SEGURANÇA PÚBLICA PORTUÁRIA / POLÍCIA FEDERAL
Apontado
na Operação Porto Seguro como chefe da quadrilha que negociava pareceres
públicos, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira
intercedeu pela Brasil Terminal Portuário (BTP) no porto de Santos. Em 2007,
quando era ouvidor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq),
cargo que ocupou por cinco anos, Vieira pediu vistas ao processo da BTP e
manifestou-se contrariamente à área técnica da Antaq, que apontou
irregularidades no contrato celebrado pela Codesp com a empresa.
Vieira
encaminhou, na sequência, manifestação à Procuradoria da Antaq dizendo não ver
necessidade de abertura de processo contencioso para apurar o caso. Segundo a
Antaq, o pedido de vistas a processo pelo ouvidor da agência é prática incomum.
A
BTP constrói em Santos o maior terminal de uso público do país para
movimentação de contêineres e líquidos. Parte da área total que o
empreendimento ocupará foi transferida pela Codesp à empresa sem prévia
licitação. O investimento é de R$ 1,8 bilhão.
Em
janeiro de 2007 a BTP tornou-se arrendatária de uma área de 150 mil metros
quadrados em Santos após comprar três contratos que estavam inoperantes desde
2001 e fundi-los num único arrendamento. Ainda em 2007, a Codesp transferiu à
BTP terrenos públicos sem prévia concorrência, multiplicando o tamanho original
do arrendamento. Hoje, são 440 mil metros quadrados construídos de um total de
490 mil metros quadrados que o empreendimento terá, diz a empresa.
No
contrato com a Codesp - concessionária de áreas da União no porto - a BTP
conseguiu, ainda, ampliar o objeto do arrendamento para movimentação de
contêineres. Originalmente estava prevista apenas a movimentação de granéis
líquidos.
As
modificações foram feitas num espaço de 40 dias dentro da Codesp, entre
dezembro de 2006 e janeiro de 2007, sem passar por órgãos de controle e
fiscalização, em especial a Antaq, que regula o setor; a Prefeitura de Santos,
que detinha uma zona de preservação paisagística no local; e a Advocacia-Geral
da União, como é possível verificar no processo que tramita na Antaq e ao qual
o Valor teve acesso.
A
Codesp afirma ter respaldo legal para fazer as alterações. Na época a estatal
era presidida por José Mello Rego, indicado para o cargo pelo deputado federal
Valdemar Costa Neto (PR). Costa Neto e Paulo Vieira são amigos de longa data.
A
fiscalização da Antaq foi realizada após denúncia de suposta ilegalidade. A
equipe de fiscalização listou uma série de irregularidades na forma como a
unificação dos contratos foi feita, "à revelia das autoridades competentes
para a adequada apreciação da matéria". Entre os problemas citados pelos
técnicos está também a previsão de que os contratos originais fossem extintos
se não tivessem seus projetos desenvolvidos. Três técnicos assinaram o relatório
de fiscalização. Um deles, Mário Povia, foi recentemente indicado a diretor da
Antaq pela Secretaria de Portos.
Em
outubro de 2007, Paulo Vieira, então ouvidor da Antaq, encaminhou e-mail ao
procurador-geral da agência, Aristarte Leite Júnior, pedindo vistas ao processo
da BTP. Na solicitação, Vieira evocou, além da condição de ouvidor, sua atuação
no conselho fiscal da Codesp, do qual participava.
No
mês seguinte Vieira enviou manifestação ao procurador argumentando não ver
"qualquer ilegalidade" no arrendamento da BTP, exceto em relação à
fusão dos quatro contratos originais, de 2001. "No mais, trata-se de
impropriedades de forma que podem ser saneadas a partir de diligências junto às
partes", diz. "Não vislumbro necessidade de processo contencioso,
sobretudo, diante das ponderações dos fiscais da Antaq que, durante visita in
loco, considerou (sic) a medida executada pela Autoridade Portuária de Santos
eficiente."
O
procurador, contudo, teve outra interpretação. Em parecer de 2009, sustentou
que a Antaq deveria instaurar o processo administrativo contencioso para apurar
"a negligência da Codesp" em celebrar aditivos contratuais sem a
prévia análise da agência. Os diretores da Antaq, contudo, não acompanharam a
Procuradoria.
Em
reunião no dia 10 de outubro de 2012, decidiram não abrir processo contencioso.
Na época, os diretores da autarquia eram Pedro Brito e Tiago Lima que, no mês
passado, foi exonerado da direção-geral da Antaq por suspeita de participar do
esquema de venda de pareceres técnicos de órgãos públicos para beneficiar
interesses privados revelado pela Operação Porto Seguro. Na mesma reunião,
porém, a Antaq decidiu multar a Codesp no valor de R$ 400 mil por
descumprimento de resoluções da agência, e mandou a estatal paralisar as obras
da BTP. A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União" em 17 de
dezembro. A Codesp recorreu e a Antaq suspendeu a paralisação. O terminal da
BTP deve entrar em operação ainda neste trimestre.
O
advogado de Vieira, Leônidas Scholz, afirmou que o que tem a dizer em defesa de
seu cliente será feito em juízo.
A
Codesp diz que as modificações contratuais são legais, tendo respaldo na Lei
dos Portos, "no interesse da administração". Sustenta que o
arrendamento da BTP foi a saída encontrada para sanar o passivo ambiental da
área, conhecida como "lixão da Alemoa". Na época, a Cetesb
determinava a recuperação integral do "lixão" e não apenas das áreas
arrendadas, daí a incorporação sem licitação de terrenos vizinhos ao contrato
da BTP.
Já a
expansão do objeto do contrato para contêineres tinha guarida no plano de
desenvolvimento do porto, diz a Codesp. E foi a solução para viabilizar o
terminal, pois a empresa teria de fazer um investimento de R$ 300 milhões só na
remediação do solo. Na época a Codesp não tinha dinheiro em caixa para arcar
com a remediação. Ao mesmo tempo, o Ministério Público Estadual havia aberto
inquérito preparatório para ação civil pública.
"A
Codesp vem cumprindo o disposto nesses dois dispositivos [resoluções da Antaq
de 2009 e 2011], enviando, periodicamente, as informações solicitadas pela
agência", disse em nota.
A
BTP disse que não se manifestaria sobre trâmites dentro da Antaq.
A
assessoria do PR afirma que o deputado Costa Neto não interferia nos assuntos
administrativos do Ministério dos Transportes - ao qual a Codesp era ligada até
a criação da Secretaria de Portos, em 2007 - ou órgãos vinculados. A assessoria
do deputado confirma que Costa Neto conhece Vieira desde os tempos em que
iniciou a construção de sua base eleitoral em Cruzeiro (SP), cidade onde Vieira
tem uma faculdade. A assessoria afirma ainda que o contato se intensificou
quando Vieira fixou residência em Brasília.
Fonte:
Valor Econômico / Portos e Navios
*Esta publicação é de inteira
responsabilidade do órgão de imprenssa que a publicou. O nosso papel é apenas manter informado aqueles que
acompanham o Blog, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados
com a Segurança Portuária, nesse caso, a Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal.
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