Pelle foi preso no início de dezembro, na Itália
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Traficante italiano se apresenta no Brasil como empresário e teria uma loja de toalhas na capital paulista
Uma
investigação internacional que envolveu esforços de forças policiais de quatro
países da Europa durante os últimos dois anos identificou um elo entre a
principal máfia italiana, a 'Ndrangheta, e a maior facção criminosa do Brasil,
o PCC (Primeiro Comando da Capital), que exporta drogas para outros continentes.
A apuração aponta que a máfia e a facção negociam diretamente a exportação da
maior parte da cocaína que sai da América do Sul com destino à Europa.
Durante
uma interceptação telefônica feita pela polícia da Itália, em dezembro de 2016,
Domenico Pelle, 26, apontado como o chefão da máfia italiana, e Giovanni
Gentile, seu aliado no clã, falam sobre uma remessa de 17 kg de cocaína que
viria do Brasil, mas que foi apreendida pela polícia no Porto de Gioia Tauro, o
maior de cargas da Itália.
O
MP-SP (Ministério Público de São Paulo) acredita que o cidadão boliviano, na
verdade, é um brasileiro, que mora na Bolívia, e que, constantemente, viaja ao
Brasil para negociar drogas: Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido no PCC
como Fuminho. Ele é braço direito do líder máximo da facção, Marco Willians
Herbas Camacho, o Marcola, e apontado, atualmente, como o principal nome do
crime organizado paulista em liberdade.
Gentile
também afirmou a Pelle que o fornecedor brasileiro riu da perda dos 17 kg de
cocaína e garantiu que o membro da facção que errou na remessa seria punido.
Depois de passar a "ficha" do fornecedor brasileiro, Gentile convence
Pelle a organizar um novo carregamento. Desta vez, com a ajuda de um homem
italiano, que estaria baseado em São Paulo, chamado Gianni e conhecido pelos
dois como Killer.
Traficante italiano usa
loja de toalhas como fachada em SP
Gianni,
ou Killer, passou a fazer uma ponte entre os fornecedores brasileiros e a máfia
italiana. Segundo a apuração da força-tarefa policial europeia, Gianni se
apresenta no Brasil como empresário e teria uma loja de toalhas na capital
paulista, que seria utilizada como fachada. A investigação italiana não
conseguiu descobrir a identidade de Gianni (que pode ser um diminutivo de
Giovanni) nem qual seria o comércio usado pelos suspeitos.
No
início de janeiro de 2017, Gianni organizou um encontro, em São Paulo, entre
Pelle e os fornecedores de drogas brasileiros. Pelle chegou ao aeroporto de
Guarulhos, na região metropolitana, utilizando um passaporte falso. Durante sua
permanência no Brasil, ele teve de usar um telefone celular criptografado, com
outro microfone instalado, sem câmera, nem GPS.
Por
isso, a polícia italiana não conseguiu ouvir as conversas de Pelle enquanto ele
esteve em São Paulo. Ao voltar para a Itália, ele afirmou em uma ligação
grampeada que teve "coragem" ao negociar com os brasileiros.
Ele
[o traficante brasileiro] me perguntou: 'Você tem bolas?' Eu não sabia o que
ele estava perguntando, se ele estava dizendo que 'vou pegar a sua cabeça ou
vamos ver se você tem'. Pensei que, se eu dissesse 'sim', ele me bateria. Se eu
dissesse 'não', me bateria de qualquer jeito. Então, eu disse 'acho que sim'. “Ele
apertou minha mão, me disse 'mostre para mim', me abraçou e saiu",
relembrou.
Um
mês depois, em fevereiro, Pelle voltou a São Paulo novamente com o auxílio de
Gianni. Desta vez, para levar, pessoalmente, uma segunda parte de um pagamento
aos fornecedores de drogas do Brasil: cerca de US$ 50 mil (R$ 195 mil no câmbio
atual) pagos pela carga de cocaína remetida à Europa. A fim de levar os dólares
para o Brasil Pelle foi até um homem na região de Calabria, no sul da Itália,
para trocar 40 mil euros pela moeda americana em uma espécie de "casa de
câmbio informal" utilizada pelos mafiosos.
