Fábio
Dias dos Santos, de 35 anos, estava preso na Penitenciária 2 de Presidente
Venceslau (SP). Ministros entenderam que houve excesso de prazo da prisão
preventiva
A Sexta Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a soltura do traficante Fábio
Dias dos Santos, de 35 anos, conhecido como Gordão. Apontado como um dos
principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que
atua dentro e fora dos presídios de São Paulo, ele estava preso na
Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2, em Presidente
Venceslau (SP), e deixou a unidade na sexta-feira, dia 26 de novembro, dia em
que o habeas corpus foi concedido.
A decisão foi
tomada de forma unânime porque os ministros entenderam que houve excesso de
prazo da prisão preventiva e porque não existe uma sentença condenatória
definitiva. Dessa forma, o réu tem o direito de aguardar em liberdade o
julgamento da apelação.
O ministro
relator Rogérgio Schietti Cruz explica que "caberia ao Tribunal de origem
demonstrar, ainda que minimamente, as razões pelas quais a prova juntada aos
autos pela defesa teria caráter manifestamente protelatório ou meramente
tumultuário, o que, contudo, não ocorreu".
"Uma vez que
se reconhece a nulidade do acórdão da apelação, com a determinação de que seja
realizado novo julgamento, configurado está o apontado excesso de prazo na
custódia cautelar, que perdura há mais da metade do tempo pelo qual foi o
paciente condenado (12 anos de reclusão)", fala.
Por fim, Cruz
afirma que "diante do excesso de prazo identificado na espécie, fica
relaxada a prisão preventiva do paciente, assegurando-lhe o direito de aguardar
em liberdade o novo julgamento da apelação, se por outro motivo não estiver ou
não houver a necessidade de ser preso, ressalvada, ainda, a possibilidade de
nova decretação da custódia cautelar, caso demonstrada a superveniência de
fatos novos que indiquem a sua necessidade, sem prejuízo de fixação de medida
cautelar alternativa, nos termos do art. 319 do CPP".
O g1 encaminhou
uma mensagem ao advogado Felipe Fontes dos Reis Costa Pires de Campos, que atua
na defesa de Gordão, mas até o momento não recebeu resposta.
'Dificuldade de combate ao crime organizado'
O promotor de
Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco), afirmou ao g1 que o Santos é um "importante
integrante do PCC, que tem negócios na Baixada Santista". "Sobretudo,
é um integrante que atua no tráfico internacional, envolvido com André do Rap e
outros comparsas na remessa de quatro toneladas de cocaína para Europa",
falou.
Gakiya ainda
salientou que ele já estava condenado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da
3ª Região, em 2015, a 15 anos de reclusão. "Ele foi preso apenas em 2017.
Agora, acabou solto por um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça. Ele
vai se encontrar e se juntar ao André do Rap e facilitar ainda mais os negócios
do PCC e o negócio de tráfico internacional de cocaína", lamentou.
O promotor
enfatizou que Santos tem a "expertise, e sabe a logística do tráfico
internacional". "Ele ser solto é mais uma dificuldade de combate ao
crime organizado", destacou Gakiya.
Posicionamento do STJ
Em nota à TV
Fronteira, o STJ pontuou que, em razão de excesso de prazo na prisão cautelar,
a Sexta Turma estendeu ao corréu Fábio Dias dos Santos os efeitos de decisão
proferida no HC 545.097, impetrado pela defesa de Leandro Teixeira de Andrade,
no qual, após a anulação do julgamento de apelação do Tribunal Regional Federal
da 3ª Região, determinou-se o relaxamento da custódia preventiva do réu.
“No caso de Fábio
Dias dos Santos, a Sexta Turma levou em consideração que ele foi preso
preventivamente há pouco mais de quatro anos e, assim com Leandro de Andrade,
também foi condenado à pena de 12 anos de reclusão. Para o colegiado, com o
reconhecimento da nulidade do acórdão do TRF3, também está configurado o excesso
de prazo na prisão – que já perdura há mais de um terço do tempo pelo qual
Fábio foi condenado”, explicou o STJ.
“Na decisão, a
turma ressalvou a possibilidade de nova decretação de prisão cautelar, caso
seja demonstrada a superveniência de fatos novos que indiquem a necessidade da
medida”, concluiu o Superior Tribunal de Justiça.
A prisão
Santos foi preso
no dia de julho de 2017, em Peruíbe (SP), no litoral de São Paulo. Havia
mandados de prisão contra ele em 52 países.
O traficante
fazia parte de uma organização criminosa investigada pela Polícia Federal desde
2013, nas operações Hulk e Oversea, que tinham como foco o tráfico de drogas
via Porto de Santos. Em 2015, sete acusados foram presos preventivamente. Os
mandados foram solicitados pela PF e, com a concordância do Ministério Público
Federal, foram emitidos pela Justiça.
SAIBA MAIS: TRAFICANTE INTERNACIONAL DE COCAÍNA É DETIDO EM PERUÍBE
As investigações
começaram em maio de 2013. Segundo a Polícia Federal, a quadrilha usava
contêineres para transportar cocaína pura do Porto de Santos para a Europa,
África e Cuba. Ainda de acordo com a PF, a droga era colocada em mochilas e
sacolas, que eram inseridas nos contêineres por funcionários particulares, sem
o conhecimento dos donos das cargas ou dos navios. A droga seguia junto com um
lacre clonado. No local de destino, membros da organização criminosa rompiam os
lacres, recuperavam a cocaína e colocavam os lacres clonados, para não gerar
suspeitas.
Em agosto de
2015, a decisão da 5ª Vara Federal de Santos condenou, além de Fábio Dias dos
Santos, André de Oliveira Macedo, o André do Rap, Leandro Teixeira de Andrade,
do Portuga, Jefferson Moreira da Silva, o Dente e Luciano Hermenegildo Pereira.
Apenas Portuga se encontrava preso. O juiz também pediu que os foragidos fossem
incluídos na lista da Interpol.
O traficante
André do Rap é apontado como um dos chefes do PCC. Ele também estava preso na
Penitenciária 2, de Presidente Venceslau, e foi solto no dia 10 de outubro de
2020, também por meio de um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.
André do Rap foi preso em setembro de 2019, em uma operação feita pela Polícia Civil de São Paulo em um condomínio de luxo em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro e é investigado por ter função de chefia dentro do PCC e gerenciar o envio de grandes remessas de cocaína à Europa.
Fonte: g1
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