A Receita Federal e a Polícia Federal investigam a
atuação de grupos de tráfico internacional de drogas no Rio Grande do Norte
A
polícia holandesa apreendeu 4,3 toneladas de cocaína exportada pelo Porto de
Natal em quatro meses, entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. A
informação foi confirmada pela Receita Federal, que investiga com a Polícia Federal
a atuação de grupos de tráfico internacional de drogas no Rio Grande do Norte e
apreendeu 3,2 toneladas de cocaína no porto nesta semana. Ao todo, a quantidade
de cocaína apreendida que seria movimentada pelo Porto de Natal à Europa é de
7,5 toneladas. Existem registros de que a capital é uma rota de tráfico
internacional desde 2017.
Semelhante
a apreendida no Porto de Natal, na última semana, a cocaína encontrada na
Holanda nos últimos quatro meses estava dentro de contêineres, camuflada entre
caixas de frutas. A semelhança é considerada pelas investigações como indício
de que o grupo de traficantes é o mesmo
que está ligado às 3,2 toneladas encontradas no Porto de Natal na última
terça e quarta-feira. A movimentação financeira somada das duas transações
chega a R 974 milhões, segundo estimativa da reportagem feita com base no
relatório "A nova geração de narcotraficantes colombianos pós-FARC: Os
Invisíveis", do centro de pesquisa sobre o crime Insight Crime.
Para
se ter uma ideia do volume da apreensão em Natal, o Porto de Santos, o maior do
país e um dos principais centros de distribuição de drogas para o tráfego
internacional, teve no ano passado cerca de 18 toneladas apreendidas. O Porto
de Natal, que não está entre os 10 maiores do país, movimentou quase metade
desse volume em apenas quatro meses.
A
primeira grande apreensão em território holandês foi feita em 16 de novembro do
ano passado, no Porto de Roterdã, com 2,5 toneladas encontradas entre caixas de
melão. Um motorista holandês chegou a ser preso por envolvimento com a droga. A
outra ocorreu na última quinta-feira (14), de 1,5 toneladas de droga escondidas
entre mangas, também com uma prisão. Segundo o jornal holandês RTL Niews, o
preso é um funcionário da alfândega holandesa.
As
primeiras informações concretas de que o Porto de Natal estaria sendo utilizado
como rota é de aproximadamente seis meses, período que coincide com a primeira
apreensão em território holandês – divulgada somente um mês depois nos jornais
do país. Fontes ligadas às investigações brasileiras afirmam que a droga vem
sendo monitorada desde então. Até o início de janeiro, foram rastreadas duas
cargas para sair de Natal com destino a Europa.
A
estratégia foi deixar o primeiro carregamento sair do Brasil. A polícia
holandesa foi acionada e interceptou a carga, sendo a apreensão ocorrida na última
quinta-feira. A segunda carga foi de 3,2 toneladas apreendidas pela Receita
Federal e Polícia Federal na última semana. "Fizemos assim porque sabíamos
que viriam duas cargas. Se pegássemos a primeira no porto, a segunda não
chegaria e não pegaríamos", disse um dos investigadores, que preferiu não
se identificar por razões de segurança.
Tráfico em 2017
O
maior volume de drogas traficadas aconteceu nos últimos quatro meses, mas estatísticas
disponibilizadas pela Receita Federal mostram que o Porto de Natal é uma rota
para o tráfego internacional pelo menos desde 2017, inclusive para outros
países, sendo a Espanha o destino de 290 kg de cocaína em 2017 e no início do
ano passado antes dos grandes apreensões, 300 kg foram interceptados na
Holanda.
O delegado diz que
informações concretas vieram seis meses atrás
O
porto é uma rota internacional, disse o delegado da Polícia Federal Agostino
Cascardo, afirmando que as informações mais concretas apontam os últimos seis
meses, mas que antes existiam boatos. Um agente da Receita Federal, responsável
pelo controle alfandegário, disse que a abertura dos contêineres, como feito na
semana passada, necessita de uma certeza de que existem drogas. “Caso contrário,
podemos fazer a operação, não achar nada e alertar os traficantes”, explicou.
Também
em 2017, o Porto de Natal teve a passagem do veleiro Rich Harvest, flagrado com
1,1 tonelada de cocaína no Porto de Mindelo, ilha na costa oeste da África. O
caso ficou conhecido no Brasil porque três velejadores foram presos e
condenados por 10 anos pela justiça de Cabo Verde por tráfico de drogas. No
último dia 7, o trio foi libertado depois que a justiça anulou a sentença. A
defesa alega, com base no inquérito da Polícia Federal, que os três mão tinham
envolvimento com a droga.
