A
cocaína estava escondida em uma carga lícita de doces — pirulitos e balas — e
seria enviada para a Europa, via Porto de Santos
A Polícia Federal
(PF) prendeu, na última quinta-feira (17), três policiais civis da 2ª Delegacia
de Combate a Entorpecentes de Santos, acusados de desviar 400 kg de cocaína do
traficante de drogas Vinicyus Soares da Costa, 33, o Evoque, ligado ao PCC
(Primeiro Comando da Capital).
Os investigadores
Lucas Valente, 42, Marcelo Inácio Vasconcelos da Silva, 36, e Arthur Oliveira
Dalsin, 36, tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Roberto
Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara de Santos. Os agentes foram conduzidos para
o Presídio Especial da Polícia Civil, na capital.
Segundo a PF, os
policiais civis prenderam três homens com a carga de 400 kg de cocaína, em
Cubatão, mas apresentaram apenas 26 kg na delegacia de Santos. Os federais
apuraram que os investigadores exigiram R$ 5 milhões para devolver a droga
desviada à quadrilha do próprio traficante.
Ainda de acordo
com a Polícia Federal, a negociação foi conduzida por João Manoel Armôa Júnior,
47, advogado de Evoque. O criminalista foi preso pela PF em setembro deste ano.
A assistente-jurídica dele, Thainara Santos de Paula, também foi detida ontem e
teve a prisão preventiva decretada.
A cocaína estava
escondida em uma carga lícita de doces — pirulitos e balas — e seria enviada
para a Europa, via porto de Santos. A droga foi transportada para Cubatão em um
caminhão carregado na cidade de Rio Claro (SP).
Lucas, Marcelo,
Arthur e Thainara foram presos durante a Operação Antítese, deflagrada pela PF.
O nome é em alusão aos três investigadores, que, segundo a PF, "em vez de
combater o tráfico de drogas atuavam como traficantes e roubavam a droga de
integrantes do PCC para depois revendê-la".
A Justiça Federal
determinou ainda o bloqueio patrimonial dos quatro acusados até o limite de R$
5 milhões.
Mensagens no celular
Os policiais
civis passaram a ser investigados após a prisão do advogado Armôa. O telefone
celular dele foi apreendido. Trocas de mensagens e áudios no WhatsApp
mencionavam o envolvimento dos investigadores no esquema de desvio de cocaína e
recebimento de propina.
A análise do
terminal do aparelho identificou ainda diversas conversas mantidas entre o
criminalista e Evoque, preso também pela PF, em agosto deste ano, na Baixada
Santista, sob a acusação de tráfico internacional de drogas.
Nas mensagens,
ambos falam da apreensão dos 26 quilos de cocaína, realizada em 26 de abril de
2022. Evoque diz que os investigadores ficaram com grande parte da droga e
explica que tem provas do desvio, acrescentando que dois drones e uma câmera
GoPro usados pelos comparsas filmaram a ação policial.
O advogado
responde que um delegado responsável pela apreensão é seu "amigão" e
revela que irá no departamento dele para conversar com toda a equipe policial
envolvida no caso. Segundo a análise da PF, o narcotraficante responde que dará
o dinheiro para corromper os agentes.
Dois dias depois,
o advogado envia outra mensagem para Evoque comunicando que entregou R$ 40 mil
aos policiais, que somados a mais R$ 44 mil levados por outro criminalista
totalizariam R$ 84 mil, mas que ainda faltavam R$ 16 mil.
Dívida com o PCC
Evoque afirma que
pagará o restante da propina, mas reclama que teve prejuízo de R$ 4 milhões com
o desvio da cocaína e que teria de acertar a dívida com o "comando".
Para a Polícia Federal, "comando" é o PCC e a droga desviada era da
facção criminosa.
Na mesma troca de
mensagens, o advogado cita que além da propina exigida, os policiais civis
também pediram "um café", ou seja, mais propina, num prazo de 60
dias. O narcotraficante promete atender à exigência.
O advogado
finaliza informando que precisaria de mais R$ 200 mil, dessa vez para pagar
policiais civis da capital paulista, "referentes a outro episódio de
traficância".
O narcotraficante
preso pela PF foi transferido para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau,
um dos mais fortes redutos do PCC no sistema carcerária de São Paulo. Ele também
é investigado pelo crime de lavagem de dinheiro.
Já o advogado
está preso recolhido em uma unidade prisional em Tremembé, no interior de São
Paulo. Há informações extraoficiais de que ele vem sofrendo constantes ameaças
e pode ser transferido para presídio federal.
SAIBA MAIS: PF PRENDE ADVOGADO SUSPEITO DE ENVOLVIMENTO COM QUADRILHA DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS
Outro lado
Armando de Mattos
Júnior, advogado dos três investigadores, afirmou que os clientes são
inocentes, policiais da ativa, trabalhadores e já realizaram grandes apreensões
de drogas. O defensor acrescentou que as mensagens de WhatsApp interceptadas
não os comprometem e que tudo isso será provado.
Eugênio Malavasi,
advogado de Thainara, disse que o pressuposto da prisão preventiva é a
contemporaneidade, acrescentando que como o fato envolvendo sua cliente ocorreu
em abril deste ano, quase sete meses atrás, não há base para alicerçar a prisão
dela.
Malavasi também
defende o advogado Armôa, mas não quis se pronunciar em relação a ele, porque o
cliente já estava preso e não foi alvo da operação de ontem da PF.
A coluna não
conseguiu contato com os advogados de Evoque, mas publicará a versão dos
defensores dele assim que houver uma manifestação.
Fonte: Coluna do
jornalista Josmar Jozino - UOL
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