Polícia Federal durante a Operação Maritimum - Foto: Polícia Federal
O Porto
de Santos aparece em uma lista de quatro lugares que se destacam no comércio
marítimo global de drogas
A Polícia Federal
do Brasil (PFB), durante a Operação Maritimum, em 13 de julho de 2022, visou
desarticular uma organização criminosa do tráfico internacional de drogas e
lavagem de dinheiro nos portos, principalmente, em Natal, no Rio Grande do
Norte; Salvador, na Bahia; e no Porto de Santos, em São Paulo.
A cidade de
Santos, no estado de São Paulo, com o maior porto da América Latina, aparece em
uma lista de quatro lugares que se destacam no comércio marítimo global de
drogas. A informação está no relatório global do Escritório das Nações Unidas
para Drogas e Crime (UNODC), divulgado no início de julho. Mas o relatório
revelou também que portos menores, localizados na parte norte do Brasil estão
assumindo um papel cada vez mais importante como entrepostos para o comércio
transatlântico de cocaína, principalmente para os carregamentos destinados à
Europa.
O relatório não
indica quais são esses portos e nem esclarece em que estados do norte/nordeste
estão localizados, mas informa que os traficantes estão recorrendo a essas
alternativas devido ao aumento da fiscalização no Porto de Santos. Para o
pesquisador Thiago Moreira de Souza Rodrigues, do Programa de Pós-Graduação em
Estudos Estratégicos de Defesa e Segurança da Universidade Federal Fluminense,
a indústria do tráfico de drogas está sofrendo o efeito balão, uma metáfora
relativa a que, quando há fiscalização e apreensão em um lugar, o tráfico infla
em outro.
“O Porto de
Santos, com esse grande dinamismo, infraestrutura muito bem desenvolvida e
milhares de navios circulando semanalmente, obviamente é de grande interesse do
narcotráfico. O aumento da repressão e da vigilância faz com que o
narcotráfico, que sempre o fez e continua fazendo, abra ou fortaleça outras
rotas. As do nordeste têm se fortalecido à medida que as do sudeste ficam mais
vigiadas”, explicou o pesquisador. “Há outros portos altamente preparados no
nordeste do país, como os de Recife, Fortaleza e Salvador, para poder fazer
esse trânsito para a África e para a Europa, principalmente pelos portos
ibéricos, como Portugal, Espanha via Ilhas Canárias, ou sul da Itália e da
França, que tem recebido esse fluxo via Atlântico”, acrescentou Rodrigues.
Dados enviados
pela Polícia Federal (PF) à Diálogo confirmam as declarações do pesquisador. O
Porto de Santos não perdeu sua importância estratégica para o negócio ilícito.
É onde ocorre o maior número de apreensões de cocaína, embora com tendência de
queda. Foram 20,87 toneladas em 2020 e 17,39 toneladas em 2021. Já a situação
nos portos da região nordeste mudou bastante. O Porto de Recife, no estado de
Pernambuco, que não registrou apreensão em 2020, em 2021 foram apreendidas 2,2
toneladas de cocaína. Os casos de Fortaleza e Natal, respectivamente nos
estados do Ceará e Rio Grande do Norte, são ainda mais emblemáticos. Não houve
registro de apreensões nos dois lugares de 2009 a 2018. Já em 2020 foram 673
quilos e, em 2021, 832,6 kg, em Fortaleza. Em Natal, foram 943 kg, em 2020, e
2,3 toneladas, em 2021. Em Ilhéus, na Bahia, não houve registros de apreensões
de 2009 a 2019. Já em 2020, foram 2,1 toneladas.
O relatório
mostra que o Brasil é citado como o principal exportador de cocaína para fora
do continente americano, ficando à frente até mesmo da Colômbia, do Peru e da
Bolívia, os três grandes produtores dessa droga no mundo. Brasil, Colômbia e
Equador são apontados como os principais pontos de saída da cocaína que chega à
Europa.
Os dados mais uma
vez correspondem aos informados pela PF à Diálogo. Em 2020, os principais
destinos das drogas apreendidas em portos brasileiros foram, por ordem de
quantidades, Bélgica, Holanda, Espanha, Alemanha, Itália e França. Já em 2021,
Moçambique substituiu a Alemanha no quarto lugar e Gana ocupou o sexto lugar,
os dois na África.
De acordo com o
relatório da UNODC, de 2015 a 2021, 70 por cento da cocaína apreendida na
África e 46 por cento dos carregamentos apreendidos na Ásia saíram do
continente americano por meio do Brasil. Em 2020 e 2021, o país chegou a
responder por 72 por cento da cocaína encontrada pelas autoridades asiáticas.
“Nos últimos
seis, sete anos, o relatório já tem mostrado essa tendência dupla do Brasil,
tanto de ser o principal corredor de exportação de cocaína para a Europa, como
também um dos maiores polos consumidores dessa droga no mundo, ficando atrás
apenas dos EUA”, afirmou Rodrigues. Para o pesquisador, isso se deve a algumas
razões, entre elas, a proximidade geográfica com os países produtores de
cocaína; a de trânsito – o Brasil é um país projetado no Atlântico Sul em
direção à África e, portanto, em direção à Europa; e a estrutura do crime
organizado do Brasil, que é suficientemente bem montada para poder fazer a
conexão entre as organizações produtoras nos países andinos e os grandes
distribuidores internacionais.
“O Brasil também
é um país bem conectado com a globalização internacional, com portos bem
movimentados, como Santos, Rio de janeiro, do nordeste, tanto os grandes de
importação de minério de ferro como os que recebem a economia de contêineres
internacionais. E é nessa dinâmica, nesse fluxo da economia legal, globalizada,
que também circula a economia ilegal. Quanto mais há trânsito de economia legal
mais há de economia ilegal”, completou o pesquisador.
LEIA TAMBÉM: ESTUDO MOSTRA IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE ROTAS DE COCAÍNA NO BRASIL
Fonte: Por Nelza Oliveira - Diálogo
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