Relatório Cocaine Insights 4 é lançado com
destaque aos impactos da Covid-19 nas rotas regionais e transatlânticas que
atravessam o Brasil
A produção global
de cocaína alcançou níveis recorde, atingindo 1.982 toneladas a partir de
2020. Os caminhos traçados pelo tráfico
são determinados pelos locais de produção e consumo, e o Brasil está na rota do
tráfico de cocaína da América do Sul para África e Europa. No país, as medidas
adotadas com relação à covid-19 parecem ter tido impacto na redistribuição e na
gestão do mercado de cocaína internamente.
A covid-19 e o
seus impactos na cadeia de abastecimento de cocaína dentro e fora do Brasil são
o tema da quarta edição da série “Cocaine Insights”, lançada no mês passado
pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e pelo Centro de
Excelência para a Redução da Oferta de Drogas Ilícitas no Brasil (CdE). O CdE é
fruto de uma parceria entre o UNODC, a Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública
(SENAD/MJSP) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no
Brasil.
“É importante
destacar que o PNUD e a SENAD, por meio desta parceria com o UNODC, vêm
apoiando a estruturação e o trabalho do CdE, que tem, como parte de sua missão,
sistematizar e disponibilizar dados para a realização de pesquisas e estudos
das mais diversas instituições. A publicação Cocaine Insights é um exemplo
concreto de que a missão do CdE está sendo alcançada”, afirma Gabriel
Andreuccetti, coordenador do CdE.
A colaboração
entre UNODC e CdE na atual edição do Cocaine Insights permitiu complementar
resultados obtidos no primeiro estudo estratégico do Centro de Excelência,
intitulado “Covid-19 e tráfico de drogas no Brasil: a adaptação do crime organizado e a atuação das forças policiais na pandemia”. Com isso, foi
possível expandir a compreensão das dinâmicas do tráfico de drogas,
principalmente da cocaína, no Brasil e na região da América Latina.
“O Cocaine
Insights 4 apresenta uma visão ampliada a partir da análise de dados do Brasil
e de países envolvidos no tráfico de cocaína na região transatlântica. Os
resultados apresentados integram um esforço global de pesquisa para apontar
mudanças na cadeia do tráfico de drogas e na alteração da atuação das
organizações criminosas. Nesse sentido, ele é bastante pioneiro no contexto
brasileiro, unindo dados de diferentes organizações policiais e de outras
instituições vinculadas à repressão ao narcotráfico para se pensar nesse
conjunto de ações de maneira estratégica”, enfatiza Gustavo Camilo Baptista,
diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional Substituto da
SENAD/MJSP.
Durante o
lançamento, Andreuccetti explicou que “a fiscalização do tráfico de drogas no
Brasil é muito complexa e qualquer estudo sobre o tema demanda um entendimento
baseado em evidências e uma metodologia robusta, uma vez que o país é
federativo e possui dimensões continentais. Por isso é tão importante a
parceria com instituições brasileiras na integração e coleta de dados, assim
como a parceria com órgãos internacionais de pesquisa como o Research and
Analysis Branch do UNODC, em Viena, para as análises e o desenvolvimento desse
estudo”, disse o coordenador do CdE.
Mudanças e tendências
O Cocaine
Insights 4 aponta importantes mudanças nos padrões do tráfico de drogas e do
crime organizado por meio dos novos contextos da pandemia, relacionando-os à
cadeia regional e transatlântica de produção e distribuição de cocaína. Os
principais achados do relatório foram apresentados durante o evento de
lançamento por Antoine Vella, Oficial de Pesquisa sobre Cocaína da Seção de Pesquisa
sobre Drogas do UNODC.
A publicação
também mostra que a covid-19 afetou as atividades das forças de segurança,
comprometeu as atividades de grupos do crime organizado, impactou os fluxos de
cocaína e de cannabis e induziu mudanças nas modalidades de tráfico, entre
outros impactos no mercado de cocaína no Brasil e na região.
As medidas de
lockdown relacionadas à covid-19 no Brasil permitiram às forças de segurança
dedicar mais recursos à apreensão de drogas. Assim, aumentou de forma acentuada
o número de apreensões de algumas drogas ilícitas, como a cannabis. O relatório
também detalha como a oferta de cannabis se expandiu pelo Brasil enquanto o
impacto sobre a cocaína variou entre Unidades Federativas (UFs), apesar de um
declínio geral nas quantidades apreendidas no início do período de pandemia. Os
dados sobre as apreensões de cocaína no país sugerem que, após o início da
covid-19, houve uma tendência crescente da droga nos estados do oeste do país,
enquanto se observa uma tendência decrescente nos estados a leste, à medida que
os fluxos dos portos marítimos para fora do país diminuíram.
O “Cocaine
Insights 4” mostra que as medidas relacionadas à covid-19 também dificultaram o
deslocamento interno, pelo crime organizado, da cocaína importada em direção
aos portos de saída e áreas de consumo. As dificuldades no transporte
transfronteiriço de cocaína levaram provavelmente a um aumento dos voos
clandestinos e, por conseguinte, a um aumento dos fluxos para os estados
fronteiriços a oeste.
Uma queda nas
apreensões de cocaína nos portos marítimos brasileiros ocorreu paralelamente a
declínios de cocaína apreendida nos países de destino, tais como os da Europa
Ocidental e Central, em remessas que se sabe terem partido do Brasil. A
diminuição dos fluxos provenientes do Brasil parece, no entanto, ter sido
temporária.
O “Cocaine
Insights 4” retrata, ainda, o processo da covid-19 acelerando tendências já
existentes no tráfico de cocaína. A pandemia impôs necessidades de adaptação às
instituições de segurança pública no Brasil e prejudicou algumas atividades
policiais, mas, inversamente, levou a medidas restritivas de deslocamento que
facilitaram a interdição de drogas nas estradas. Além disso, o relatório detalha
como a disponibilidade de cannabis se expandiu em todo o Brasil após o início
da pandemia, impulsionada por grandes aumentos nos fluxos vindos do Paraguai.
O “Cocaine
Insights 4” também destaca como as organizações criminosas continuam a ser mais
especializadas e a utilizar cada vez mais novas tecnologias. Este cenário
complexo salienta a necessidade de fortalecimento da cooperação internacional
para enfrentar o crime organizado transnacional de uma forma articulada,
centrada nas pessoas e considerando de forma abrangente os aspectos econômicos
e sociais.
Acesse o relatório
Cocaine Insights 4 AQUI.
Sobre a série Cocaine Insights
A série “Cocaine Insights”, desenvolvida pelo UNODC no âmbito do programa CRIMJUST e em cooperação com parceiros e partes interessadas em nível nacional, regional e internacional, fornece, em formato acessível e informativo, os mais recentes conhecimentos e tendências sobre questões relacionadas aos mercados da cocaína: o comércio ilícito de cocaína, o seu impacto, e as perspectivas para o futuro. Esta edição é resultado de uma colaboração entre o UNODC e o CdE.
Saiba mais
AQUI.
Fonte: UNODC
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