As investigações apontam a existência de um grupo
criminoso especializado no envio de cocaína para a Europa por meio de
embarcações pesqueiras
A Polícia Federal
(PF), em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (GAECO) do Ministério Público Federal (MPF), deflagrou, na última quarta-feira
(10/12), a Operação ANANSI, em combate ao tráfico internacional de drogas e a
lavagem de capitais vinculados a organizações criminosas (ORCRIM) atuantes no extremo
sul do estado da Bahia.
Ao todo, foram
cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e 10 mandados de prisão preventiva,
além de outras medidas cautelares, entre elas o bloqueio de valores em contas bancárias
de até R$ 50 milhões.
As investigações
apontam a existência de um grupo criminoso especializado no envio de cocaína
para a Europa por meio de embarcações pesqueiras, tendo o extremo sul da Bahia
como ponto estratégico e recorrente de apoio logístico para essas organizações.
Apreensões
No curso das
diligências desta operação, foram apreendidos veículos, aparelhos celulares e
outros bens, que serão submetidos à análise, visando ao rastreamento
patrimonial e à consolidação das provas colhidas.
As análises dos
celulares apreendidos devem detalhar a extensão e o tempo de funcionamento da
rota, estimada em pelo menos quatro anos.
Recrutamento
Segundo a PF, o
recrutamento de brasileiros não ocorreu de forma aleatória. A aproximação
inicial ocorreu por meio de um familiar de um pescador que havia viajado para
Portugal, criando a ponte entre a organização estrangeira e os operadores
locais.
Traficantes europeus
buscavam pessoas com embarcações em bom estado, navegadores experientes, e
gente disposta a correr riscos em troca de dinheiro rápido, encontrando isso
nas comunidades pesqueiras brasileiras.
Investigação
Em dezembro de 2024,
foi possível identificar e apreender, na região de Cabo Verde, uma embarcação
pesqueira que partiu do sul da Bahia, transportando, aproximadamente, 1.600
quilos de cocaína. A partir daí, as investigações evoluíram para identificação
das pessoas responsáveis pelas ações criminosas.
SAIBA MAIS: POLÍCIA JUDICIÁRIA E MARINHA PORTUGUESA APREENDEM EMBARCAÇÃOCOM 1,6 TONELADAS DE COCAÍNA
Chamou a atenção dos
investigadores que alguns pescadores e empresários do ramo de embarcações
pesqueiras se transformaram em verdadeiros empresários do tráfico internacional
de drogas, utilizando o conhecimento técnico que possuem sobre navegação e
rotas marítimas em favor das atividades criminosas.
A investigação teve
o apoio direto da Europol e conta com cooperação jurídica internacional com
Cabo Verde e com países da Europa, como a Polícia Judiciária de Portugal, a guardiã
Civil da Espanha e da DGSI (Direction Générale de la Sécurité Intérieure), da França,
reforçando o caráter transnacional da atuação criminosa.
As investigações
prosseguem com o objetivo de identificar todos os autores e demais envolvidos
nas ações criminosas, bem como aprofundar a análise das estruturas financeiras
utilizadas para a lavagem dos recursos provenientes do tráfico internacional de
drogas.
Esquema
O esquema
identificado na investigação está distante de práticas amadoras. As
embarcações, muitas delas já equipadas com tanques de combustível ampliados,
característica comum entre pescadores experientes, eram modificadas com fundos
falsos e compartimentos ocultos. Sob cargas de marisco, consideradas lícitas,
escondia-se a cocaína destinada ao mercado europeu.
A rota marítima
permitia transportar entre 1,6 e 3 toneladas por viagem, um volume muito
superior ao normalmente apreendido em contêineres nos portos brasileiros (cerca
de 500 kg).
A escolha pelo modal
pesqueiro, segundo fontes da coluna ligadas à investigação, derivou do aumento
da fiscalização portuária, levando o crime organizado a diversificar meios e
buscar rotas menos monitoradas.
A logística incluía,
quando necessário, o envio de embarcações de apoio para reabastecimento em
alto-mar, garantindo o percurso completo até a Europa.
A PF também
identificou o uso de coordenadas geográficas e de um “minicentro de
inteligência” a bordo das embarcações, o que permitia traçar rotas seguras e
monitorar possíveis abordagens. Isso demonstra a existência de um planejamento robusto
e de uma estrutura operacional consolidada.
Lavagem do dinheiro
Após a entrega da
droga e o retorno ao Brasil, começava a etapa de dissimulação dos ganhos.
O dinheiro recebido
pelos pescadores e proprietários das embarcações, em euro, real ou
criptomoedas, era rapidamente pulverizado entre contas bancárias, empresas de
fachada e “laranjas”.
Motivação do crime
De acordo com a PF,
a maioria dos envolvidos não possuía vínculos com facções criminosas, e que, entre
os brasileiros, a motivação predominante era financeira.
Os pescadores
recebiam entre R$ 60 mil e R$ 100 mil por travessia, enquanto proprietários de
embarcações, responsáveis pela logística, eram remunerados com valores
superiores, proporcionais à carga transportada.
Os pagamentos eram
feitos em euro, real e, em alguns casos, criptomoedas, o que dificultava o
rastreamento financeiro.
O tráfico transnacional
O crime
transnacional evoluiu, e se sofisticou, transformando o litoral do Brasil em
uma das principais plataformas de exportação de cocaína para a Europa.
Não há mais um monopólio
das facções brasileiras, a cada dia aumenta a participação da máfia europeia no
Brasil.
O oceano se tornou o
novo corredor do crime, e quem controla essa rota não fala português, mas
italiano, espanhol e, sobretudo, europeu.
Nome da Operação
O nome da Operação
ANANSI tem origem na mitologia africana e faz referência à figura de Anansi, a
Aranha.
Anansi é um
personagem (um "trickster") conhecido por sua inteligência,
sagacidade, astúcia e capacidade de enganar, tecendo histórias e superando
desafios com esperteza. Na língua Twi, do povo Akan (Gana), "ananse"
significa literalmente "aranha".
A nossa missão é manter informado àqueles que nos acompanham, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados com a Segurança Portuária em todo o seu contexto (Safety/Security). A matéria veiculada apresenta cunho jornalístico e informativo, inexistindo qualquer crítica política ou juízo de valor.
* Texto: O texto deste artigo relata acontecimentos, baseado em fatos obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis e dados observados ou verificados diretamente junto a colaboradores.
* Direitos Autorais: Os artigos e notícias, originais deste Portal, tem a reprodução autorizada pelo autor, desde que, seja mencionada a fonte e adicionado o link do artigo.











