De
acordo as investigações, a cúpula da organização movimenta anualmente cerca de
R$ 100 milhões
O Ministério
Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (GAECO), e a Polícia Militar (PM) prenderam quatro integrantes de
uma organização criminosa durante a segunda fase da Operação Sharks, deflagrada
na última terça-feira (12) para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro
usado por facções.
A ação é um
desdobramento da primeira fase da operação, concluída em 2020. A partir dela,
foram cruzados diversos dados para chegar até os alvos, mirando os principais
líderes.
Durante a
operação foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão em São Paulo. E
quatro mandatos de busca e apreensão na Bahia, na cidade de Planalto, na região
de Vitória da Conquista, com o apoio do Batalhão de Operações Especiais (Bope)
da Polícia Militar da Bahia e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Também foram
cumpridos três mandatos de prisão, que resultaram na apreensão de um revólver
calibre 257 com quatro munições, de R$ 65,6 mil reais, de 4.268 dólares e de
2.745 euros, além de 35 relógios de luxo e diversos aparelhos celulares,
notebooks, pen drives e cartões bancários.
Investigações levaram à Segunda fase
A Operação Sharks,
com a primeira etapa concluída em setembro de 2020, teve início o trabalho
desenvolvido por oito promotores de Justiça a partir de investigações
conduzidas com o cruzamento de dados múltiplos, mirando integrantes dos principais
escalões da organização.
De acordo com a
decisão judicial da denúncia oferecida pelos promotores, este núcleo usava,
entre outras, empresas do ramo de cosméticos, imobiliário e farmácia, para a
lavagem do dinheiro.
Segundo o Gaeco,
foram movimentados mais de R$ 100 milhões desde 2020, valores oriundos do
tráfico de drogas e da arrecadação entre seus membros, com controle rigoroso em
planilhas.
O promotor Fábio
Bechara, especialista em lavagem de dinheiro, explicou que o Brasil tem
fragilidades que favorecem o branqueamento de capitais.
— A facilidade
com que se abre e fecha empresas e a dificuldade de se verificar documentos
públicos e privados facilitam o crime — ponderou.
SAIBA MAIS: INVESTIGAÇÕES DO GAECO APONTAM ATUAÇÃO DO PCC NO TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS
Alvos da operação
A Operação teve
como alvos familiares de laranjas de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, e Odair
Lopes Mazzi Júnior, o Dezinho.
Segundo as
investigações, os presos atuavam como "laranjas". Dois deles foram
presos em flagrante, um por posse ilegal de arma de fogo e outro com
munições". Os outros foram presos durante cumprimento de mandado judicial.
Tuta
Tuta foi o principal
líder da organização criminosa até julho de 2019. Depois disso, foi excluído da
facção. As causas foram explicadas em uma mensagem conhecida como “salve”, em
que os membros diziam que sua “expulsão foi por má condução” e “falta de
responsabilidade”. Promotores e policiais chegaram a achar que ele havia sido
assassinado, hipóteses nunca confirmadas.
— Não temos essa
confirmação. Sabemos que ele pode estar na Bolívia e que os laranjas dele
continuaram a operar — afirmou o promotor público do Gaeco, Lincoln Gakiya.
Gakiya frisou que
os denunciados pela operação já estão presos ou permanecem foragidos. "Nós
visamos a asfixia financeira da organização, então nós estamos atacando o
patrimônio formado pelo núcleo de dois chefes".
Consta na decisão
judicial que Tuta, teria estruturado uma organização externa à lavagem dos
valores por ele “obtidos ilicitamente, com a utilização de dois ‘testes de
ferro’ que atuavam na negociação de imóveis, na compra e administração de
empresas e na transferência bancária de valores”.
Os operadores
financeiros de Tuta são, segundo o documento, Dário Alencar Pereira e Márcio
Roberto de Souza Costa. A Justiça de São Paulo decretou a prisão de ambos.
Pereira, ex-diretor
da Otrantur, empresa que era responsável pelo transporte coletivo em São
Vicente (SP), foi preso em Praia Grande, no litoral de São Paulo, e Costa, na
capital.
Segundo o
promotor do Gaeco “há acusações fortes” de que os investigados estão desviando
dinheiro do crime organizado, pelo patrimônio vultoso que acumularam em pouco
tempo.
— Esse pessoal
saiu do sistema penitenciário sem recursos, e hoje são donos de patrimônio
específico. Fazem viagens para o exterior, andam de jato particular, executivo.
Tudo às custas da facção. Enquanto isso, presos que estão no sistema não
desfrutam do mesmo luxo. Isso tem gerado revolta, inclusive contra essas
lideranças — disse o promotor.
