabou solto antes de ser condenado por narcotráfico. O
mandado de prisão contra ele continua em aberto na Justiça Federal de Santos.
Segundo o delegado Paulo Eduardo Rabello, as
investigações que possibilitaram a prisão tiveram início em novembro de 2021. O
primeiro indício foi uma apreensão de pequenas quantidades de drogas, cadernos
dos traficantes e armas. Em julho a Polícia confirmou que as anotações
continham o nome de Jânio, que passou a ser monitorado.
Anderson, no entanto, era cuidadoso. Os dois
dificilmente eram vistos em público. Ele tomava algumas precauções até para
encontrar a mulher.
Para chegar a ele a polícia monitorou o dia a dia de
Jânio Nascimento Barroso que, segundo a investigação, seria o braço direito do
suspeito.
"Temos fotos, filmagens, inclusive vasculhamos
o lixo do Jânio, que continha embalagens com restos de cocaína", disse o
delegado.
Nos últimos meses, além de Jânio, a esposa dele
também começou a ser monitorada. Ela andava sempre com o mesmo carro importado,
e um funcionário.
Para não chamar a atenção dos investigadores, ele e
a esposa se hospedavam em motéis, onde muitas operações eram realizadas. Imagem
de monitoramento do último dia 15 de agosto, de um desses estabelecimentos, os
mostra entrando no local em um carro de luxo.
Em algumas ocasiões, os dois trocavam de
esconderijo. Mesmo assim, ele circulava em muitos municípios da região. "Ele
ficava muito em Poá, Itaquaquecetuba e Ferraz de Vasconcelos. Nesse local, ele
usou casas de amigos e parentes", disse um investigador da Polícia Civil.
De acordo com os investigadores, “Gordão” vivia em
uma casa de alto padrão num condomínio de Arujá, possui carros importados e
morava muito bem até o momento em que soube que estava sendo procurado.
A polícia encontrou a primeira pista de que o chefe
do tráfico estava na casa por meio de um papel com trecho de sua canção
favorita localizada no lixo.
"Ele gosta muito daqueles corridos, que são
aquelas músicas que os cancioneiros populares no México fazem para os
traficantes poderosos que dominam a região. A gente encontrou no lixo um dos
versos dessas canções", disse o delegado.
Os investigadores também notaram hábitos incomuns
no local, especialmente a movimentação de pessoas e veículos. "Eles também
tinham uma estranha troca de carros que acontecia dentro de imóveis".
Prisão
Na segunda-feira (5), a perseguição de cinco anos
finalmente chegou ao fim. A polícia conseguiu identificar Jânio como o homem
que colocava um saco de lixo cheio de pistas em frente da casa onde Anderson
vivia.
"Com provas reunidas e intensa vigilância, foi
possível localizar os dois suspeitos almoçando em um restaurante popular na
Avenida Antônio Massa, no bairro Vila Real, no centro de Poá. Eles foram presos
e conduzidos ao 103º DP, onde foi cumprido mandado de prisão contra o procurado
e ambos foram interrogados", diz o comunicado da pasta da Segurança.
"Ele estava acabando de pagar. Ele estava
pegando a refeição que levaria para casa. Quando foi apreendido, ele estava
usando máscara e confessou: 'Tudo bem, doutor. Eu sou o Anderson mesmo'".
Anderson Gordão responde a processo em Arujá pelos
crimes de lavagem de dinheiro, associação à organização criminosa e tráfico de
drogas.
Ao ser preso, a polícia confiscou seu celular e
encontrou mensagens de áudio que, de acordo com a corporação, revelam o modo
cruel como ele agia.
"Já pega ele e já sequestra, mano. Pega lá, o
carro bomba, atropela", disse Anderson em um plano para se livrar de um
inimigo. "Ele gravava tudo, fotografava tudo e guardava tudo isso em seus
dispositivos de mídia", afirmou Fernando Santiago, delegado da Polícia
Civil.
Propriedades
Investigações da polícia apontam que Anderson ficou
milionário com a vida ligada ao crime, e acumulou diversas propriedades,
criando um império de 86 imóveis por todo o país, avaliadas em mais de R$ 130
milhões no mercado. A maioria está em nome de sua mãe, Arlete, que só no estado de São
Paulo já figurou como proprietária de 20 propriedades. Ele também já teve 10
imóveis registrados em seu nome nos últimos anos. Foram identificados ainda
bens em nome de laranjas.
Ele teria comprado mais de 15 casas de alto padrão
em Arujá, também na região metropolitana de São Paulo, em nome de outras
pessoas. Em algumas dessas propriedades, havia bunker e túnel de fuga, além de
criação de animais como macacos, araras e jacarés.
Segundo a polícia, o sítio Guamuchilito, na cidade
de Santa Isabel, pertence ao traficante. O nome da propriedade é o mesmo da
cidade mexicana onde nasceu o traficante mexicano Amado Carrilo Fuentes, que
morreu em 1997, aos 41 anos, conhecido como senhor dos céus por ter uma frota
de aviões para transportar droga.