Cocaína em Parnamirim
No
dia 25 de novembro do ano passado, a Polícia Federal encontrou 1,3 toneladas de
cocaína em Parnamirim, na região metropolitana de Natal. A droga estava
escondida num compartimento subterrâneo de um galpão. A Polícia Federal não
confirmou se essa droga era destinada à Europa ou se era para comércio interno.
Mas,
segundo a Polícia Federal, a descoberta deste galpão foi depois que um caminhão
foi flagrado com uma carga de 1,5 toneladas de cocaína em Juazeiro, na Bahia,
no dia anterior. Três homens foram presos nesta operação. Eles afirmaram a
polícia que a droga era destinada às cidades do Nordeste e a Europa.
Se
a droga fosse destinada para a Europa, a quantidade de cocaína que passou por
Natal foi de 9,3 toneladas. O valor disso é superior a R $ 1,2 bilhão.
Etapa
Os
carregamentos de frutas que são exportadas e utilizadas pelo grupo que opera no
Porto de Natal passam por quatro etapas: na primeira, as frutas são produzidas
em fazendas; na segunda, são embaladas, acondicionadas e colocadas nos
contêineres; na terceira, são transportadas para o porto; e na quarta, elas são
exportadas. Esse processo pode envolver quatro empresas, uma em cada etapa.
As
investigações da Polícia Federal ainda não identificaram em qual etapa a droga
foi incluída nos contêineres, mas o delegado Agostinho Cascardo, a frente das investigações,
não descarta nenhuma delas. O Porto de Natal garantiu que não é na instalação
que a droga é inserida nos contêineres.
Esse
modo de operação difere dos outros observados nos portos brasileiros. O tráfego
no Porto de Santos, em São Paulo, uma rota conhecida pelos investigadores,
embarca a droga, na maior parte das vezes, diretamente aos navios, com os
traficantes se aproximando em embarcações menores e repassando para a
tripulação, não através dos contêineres. Neste tipo de operação, existe uma
rede de propinas pagas aos funcionários das empresas exportadoras e do porto.
Scanner
Há
um fator que facilita a operação diferente em Natal: a falta de varreduras de
cargas. Isso torna a operação mais barata e menos arriscada. Segundo o delegado
Agostinho Cascardo, fiscalizar a entrada de drogas sem o scanner entre centenas
de contêineres exportados pelo porto é "como procurar um palito de fósforo
específico, dentro das caixas de fósforo alojadas em uma prateleira do
supermercado". "Não tenho dúvidas de que a falta deste scanner foi
uma característica importante para o porto se tornar uma rota",
acrescentou.
Emerson
Fernandes, gerente de infraestrutura e suporte operacional do Porto de Natal,
disse que desde 2010 a Codern, que administra o porto, pretende comprar o scanner,
mas não recebe verba suficiente para isso. O valor do equipamento é estimado em
R$ 10 milhões. O equipamento é considerado importante, mas segundo Emerson, o
pedido não é atendido. Desde 2010, a Codern passou pela alçada de três
ministérios e agora está subordinada ao Ministério da Infraestrutura.
Origem
Agostinho
Cascardo acredita que as drogas são provenientes do Peru, Bolívia ou Colômbia,
países que apresentaram crescimento na produção de drogas, segundo o Relatório
Mundial de Drogas 2017, produzido pela Organização das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime (UNODC). A Polícia Federal fará uma análise (uma espécie de
"DNA" da droga) para confirmar o país onde foi produzida
Fonte:
Tribuna do Norte
Esta publicação é de inteira responsabilidade do autor e do veículo que a divulgou. A nossa missão é manter informado àqueles que nos acompanham, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados com a Guarda Portuária e a Segurança Portuária em todo o seu contexto. A matéria veiculada apresenta cunho jornalístico e informativo, inexistindo qualquer crítica política ou juízo de valor.
* Direitos Autorais: Os artigos e notícias, originais deste Portal, tem a reprodução autorizada pelo autor, desde que, seja mencionada a fonte e um link seja posto para o mesmo. O mínimo que se espera é o respeito com quem se dedica para obter a informação, a fim de poder retransmitir aos outros.
COMENTÁRIOS
Os comentários publicados não representam a opinião do Portal Segurança Portuária Em Foco. A responsabilidade é do autor da mensagem. Não serão aceitos comentários anônimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários publicados não representam a opinião do Portal Segurança Portuária Em Foco. A responsabilidade é do autor da mensagem. Não serão aceitos comentários anônimos. Caso não tenha conta no Google, entre como anônimo mas se identique no final do seu comentário e insira o seu e-mail.