Receita
localizou 23 toneladas de entorpecentes no ano passado; complexo de Santos é
preferido para remessas por ser o maior e com mais rotas à Europa
O
Porto de Santos continua colecionando mais recordes. Além da movimentação de
cargas e contêineres, o complexo portuário teve a maior apreensão de drogas de
sua história no ano passado, com um total de 23 toneladas de cocaína
encontradas a caminho do exterior.
Esse
montante representa o dobro da quantidade de entorpecentes localizados no cais
santista em relação a 2017. Neste ano, a previsão é que o número seja superado.
Até sexta-feira, mais de 6 mil quilos tinham sido descobertos, com 2,2
toneladas apenas na última semana.
As
autoridades atribuem à eficiência da fiscalização e ao estudo do modo de agir
dos criminosos os motivos do crescimento do confisco de drogas.
O
porto santista é o preferido dos traficantes por ser o principal ponto de
exportação do País e ter mais rotas para a Europa, destino principal dos
entorpecentes. “É um porto com muita movimentação e com favelas no seu entorno,
o que facilita a logística do traficante”, explica o delegado-chefe da Polícia
Federal (PF) em Santos, Ciro Tadeu de Moura.
Ele
explica que o Porto sempre foi utilizado pelos narcotraficantes, mas que as
apreensões começaram a crescer a partir de 2015, depois da Operação Oversea.
“Conseguimos entender melhor como se dava o tráfico de drogas pelo continente e
os métodos utilizados pelos criminosos. E a cada investigação a gente aprende
mais”.
A
Receita Federal afirma que, nos últimos dez anos investiu em recursos e medidas
administrativas nos locais que operam no comércio exterior e capacitação de
pessoal para lidar com esse crime.
Entre
as providências adotadas estão a formação de equipes K-9 (cães de faro) e
grupos dedicados à análise de risco de exportações e inspeção não invasiva, que
utilizam escâneres de raios X, central de operações de vigilância e câmeras de
monitoramento. Com isso, se aprimoram o controle de movimentação de contêineres
e a troca de informações com outros órgãos do governo e organismos de caráter
internacional.
Uma
parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), que
começou em 2017, também facilitou os trabalhos e promove a integração entre os
órgãos envolvidos.
“Noventa
por cento do comércio mundial se dão através de contêineres, mas menos de 2%
são inspecionados. Portanto, é preciso ter uma técnica de amostragem para identificar
os ilícitos e montar um perfil de risco para esses equipamentos e combater o
tráfico. A nossa parceria foi um dos fatores que ajudaram no aumento da
apreensão de drogas no Porto de Santos”, explica o coordenador da Unidade de
Estado de Direito do Unodc, Nivio Nascimento.
Drogas ficam em
contêineres com carga legal
Hoje,
a tática mais comum dos narcotraficantes, conhecida como rip on/rip off
loading, é pôr a droga em contêineres em meio a mercadorias regulares
exportadas por empresas idôneas e sem conhecimento disso. Essas transações
costumam envolver trabalhadores do setor, que conhecem a rotina das operações.
“Existe
a possibilidade muito grande de se corromper pessoas que trabalham com isso. Um
caminhoneiro, um trabalhador ou um tripulante, por exemplo, são pessoas
facilmente captadas”, comenta o delegado chefe da Polícia Federal (PF) em
Santos, Ciro Tadeu de Moura.
De
acordo com o Unodc, o tráfico de drogas é a atividade criminosa mais lucrativa
do planeta. Só em 2017, calcula-se que os criminosos movimentaram, no mundo,
cerca de US$ 320 bilhões (R$ 1,24 trilhão). No Brasil, foram em torno de US$ 15
bilhões (R$ 58,3 bilhões).
As
cifras a seguir dão ideia da lucratividade do tráfico. Estima-se que um tablete
do entorpecente com um quilo de cloridrato de cocaína – que é a forma mais pura
da droga – passa pela fronteira do Brasil, vindo dos principais países
produtores, como Colômbia, Peru ou Bolívia, a um custo médio de R$ 10 mil.
Porém, chega aos locais de mais difícil acesso da Europa a 50 mil euros (quase
R$ 220 mil).
Com
isso, pode-se calcular que a carga apreendida no ano passado em Santos
significou um prejuízo de R$ 5 bilhões para o narcotráfico internacional.
A
quantidade de drogas apreendidas com o mesmo destino é maior do que a contabilizada
pela Receita Federal. O delegado da PF afirma que muitas cargas ilícitas com
destino ao cais são interceptadas no trajeto antes de chegar à área portuária.
Fonte:
Jornal A Tribuna
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