Emídio
Morinigo Ximenes é apontado como líder de organização criminosa e um dos
maiores traficantes do Brasil. Grande parte da cocaína enviada para o exterior
era comercializada por ele.
No
início de setembro (11/09) a Polícia Federal (PF) em conjunto com a Secretaria
Nacional Antidrogas (Senad), do Paraguai, deflagrou a Operação Status com o
objetivo de desarticular uma organização criminosa suspeita de praticar crimes
de tráfico internacional de entorpecentes no Estado do Mato Grosso do Sul,
região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, e a lavagem de dinheiro do
tráfico de drogas.
A
5ª Vara Federal de Campo Grande/MS decretou a prisão preventiva de 8
investigados e a busca e apreensão de bens e direitos em 48 endereços, cujos
mandados foram cumpridos nos municípios de Campo Grande/MS, Ponta Porã/MS,
Cuiabá/MT, Barra do Garças/MT, Primavera do Leste/MT, Chapada dos Guimarães/MT,
Santana de Parnaíba/SP, São Paulo/SP, Curitiba/PR, Londrina/PR e Rio de
Janeiro/RJ.
Investigações
As
investigações tiveram início em 2014, quando a PF confiscou os primeiros
carregamentos de cocaína do grupo criminoso e capturou alguns dos traficantes
envolvidos com o clã. O trabalho de inteligência das autoridades brasileiras
permitiu que fosse feita a conexão com o Paraguai, ao descobrir que os
prisioneiros recebiam na prisão um auxílio financeiro procedente de uma casa de
câmbio em Pedro Juan Caballero.
A
Receita Federal do Brasil (RFB), por meio de sua unidade de inteligência
fiscal, produziu relatórios apontando inconsistências fiscais dos investigados,
bem como, a propriedade de bens móveis e imóveis registrados em nome dos
investigados e de interpostas pessoas, “laranjas” ou “testas de ferro”.
De
acordo com a PF, a Organização Criminosa (Orrim), efetuava a lavagem do
dinheiro através de doleiros e operadores, que passavam por casas de câmbio em
Curitiba e São Paulo. Depois o dinheiro era encaminhado para essas empresas
fantasmas e contas de laranja que sustentavam o alto padrão dos envolvidos.
Quadrilha
A
quadrilha tinha núcleo de comando com funções bem definidas, como ocorre em
organizações criminosas. O grupo criminoso simulava uma estrutura de empresa
legal, com "departamentos", para gerenciar negócios fora da lei em
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
A
PF identificou 12 pessoas integrantes da quadrilha, cujo líder era Emídio
Morinigo Ximenes, tendo o apoio dos filhos Jefferson Garcia Morinigo e Kleber
Garcia Morinigo, que moraram em Campo Grande e haviam se mudado para o
Paraguai.
Outras
8 pessoas atuavam em departamentos específicos dando suporte à quadrilha,
principalmente na ocultação de bens e lavagem de dinheiro.
Um
desses departamentos era o de lojas de automóveis de luxo. Era duas, uma JV
Motors, na Rua Brilhante, em Campo Grande, cujo proprietário, Slane Chagas, foi
preso. Ele também foi diretor da loja Classe A Motors, que já teve unidade em
Campo Grande e agora funcionava em Cuiabá.
Na
capital do Mato Grosso, o proprietário da empresa, Tairone Conde Costa, também
foi preso. Ele aparece como proprietário da Pousada Paraíso, no Lago do Manso, que
segundo a Polícia Federal, era usada como “fachada” para a lavagem de dinheiro
e lazer dos líderes do grupo. A PF também deteve a esposa de Tairone.
Na
Pousada os agentes apreenderam lanchas, motos aquáticas e quadricíclos. Também
foram alvos de buscas e apreensão a residência dele na Capital e a loja de
veículos de luxo “Classe A Motors”, instalada na Avenida Fernando Correa da
Costa.
As
apurações policiais indicam que a Classe A que existiu em Campo Grande teve a
razão social alterada e passou, legalmente, a ser uma construtora, também de
fachada. No esquema retratado, aparece outra pessoa ligada à empresa, ainda não
identificada.
De
acordo com o delegado da PF, Lucas Vilela, a pousada nunca serviu como
hotelaria e hospedagem para turistas. Seu uso era exclusivamente para o lazer
dos alvos da operação.
“Era
onde eles costumavam passar férias e ter momentos de lazer. Era uma casa de
campo. Em 2017 inclusive, foi realizada uma festa de aniversário do líder da
organização, que contou com a contratação de uma dupla sertaneja famosa”,
explicou o delegado.
Quanto
à loja “Classe A Motors”, Vilela explicou que realmente funcionava como uma
loja de venda de veículos, mas que durante as investigações concluíram que
parte do capital da empresa era ilícita.
“Os
líderes não se aproximaram do dinheiro, tudo era feito pelos doleiros. Abriram
empresas de fachadas, abertas contas que eram movimentadas pelos doleiros. A
rotina consistia nos laranjas passarem o dia fazendo depósito para eles
[doleiros] e posteriormente para a conta dos líderes”, disse.
Elson
Marques dos Santos, 52 anos, que se apresentou como dono de uma tabacaria, foi
detido na sua casa no Bairro Nova. Na residência foi localizado 129 kg de
maconha. Preso em flagrante por tráfico, ele disse que havia recebido R$ 2 mil
para guardar o entorpecente.
São
relacionados ainda, uma arquiteta, que daria notas frias ao grupo, e um homem
apontado como responsável por construções de imóveis de alto valor, entre eles
mansões em Campo Grande. Entre os bens, é citada uma casa avaliada em R$ 1,2
milhão no Bairro Carandá Bosque.
