Polícia Civil investiga como PCC usa Ferrovia
Santos-Jundiaí para driblar fiscalização nas rodovias e levar cocaína ao porto
para exportação
Uma apreensão de 216
kg de cocaína no fundo falso de um caminhão que transportava celulose até um
terminal de carga vizinho à estação ferroviária de Jundiaí, no início deste
mês, fortaleceu uma suspeita que a Polícia Civil paulista já tinha há alguns
meses: o Primeiro Comando da Capital (PCC) passou a adotar uma rota
alternativa, por via férrea, para driblar a fiscalização nas rodovias e levar
drogas do interior do estado para o Porto de Santos, por onde exporta
entorpecentes para a Europa.
A movimentação do
caminhão suspeito já era acompanhada pela equipe da 2ª Delegacia de
Entorpecentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de
Santos. Na primeira abordagem, os policiais não encontraram nada no veículo.
Mas diante do comportamento inquieto do motorista, eles decidiram levá-lo para
a sede da polícia no litoral sul para ser ouvido. No local, fizeram nova
vistoria e encontraram a cocaína escondida.
O motorista de 41 anos foi preso em
flagrante e decidiu permanecer em silêncio diante dos policiais e na audiência
de custódia, que converteu sua prisão para preventiva. De acordo com a
investigação, os tabletes de pasta base transportados pelo caminhoneiro seriam
levados para o terminal de carga da empresa Contrail e seguiriam de trem rumo
ao Porto de Santos, por meio da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que tem mais
de 150 anos de existência e seu transporte de cargas é operado pela empresa MRS
Logística.
SAIBA MAIS: POLÍCIA DESCOBRE ESQUEMA DE TRANSPORTE DE DROGAS POR TREM ATÉ O PORTO DE SANTOS
Na terça-feira (15/10), 792 kg de
cocaína foram encontrados em um terminal no Porto de Santos. A droga estava
escondida em um contêiner com carga de café que iria para Turquia. Dois
suspeitos, de 35 e 44 anos, foram presos por tráfico internacional de drogas. A
suspeita é que o container com a droga tenha chegado de trem ao terminal de
carga. No galpão, ele teria recebido um lacre falso e sido enviado ao “Porto
Seco” para o embarque. Um dos alvos confessou que receberia a quantia de R$ 150
mil no local de entrega.
SAIBA MAIS: POLÍCIA MILITAR RODOVIÁRIA DE SÃO PAULO LOCALIZA 792,5 KG DE COCAÍNA EM TERMINAL RETROPORTUÁRIO DE SANTOS
A equipe de investigação da Polícia
Civil de Santos e o Setor de Inteligência da Polícia Militar estão mapeando as
rotas ferroviárias adotadas pelos traficantes do PCC e apurando se há
envolvimento de funcionários das empresas de armazenamento de carga e das
concessionárias que administram as ferrovias no transporte de drogas — até o
momento nenhuma suspeita sobre elas foi levantada pelas autoridades.
Um integrante da cúpula da Polícia
Militar, ouvido pelo Metrópoles sob reserva, afirma que não é possível precisar
há quanto tempo a facção faz uso massivo da rota ferroviária para levar droga
do interior do estado até o porto. Segundo ele, no entanto, a suspeita é que o
esquema de transporte de drogas pelos trilhos tenha se intensificado nos
últimos anos com o aumento da fiscalização nas rodovias.
“Nós achávamos estranho o fato de a
Polícia Rodoviária não fazer tantas apreensões de droga no sistema
Anchieta-Imigrantes quanto em outras regiões do estado. Nós suspeitávamos de
corrupção. Mas é possível que o crime organizado esteja realmente evitando o
transporte de drogas pelas rodovias”, afirma o integrante da cúpula da PM.
Outro lado
Em nota enviada ao Metrópoles, a
Contrail, responsável pelo terminal de carga onde foi encontrado o caminhão com
os entorpecentes no início de outubro, afirma que, na verdade, o caminhão foi
interceptado pelos policiais após fazer a descarga.
A empresa diz que aplica “as melhores
práticas de controle e segurança”.
“A CONTRAIL, empresa de logística
especializada no transporte multimodal de contêineres, aplica as melhores
práticas de controle e segurança de cargas em suas atividades. A empresa
colabora com os órgãos de segurança sempre que necessário, apoiando as
atividades policiais e está sempre à disposição das autoridades. No caso
relatado sobre de tráfico de drogas no dia 3 de outubro, o flagrante se deu
fora das instalações da empresa, depois que o caminhão já havia deixado o
terminal de cargas com a droga. A companhia nunca registrou caso de tentativa
de uso de seus serviços para atividades ilegais e mantém o sistema de
vigilância ativo.”
Fonte: Metrópolis
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