Neste sítio “Gordão” criava animais como macacos,
araras e jacarés. O sítio lembra a fazenda que Pablo Escobar, um dos
narcotraficantes mais conhecidos do mundo, tinha na Colômbia. Escobar morreu em
1993, aos 44 anos. No local, ele tinha hipopótamos, camelos e até elefante.
Pelo menos duas casas, apontadas como de
propriedade do traficante tinham bunkers, salas onde ele e os comparsas podiam
se esconder. Em um imóvel que estava em construção, a polícia encontrou não só
um bunker, mas um túnel no subsolo. Com 50 metros de comprimento, o túnel
serviria como rota de fuga e terminava do lado de fora do condomínio, em uma
área de mata.
Clínicas
De acordo com a polícia, “Gordão” é acusado de ter
montado mais de 30 clínicas médicas e odontológicas na Grande São Paulo, a
maioria em nome de laranjas. As investigações apontaram que elas eram usadas
para lavar dinheiro do crime, conseguir medicamento seguindo a lei, mas para
usar na produção de cocaína e socorrer criminosos feridos sem obrigação de
avisar a polícia.
Hospital
para integrantes do PCC
Segundo Josmar Josimo, em sua coluna no UOL, os investigadores
descobriram também que um dos hospitais montado por Anderson Gordão tinha como
objetivo atender integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) baleados em
confrontos policiais.
Um dos baleados socorridos foi Giovanni Barbosa da
Silva, 29, o Koringa, preso em 9 de janeiro de 2021 em Pedro Juan Caballero, no
Paraguai, na fronteira com Ponta Porã, município localizado em Mato Grosso do
Sul.
O criminoso tinha sido baleado na perna no dia 30
de novembro de 2017, após trocar tiros com policiais militares na Freguesia do
Ó, zona norte da capital. Ele foi levado por comparsas para o Hospital Vida
Mais Vida, em Arujá, a 47 km do local do confronto.
O hospital estava em nome de Gabriel Donadon
Loureiro Pereira, 27, filho de Anderson Gordão, procurado pela Justiça. O rapaz
responde ao mesmo processo que o pai, por lavagem de dinheiro, e também teve o
nome incluído na difusão vermelha da Interpol.
Infiltração
na Política
Segundo a polícia, mesmo enquanto estava foragido,
Anderson Gordão praticamente mandava na cidade de Arujá, na Grande São Paulo
No município, organizações sociais controladas pelo
traficante assinaram contratos de coleta de lixo e na área da saúde. Isso deu a
ele o controle do único hospital público da cidade, com R$ 77 milhões em verba
da prefeitura e esquema para uso de remédio em droga.
De acordo com investigação da polícia, a influência
mais direta de Anderson no poder público se estabeleceu após ele financiar a
campanha de 2016 do então candidato a vice-prefeito do município, Márcio José
de Oliveira (PRB). O financiamento teria sido feito após acordo entre os dois.
Contratos
fraudulentos
Testemunha que depôs à polícia afirmou que, em
2017, o traficante, que já era foragido da Justiça, exigiu os contratos da
saúde e da coleta de lixo após o resultado das eleições. Tratava-se de um
contrato sem licitação com organização social controlada por Gordão. Logo
começou a haver falta de medicamentos, insumos e alimentação para funcionários
do hospital da cidade.
Segundo a reportagem do Fantástico, a quadrilha de
Anderson responsável pela administração do hospital economizava nos custos e
distribuía o valor entre os criminosos. A economia resultava, inclusive, da
comida destinada aos funcionários.
As marmitas eram feitas de forma precária nos
fundos de uma casa do traficante. No local, a polícia encontrou baratas e
alimentos sem condições de armazenamento.
Remédio
com cocaína e R$ 77 milhões
Investigações da polícia também apontaram como
medicamentos eram desviados. O transporte era feito em caminhões de lixo, que
levavam os itens para uma mansão do traficante para depois serem misturados à
cocaína que ele vendia.
De janeiro de 2018 a janeiro de 2020, Anderson
Gordão recebeu R$ 77 milhões da Prefeitura de Arujá. Os contratos da área do
lixo e da saúde já não ficaram em vigor em 2020.
Ao menos 20 pessoas foram presas após as
investigações, incluindo um policial civil. Outros quatro policiais eram
investigados pela Corregedoria do órgão por suspeita de extorquir integrantes
da quadrilha.
O então vice-prefeito de Arujá chegou a ficar preso
por 13 dias. Depois, Márcio José Oliveira respondia em liberdade por lavagem de
dinheiro e participação em organização criminosa. A defesa dele não quis
comentar à época.
Já o então prefeito, José Luiz Monteiro (MDB), não
foi investigado naquela época e não quis gravar entrevista. O advogado dele
disse que faria esclarecimentos nos autos.
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