Após
a investigação, Pelle foi preso no início de dezembro, na Itália. Gentile está
foragido. Gianni ainda não foi identificado.
Traficante ligado à
'Ndrangheta pode estar na Grande SP
Outra
investigação italiana, recente, desenvolvida pela IRPI, aponta que Nicola
Assisi, considerado o principal integrante da máfia 'Ndrangheta e responsável
por coordenar uma série de negócios que envolvem o tráfico de drogas
internacional do clã, estaria vivendo no Brasil, com um passaporte falso,
dizendo ser o argentino Javier Varela, e teria uma empresa em Ferraz de
Vasconcelos (Grande São Paulo).
Ligação entre máfia e
facção já está na mira da Polícia Federal
A
PF no Brasil diz ter monitorado relações de facções criminosas brasileiras com
máfias da Europa. Em julho deste ano, por exemplo, deflagrou uma operação que
apreendeu drogas em portos do país avaliadas em R$ 1 bilhão. Essas quadrilhas
estavam mandando droga para a Europa por meio de contêineres.
Souza
Netto é professor e supervisor pedagógico na Escola da Magistratura do Paraná,
mas tem estudos sobre as máfias italianas. Ele fez um curso e estágio de
pós-doutorado na Universidade de Roma, em 2004, e foi bolsista do Instituto Ítalo-Latino-americano.
"Através de ações controladas, também já se evidenciou o crime de lavagem
de dinheiro por intermédio de empresas 'fakes'", disse o desembargador em
entrevista.
Segundo
a PF, a rota da cocaína interceptada na operação de julho deste ano tinha como
origem Colômbia e Bolívia. A droga chegava por estradas federais até o Rio de
Janeiro. De lá, enviavam para a Bélgica, de onde era remetida a outros países
da Europa, Ásia e África. De acordo com investigações brasileiras, que estão em
andamento, o comprometimento de agentes que atuam dentro dos portos com facções
é "evidente".
No dia 18 de dezembro, a PF deflagrou operação contra o tráfico internacional de drogas, cumprindo 13 mandados de prisão temporária, e outros
12 de busca e apreensão. Segundo a PF, traficantes articulavam a compra de
cocaína a partir da cidade de São Paulo e faziam a remessa da droga à Europa
pelo mar. Os investigados presos serão indiciados e responderão pelos crimes de
tráfico de drogas e associação internacional para o tráfico de drogas, com
penas de 3 a 15 anos de prisão.
Operação na Europa prende
90 ligados à máfia italiana
Investigação
da polícia italiana que revelou o elo entre a 'Ndrangheta e traficantes
brasileiros durou dois anos e culminou em uma grande operação no início de
dezembro, que prendeu 90 pessoas suspeitas de ter ligação com a principal máfia
italiana em exercício. A apuração policial denominada de "Conexão Europeia
da Ndrngheta, na sigla em inglês" apontou como o grupo mafioso importa
drogas de todo o mundo. A agência europeia que coordenou a investigação foi a
Eurojust, com apoio de forças policiais da Itália, Alemanha, Bélgica e Países
Baixos.
O
tráfico de drogas ficou identificado como o principal negócio da máfia italiana
e que "representa a mina de ouro que 'Ndrangheta usa para inverter para
economia legal, na Itália e no exterior". A investigação apontou, também,
que a maior parte da droga movimentada pela máfia italiana que sai da América
do Sul chega à Europa pelos portos de Róterdam, na Holanda, e de Amberes, na
Bélgica, mas há registros de que a cocaína também seja enviada para Portugal e
Espanha, além de países do continente africano.
Policiais
federais do Brasil, além de agentes da Abin dizem, sem se identificar, que,
para cada droga apreendida nos portos do país, pelo menos, uma remessa vaza.
Normalmente, vão escondidas em contêineres, contando com a corrupção de
funcionários portuários.
Fonte:
Meio Norte. Com
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