O apelido colou como chiclete em calçada quente e o
acompanhou até a aposentadoria — muitos sequer sabiam seu nome verdadeiro
Em 7 de novembro de
1980, com o término da concessão do Porto de Santos à Companhia Docas de Santos
(CDS), a administração retornou ao Governo, sendo instituída a Companhia Docas
do Estado de São Paulo (CODESP). Nessa época, a sede da Guarda Portuária —
GPort — ficava na esquina da Avenida Rodrigues Alves com a Rua Conselheiro João
Alfredo, no prédio onde hoje funciona o Museu do Porto e muitas boas histórias.
O chefe do
departamento pessoal era o Dr. Portofino, advogado respeitado, elegante, homem
de poucas palavras, sempre com aquela cara de quem sabe um segredo importante…
ou de quem não tem paciência pra ninguém.
Todo dia,
religiosamente, fazia sua pausa para o chá da tarde, tradição herdada — segundo
ele — de seus antepassados ingleses. E quem preparava e servia o famoso chá?
Manoel, o contínuo do prédio.
Manoel era
nordestino, trabalhador, prestativo… e completamente apaixonado por uma
cachacinha, principalmente se tivesse a chance de “dar uma fugidinha” até o bar
da Elza, localizado perto da sede da Guarda. Estudo formal não tinha muito, mas
boa vontade sobrava.
Numa tarde de
sexta-feira — quente daquele jeito que até o ventilador desiste e pede água —
que Dr. Portofino chamou Manoel:
— Manoel, vá ao bar
da Elza e traga um Conmel pra mim.
Na época,
comprimidos para dor de cabeça eram vendidos em bares e padarias. E lá foi
Manoel cumprir a missão. Mas, claro, aproveitou para molhar a palavra com sua
dose habitual.
De volta ao prédio,
cumpriu o ritual do chá da tarde: bandejinha, xícara, pose de mordomo inglês…
tudo certinho. Dr. Portofino levou a xícara à boca, deu um gole — e cuspiu na
mesma hora.
Assim que o Dr.
Portofino pôs o líquido na boca, cuspiu tudo e soltou um berro tão alto que foi
ouvido pelos presos nos porões do prédio, que ali ficavam na época da ditadura.
— Que porra é essa?!
— disse, dando um soco na mesa.
Apavorado, Manoel
explicou:
— O senhor pediu uma
pinga com mel… eu trouxe. E botei na xícara de chá pra ninguém perceber.
Incrédulo, o Dr. Portofino
ficou tão indignado que, se tivesse bigode, teria rodado na ponta dos dedos.
Mas limitou-se a decretar:
— Segunda-feira, às
5h30, você dê o ponto ao Rondante da Segunda Zona.
Ir pra Guarda
Portuária, na época, era praticamente “cadeia administrativa”. Castigo certo.
Na segunda, Manoel
chegou para se apresentar na nova função, ainda ressacado do susto.
Como naquela época
as notícias corriam na “radio peão” -boca-a-boca – que nem rastilho de pólvora,
mais rápido do que a internet nos dias atuais, assim que foi recebido, o Rondante
Abreu, olhou pra ele e soltou:
— Ah, então você é o
Conmel?
E assim Manoel foi
batizado. O apelido colou como chiclete em calçada quente e o acompanhou até a
aposentadoria — muitos sequer sabiam seu nome verdadeiro. Muitos passaram pela
Guarda Portuária com o nome “Manoel”, mas Conmel só houve um.
Moral da história: O que para alguns é castigo, para outros pode ser algo benéfico.
A forma como uma situação é
interpretada depende inteiramente do ponto de vista de cada indivíduo e das
suas necessidades ou circunstâncias no momento.
* Essa história é
baseada em fatos reais. Dizem que ela é 99% verdadeira, só não é 100% porque
quem conta um conto aumenta um ponto. Os nomes dos envolvidos são fictícios.
Leia Também outros casos:
A nossa missão é manter informado àqueles que nos acompanham, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados com a Segurança Portuária em todo o seu contexto (Safety/Security). A matéria veiculada apresenta cunho jornalístico e informativo, inexistindo qualquer crítica política ou juízo de valor.
* Texto: O texto deste artigo relata acontecimentos, baseado em fatos obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis e dados observados ou verificados diretamente junto a colaboradores.
* Direitos Autorais: Os artigos e notícias, originais deste Portal, tem a reprodução autorizada pelo autor, desde que, seja mencionada a fonte e adicionado o link do artigo.












