Pela
implementação da Aresp em mais de 200 terminais do país, ele venceu o Prêmio
Espírito Público 2021 na categoria Segurança Pública
Após observar a
elevada incidência de crimes nos portos brasileiros, como pirataria, tráfico de
drogas, de pessoas e de armas, o policial federal Felipe Scarpelli, 44, usou
sua experiência em inteligência para desenvolver uma ferramenta que calcula
riscos nos ancoradouros. A metodologia permitiu a criação de novas medidas de
proteção a passageiros e funcionários portuários.
Pela
implementação da Aresp (Análise de Riscos com Ênfase em Segurança Portuária) em
mais de 200 terminais do país, Scarpelli venceu o Prêmio Espírito Público 2021
na categoria Segurança Pública, “por acreditar na melhoria contínua das
instituições para garantir a segurança das pessoas”, como a instituição
justifica a escolha.
O servidor
público explica que devido à importância econômica e ao grande desafio em
proteger as instalações e as áreas aquáticas, os portos são alvos reais ou
potenciais de ações criminosas, movimentos sociais e atos terroristas, entre
outros.
“Mais de 90% das
riquezas do Brasil, mercadorias importadas e exportadas, passam por terminais
portuários. Quando desenvolvemos a Aresp, a aplicamos em diversos portos e
notamos que não havia um padrão na fiscalização. Até a homologação dessa
ferramenta, em 2020, cada um fazia o seu estudo de risco”, afirma Scarpelli.
A metodologia
Aresp é um instrumento técnico de planejamento que avalia os riscos internos e
externos dos terminais, desenvolvida por Scarpelli em parceria com a Conportos
- Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias
Navegáveis. Ela foi referência para o Plano de Segurança Portuária, documento
que permite aos portos atuarem internacionalmente.
Em várias etapas,
que passam de consulta com especialistas a questionários para levantar as
vulnerabilidades dos portos, são realizadas ações voltadas para a defesa e a
segurança física do local. “Em alguns terminais, havia a necessidade
significativa de implementar medidas de proteção”, conta.
Em um primeiro
momento, é feita uma lista dos bens que se pretende proteger, tangíveis e
intangíveis, como a imagem. Em seguida, há a análise das ameaças a esses ativos
e, depois, o questionário. “É uma avaliação de inteligência e investigação para
entender onde aquele terminal está instalado, qual o histórico de tráfico de
drogas e de pessoas, se há risco de terrorismo”, conta Scarpelli.
O aprendizado que
teve ao atuar em dois grandes eventos no Brasil, a Copa do Mundo e as
Olimpíadas do Rio, serviu de lição para o agente aprimorar a ferramenta que
demorou dois anos para ser elaborada.
Mineiro de Belo
Horizonte, Scarpelli trabalha na PF desde 2005. Atualmente, ele atua na
coordenação de proteção à pessoa desenvolvendo a metodologia de risco à
proteção dos candidatos à Presidência da República.
Ele explica que o
sistema de controle dos terminais portuários é relativamente bom, mas que a
Aresp dá a oportunidade de padronizar esses procedimentos, o que traz vantagens
ao setor público.
“Facilita tanto a
parte da auditoria do governo como traz também adequabilidade. Serve como base
para que os terminais públicos tenham um estudo para justificar investimento em
proteção. Permite ter mais economia e transparência”, diz.
Antes cada porto
contratava uma empresa que poderia usar metodologia não transparente e cujas
medidas de segurança eram prescritivas, afirma Scarpelli. Além disso, segundo
ele, era cobrado um dinheiro significativo para fazer esse tipo de análise.
Para uma melhor
compreensão da ferramenta, o agente dá um exemplo prático. Se é identificado
que em determinada área do porto há roubo de bagagens constantemente, pode-se
sugerir a instalação de banners alertando os passageiros para terem atenção
redobrada com as malas ali.
Scarpelli explica
que a análise de risco visa um equilíbrio, já que medidas de proteção
demasiadas engessam o processo no terminal, quando não havia ameaça real que
pudesse justificar toda essa proteção.
O presidente da
Conportos, Marcelo João da Silva, 50, diz que a metodologia ajudou a manter uma
gestão mais clara e objetiva nos portos. “Antes não se enxergava o problema.
Com essa padronização, facilitou o processo e os diálogos. É uma ferramenta
auditável”.
Imprevistos
evitáveis Um dos riscos universalmente conhecidos, de acordo com Scarpelli, são
os imprevistos. Com a Aresp, ele explica que é analisado qual o impacto do
evento inesperado para aquele negócio, sejam questões financeiras ou de imagem
institucional, relacionadas a crimes. A ferramenta também proporciona a chance
de preparar um plano de contingência.
“Entendemos
matematicamente a probabilidade de determinado evento acontecer em um terminal
portuário, qual a repercussão teria ao porto e à imagem institucional do
Brasil. É um procedimento relativamente simples, mas que traz uma base técnica”.
Scarpelli cita um
porto do Nordeste que virou um ponto de tráfico de drogas, principalmente para
a Europa. Ali, segundo ele, a análise de risco conseguiu verificar que havia
vulnerabilidades que não eram tratadas porque não havia esse estudo. O plano
era só para cumprir uma normativa. “Fazemos uma análise de risco para entender
o contexto do terminal na região e preventivamente vamos atuar para que o risco
não ocorra. O foco é preventivo”.
Fonte: Amazonas Atual
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