A
Bolívia ganhou o direito de exportar pelo porto de Paranaguá. No Chile, onde o
país tem o mesmo benefício, o narcoestado de Evo Morales traficou dezenas de
toneladas de cocaína escondidas em contêineres despachados por membros de seu
governo.
O
que define um narcoestado é a forma como o aparato estatal é usado para
acobertar e, sobretudo, fomentar os negócios associados ao tráfico de drogas.
Nenhum país produtor de cocaína - são apenas três - tem a máquina estatal tão
atrelada ao tráfico como a Bolívia. No mês passado, a revelação de uma ação
judicial movida nos Estados Unidos por Carlos Toro, ex-informante da DEA (a
agência americana antidrogas), revelou que a Justiça Americana tem sob a mira
uma série de autoridades do círculo próximo do presidente Evo Morales. A mais
importante delas é o seu vice-presidente Álvaro García Linera.
Há
dois meses, o Brasil aprovou uma lei com potencial para aumentar de forma
exponencial a capacidade do narcoestado boliviano de traficar cocaína. O
Congresso brasileiro autorizou o país vizinho a abrir um Depósito Franco no
Porto de Paranaguá. Com isso, a Bolívia poderá usar as instalações do porto
paranaense para o envio e recebimento de suas cargas. A medida foi apresentada
ao Congresso pelo governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007
para agradar o colega Evo Molares, que havia sido eleito um ano antes.
General Rene
Sanabria, ex-chefe do Departamento Antidrogas da Bolívia. Ele cumpre pena nos
Estados Unidos pelo envio de toneladas de cocaína escondidas em
contêineres(Arquivo/AP-Veja.com)
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Os
bolivianos já possuem duas "saídas" para o mar por meio dos portos
chilenos de Arica e Iquique. O histórico das atividades criminosas de agentes
do estado boliviano nos dois terminais acende o sinal vermelho para o Brasil.
Em 2011, o então chefe de operações antidrogas da Bolívia, Rene Sanabria, foi
preso em flagrante no Panamá, depois que uma investigação identificou que uma
quadrilha de traficantes controlada por ele despachou toneladas de drogas
escondidas em contêineres de cargas por meio dos portos chilenos. Somente entre
os meses de janeiro e fevereiro de 2010, o militar enviou 4,7 toneladas de
cocaína para oito países de destino.
Sanabria
valia-se de uma regra que também será aplicada no Brasil. Assim como no caso
que possibilitou o tráfico a partir dos portos chilenos, os contêineres que
atravessarão o território brasileiro serão lacrados na Bolívia e terão esses
lacres verificados em Paranaguá. Como na maioria dos contêineres que saem do
país, serão despachados sem nenhum tipo de inspeção interna. Operadores
portuários ouvidos por VEJA estimam que menos de 5% das exportações são submetidas
a algum tipo de verificação.
A
fiscalização será mais intensa na entrada, como já é feita pelos fiscais da
Receita que atuam em Paranaguá, onde o Paraguai já possui um Depósito Franco.
Segundo um auditor da Receita que já trabalhou no terminal, desde que os
contêineres que chegavam com destino ao Paraguai passaram a ser escaneados, o
movimento de importação caiu mais de 90%. "Sabemos que, no caso da
Bolívia, a fiscalização deverá se concentrar na exportação, mas uma bomba
relógio está prestes a ser armada", alerta o auditor.
Está
prevista para ser votada esta semana uma lei que muda as regras para abertura
de portos secos no Brasil. Atualmente, concedidos por meio de licitações
públicas, essas áreas alfandegadas que são utilizadas para o despacho e
recepção de cargas passariam a ser abertas mediante autorização. O PL 374/2011,
de autoria da senadora Ana Amélia (PP-RS), tem a boa intensão de desafogar os
terminais portuários brasileiros, mas a falta de infraestrutura e de pessoal
por parte da Receita pode acabar por favorecer criminosos como os do
narcoestado boliviano. Com a profusão de Centros Logísticos e Industriais
Aduaneiros, como são oficialmente chamados os portos secos, o despacho
alfandegário poderá ser feito nessas instalações e os contêineres bolivianos
chegarão prontos para o embarque em Paranaguá. Carregados com o quê,
dificilmente se saberá.
Por:
Leonardo Coutinho
Fonte:
Veja.com.
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