Bens e Valores apreendidos
Foram
sequestrados mais de R$ 230 milhões em patrimônio do tráfico de drogas no
Brasil e no Paraguai. No Brasil foram apreendidos 42 imóveis, duas fazendas, 75
veículos, embarcações e aeronaves, cujos valores somados atingem R$ 80 milhões
em patrimônio adquirido pelos líderes.
Esquema Criminoso
O
esquema criminoso investigado tinha como ponto principal a lavagem de dinheiro
do tráfico de cocaína, por meio de empresas de “laranjas” e empresas de
fachada, dentre as quais havia construtoras, administradoras de imóveis, lojas
de veículos de luxo, dentre outras. A estrutura, especializada na lavagem de
grandes volumes de valores ilícitos, também contava com uma rede de doleiros
sediados no Paraguai, com operadores em cidades brasileiras como Curitiba,
Londrina, São Paulo e Rio de Janeiro.
Dupla Sertaneja
Vídeo
da apresentação da dupla sertaneja “Bruno e Marrone”, na Pousada Paraíso do
Manso, que aconteceu em 2017 para a comemoração do aniversário de um dos
integrantes da família, foi anexado ao inquérito como uma das provas da
ostentação da família Morinigo, mantida com os milhões do tráfico de cocaína. A
dupla sertaneja costuma cobrar um cachê de pelo menos R$ 200 mil, conforme
divulgam sites especializados.
No
vídeo, a família toda aparece no palco com os artistas. Jefferson Garcia
Morinigo - que é filho de Emídio Morinigo Ximénes, apontado como o líder da organização,
segura um bolo e agradece a presença dos convidados: “Minha família, meus
amigos e meus funcionários”.
Paraguai
No
Paraguai houve o cumprimento de quatro mandados de prisão preventiva e busca e
apreensão em coordenação com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai
(SENAD), em doze locais nas cidades de Assunção e Pedro Juan Caballero. Em solo paraguaio foram sequestrados dez imóveis, no
valor aproximado de R$ 150 milhões.
Cinco
foram presos no Paraguai, entre eles o líder da organização criminosa, Emídio
Morinígo Ximenes, seus filhos Jeferson Garcia Morinígo e Kleber Garcia Morinigo,
Júlio Cesar Duarte Servian, dono das casas de câmbio Uniexpress e Zafra; além
de Robson Louribal Ajala que seria o contador da organização.
Família Morinígo
Emídio
Morinígo Ximenes, é apontado como líder dessa organização criminosa e um dos maiores
traficantes do Brasil. Grande parte da cocaína enviada para o exterior era
comercializada por ele.
O
clã da Família Morinígo é originário da cidade de Ponta Porã, cidade-gêmea de
Pedro Juan Caballero, no Paraguai, na região conhecida pela guerra sanguinária
entre grupos do tráfico e do contrabando.
A
primeira prisão de Emídio foi em 1993, no interior de São Paulo, com a apreensão
de 100 k de cocaína escondidos no fundo falso de picape Saveiro vermelha. Junto
dele, estava o irmão Elio Gimenez Morinigo, então identificado como
agropecuarista na cidade sul-mato-grossense.
Onze
anos depois, em outubro de 2003, o mesmo Elio, após ser preso com outra carga de
cocaína, foi resgatado por quatro homens armados de dentro do presídio estadual
de Ponta Porã. O filho, Jean Paul Correa Morinigo, também foi tirado da
penitenciária nessa ação.
Elio
Morinigo desapareceu. Em 2015, advogados que haviam sido contratados por ele em
1995 comunicaram à Justiça Estadual desconhecer o paradeiro do réu, em processo
por cobrança de dívida de um banco. A ação ainda corre.
Jean
Paul foi preso em 2014, em Montevidéu, no Uruguai, por falsificação de
documentos. Dias depois, na mesma cidade, 267 kg de cocaína foram apreendidos e
a responsabilidade atribuída a quadrilha sob comando dele. O destino era o
mercado consumidor da Europa. Na casa onde morava, foram encontrados dinheiro e
celulares.
Elio
e Jean Paul Morinigo tem mandados de prisão em aberto no Brasil. Nas apurações da Operação Status pelo menos de
forma oficial o nome desses dois Morinigos sumidos não é citado.
Emídio,
já foi preso em 2005 com uma quantidade pequena de cocaína, no interior de São
Paulo, pela qual cumpriu pena, e outra em 2009, junto com os dois filhos,
durante a “Operação Riqueza”, desenvolvida pela PF paulista.
Em
2017, os irmãos foram presos com uma carga de haxixe, o que levou a família a
se mudar para Pedro Juan Caballero.
Nos
últimos dois anos, foram mais de 3 toneladas da droga apreendidos com gente
ligada ao bando. Em janeiro de 2019, a apreensão 950 kg de cocaína, em Três
Lagoas-MS, foi relacionada a essa organização.
Os
integrantes do clã que estão atrás das grades foram capturados no Paraguai,
expulsos e entregues à Polícia Federal no Brasil. Considerados perigosos, foram
transferidos para o presídio federal de segurança máxima de Campo Grande.
Descapitalização
O
delegado da PF, Elvis Secco, coordenador geral de repressão a drogas e facções
criminosas da Polícia Federal, disse que a chave do combate de drogas no Brasil
é a descapitalização patrimonial, prisão de lideranças e cooperação
internacional.
"Se
um carregamento de droga for apreendido, outros cem irão passar. Não é com
apreensão que se combate o tráfico de drogas", afirmou Elvis Secco
Nome da Operação
A
operação foi batizada de “Status” em alusão à ostentação de alto padrão de vida
mantida pelos líderes da organização criminosa, com participações em eventos de
arrancadas com veículos esportivos de alto valor, contratação de artistas
famosos para eventos pessoais e residências de luxo.
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