Dezinho
Dezinho foi preso em julho deste ano enquanto estava em um resort de luxo na praia de Carneiros, em
Pernambuco. De acordo com as investigações, ele ocupa uma das mais altas
posições na facção, sendo o responsável por gerenciar parte do tráfico de
drogas do exterior para o Brasil. Ele também atuava em esquemas para lavagem de
dinheiro. Com o denunciado, as autoridades apreenderam documentos de
identificação falsos, cartões de crédito e celulares.
Segundo o MPSP,
Dezinho seria responsável por coordenar o tráfico internacional de drogas do
PCC e esteve à frente do envio de R$ 1,2 bilhão para o Paraguai em 2019,
através do esquema de “dólar cabo”, técnica de lavagem de dinheiro.
Atualmente, ele
está na capital e será transferido para a Penitenciária de Venceslau, no
interior de São Paulo. O terceiro mandado desta fase dos Sharks é contra
Júnior.
MPSP mirou esposas de chefões do PCC
Segundo o site Metrópolis, documentos sob sigilo, obtidos pelo site, mostram que o MPSP chegou
a pedir à Justiça a prisão preventiva de Carolina Mazzi de Aquino Lopes, a
esposa de Dezinho, suspeita de comprar imóveis e usar empresas de fachada para
esquentar recursos. Com a mulher, os policiais apreenderam joias e relógios de
luxo, avaliados em R$ 2 milhões. Ela alega inocência.
Também houve
pedido de prisão contra Adriana Cristina dos Santos, a mulher de Tuta, que é
acusado de usar uma incorporadora, farmácias e padarias para lavar dinheiro do
tráfico de cocaína. A promotoria conseguiu o sequestro na Justiça de quatro
imóveis na capital e no litoral paulista, ligados ao criminoso.
Ainda de acordo
com a investigação, o capital ilícito era usado para abrir negócios no nome da
sua mulher e de outros laranjas. À Justiça, a promotoria pediu que oito
empresas que têm participação de Carolina, incluindo clínicas de bronzeamento,
tivessem as atividades econômicas suspensas. Apenas um dos pedidos foi
acolhido.
O MPSP aponta que
Carolina comprou um apartamento, na Rua Voluntários da Pátria, em Santana, na
zona norte da capital paulista, por R$ 501,4 mil. Inicialmente, ela teria
tentado pagar o valor em espécie, mas a construtora recusou a transação. O
casal também é proprietário de um Volvo X60, um Jeep Compass e uma Land Rover
Freelander, segundo a promotoria.
Outro indício de
lavagem de dinheiro é uma reforma de R$ 100 mil em uma clínica de estética de
Carolina, aberta em junho de 2020, com valores quitados por transferência
eletrônica e dinheiro vivo. Só com cadeiras para o espaço, ela teria gastado R$
22,7 mil.
O pedido de
prisão preventiva da mulher de Dezinho foi recusado pelo juiz Thiago Baldani
Gomes de Filippo, 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e
Lavagem de Bens e Valores da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP). O magistrado, no entanto, autorizou buscas e apreensões nos endereços.
Na decisão, o
juiz ponderou que o encarceramento de Carolina, que não tem antecedentes
criminais, seria desnecessário – apesar de haver indícios de ela ter “prestado
relevantes contribuições às práticas criminosas voltadas ao branqueamento do
capital ilícito angariado”.
“Ao menos em
tese, a prisão de seu esposo teria o esperado efeito inibidor em relação a
ela”, escreveu Thiago Baldani Gomes de Filippo. Já a nova prisão preventiva de
Dezinho foi autorizada pelo juiz.
Família de Tuta
Gomes de Filippo
autorizou, ainda, buscas em endereços ligados a Tuta. O traficante chegou a
ocupar o posto de número um do PCC nas ruas em 2020, mas o MPSP acredita que
ele tenha sido expulso da facção, por suposto desvio de dinheiro.
Na nova
investigação, o MPSP pediu a prisão de 15 pessoas ligadas ao traficante –
incluindo a sua mulher, Adriana Cristina dos Santos. O juiz, no entanto,
rejeitou a maioria dos pedidos e decidiu decretar duas delas: Dario Pereira
Alencar e de Márcio Roberto de Souza Costa, considerados os “principais
operadores” de Tuta, de quem obedeceriam ordem direta.
Segundo a
promotoria, Tuta constituiu empresas no nome da mulher e de cunhados para lavar
dinheiro. Já Dario Pereira e Marcio Roberto eram “‘testas de ferro’ na
negociação de imóveis, na compra e administração de empresas e na movimentação
bancária de valores”, com uso de fintechs (empresas de tecnologia financeira).
O esquema
envolveria até o uso do dinheiro do tráfico para comprar imóveis e depois
“revender” para integrantes do grupo. A investigação também identificou uma
chácara em Araçatuba, no interior paulista, que foi adquirida por Dario e
repassada depois para o nome de filhos de Tuta.
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