Autoridades
comentam sobre onde o criminoso pode estar e qual a relevância do Porto de
Santos para o tráfico internacional da drogas
O narcotraficante
André Oliveira Macedo, mais conhecido como André do Rap, é um dos criminosos
mais procurados do mundo. Neste mês, completou 600 dias que o criminoso, que
morou em Guarujá, no litoral de São Paulo, está foragido.
Ele é procurado
desde outubro de 2020, quando foi solto da prisão pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). O delegado que participou da prisão do traficante, em 2019, fez
declarações inéditas sobre o caso. Segundo ele, a principal facção criminosa do
Estado de São Paulo teria crescido na Baixada Santista, principalmente, por
conta do Porto de Santos.
Leia TambÉm: JUSTIÇA LIBERTA UM DOS MAIORES TRAFICANTES BRASILEIROS
Segundo o diretor
do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) Fábio Caipira, André
do Rap continua fomentando o tráfico de drogas e tem a rota de envio da droga
de São Paulo, através do Porto de Santos, para a Europa. “Ele, nas ruas,
representa isso aí. Disseminação de drogas provenientes da América do Sul para
o mundo inteiro”, disse a autoridade, que participou da prisão do criminoso,
ocasião em que era delegado.
Apontado como um
dos chefes da facção criminosa, que atua dentro e fora dos presídios de São Paulo,
André do Rap deveria ter retornado ao endereço em Santos, que ele tinha dado à
Justiça. Segundo Caipira, André nunca chegou ao endereço na cidade santista.
“Ele saiu da
penitenciária de Venceslau, já foi embora para o Paraná e nunca mais apareceu.
E agora nós temos este problema nas mãos que é prendê-lo outra vez. Não
acredito que ele esteja escondido na Baixada. Eu acho que ele pode até
comparecer na Baixada vez ou outra por causa dos negócios”, disse Caipira em
entrevista à TV Tribuna, afiliada da Rede Globo.
O promotor do
Ministério Público de São Paulo (MP), Lincoln Gakiya, afirmou à TV Tribuna que
acredita que André do Rap esteja na Bolívia. Mas, segundo ele, os policiais
brasileiros não têm autorização para ingressar naquele país e fazer as buscas.
"Por outro
lado, a própria polícia da Bolívia não colabora indicando onde estaria o André.
Então, vejam a dificuldade que é a falta de colaboração do governo da Bolívia
com as autoridades brasileiras. Lembrando que o Brasil fez tratados de
cooperações vigentes com a Bolívia, que, infelizmente, não são cumpridas”,
explica Gakiya.
Esquema – 17 empresas (quadrilhas)
O diretor do Deic
acrescenta que André fez declarações para ele de como funcionava o tráfico
internacional na Baixada Santista, quando preso pela primeira vez. Segundo
relatado pela autoridade, uma pessoa passava as drogas para André, em Cubatão
ou Guarujá, e ele encaminhava para fora do país. Caso os entorpecentes fossem
apreendidos pela Receita Federal, André ressarcia o traficante.
“Quando ele foi
preso, eu vim conversando no helicóptero que ele estava usando de Angra dos
Reis para São Paulo. Ele conversou informalmente. Disse que igual ele existiam
mais 16 empresas. Eles se denominavam empresas que fazem o tráfico
internacional de drogas. Através do Porto de Santos, de Itajaí e de outros
portos do Brasil. E ele dizia que ele era o que tinha mais respeito porque
garantia a entrega”.
Tráfico de drogas no Porto de Santos
O promotor MP,
Lincoln Gakiya, afirmou que a organização criminosa hoje é a maior facção do
Brasil e da América do Sul, com cerca de 40 mil integrantes. Segundo ele, a
Baixada Santista é muito importante para a facção, pois, é do Porto de Santos
que sai quase toda a cocaína que é traficada para a Europa.
“A Baixada sempre
foi importante para o Primeiro Comando da Capital - PCC porque ela tem pontos
de tráfico muito interessantes para a facção, com pontos de venda que geram
muito lucro interno, e também criminosos importantes. Então, ela sempre teve um
destaque no PCC e na arrecadação de recursos, não só pelo tráfico
internacional, mas também pelo tráfico interno que é muito importante pra
facção”, explicou.
O diretor do
Deic, Fábio Caipira, ressaltou o quanto o PCC cresceu na Baixada Santista por
conta do Porto de Santos. “Eles [os traficantes] viram que fazer o tráfico
internacional de drogas é tão mais rentável do que o tráfico no varejo dentro
das comunidades. Eu acho que isso que fez com que eles procurassem a Baixada.
Com este acúmulo de traficantes tentando fazer o tráfico internacional, acabou
fazendo o partido crescer na região”.
Gakiya comenta
que André do Rap tem vínculos importantes na região portuária, isso faz com que
ele consiga contatos e acione estivadores, servidores e até tripulantes de
navios que facilitam o acesso ao Porto de Santos.
“Então, o André
do Rap, mesmo foragido há mais de 600 dias, é um dos mais importantes
integrantes do PCC, até porque os demais acabaram sendo presos. Um pequeno
traficante, na região do Guarujá, se tornou um dos mais poderosos
narcotraficantes do país e da América do Sul”.
Quem é André do Rap
Apontado como um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), o traficante André Oliveira Macedo, foi preso em setembro de 2019 e foi solto em outubro de 2020.
André deixou a
Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista, após ter um habeas
corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio
Mello. Horas depois, o presidente do STF, Luiz Fux, suspendeu a decisão e
determinou o retorno de André à prisão.
Prisão em 2019
André do Rap foi
preso em setembro de 2019, em uma operação feita pela Polícia Civil de São
Paulo em um condomínio de luxo em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro,
e é investigado por gerenciar o envio de grandes remessas de cocaína à Europa.
Ele chegou a morar no exterior. Antes disso, tinha ficado preso por 7 anos, até
2014. Em 2019, quando preso, ele chegou a São Paulo no próprio helicóptero.
Ele era procurado
pela Interpol [polícia internacional] e a operação contou com uma equipe de 23
policiais do Garra, o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos, do Gope, o
Grupamento de Operações Penitenciárias Especiais e da Divisão Antissequestro.
André do Rap foi
encontrado em um condomínio de luxo no bairro Itanema, que fica às margens da
BR-101 (Rodovia Rio-Santos).
Na residência,
foram apreendidos dois helicópteros, um deles avaliado em R$ 7 milhões e uma
lancha de 60 pés, avaliada em R$ 6 milhões. A casa era alugada, mas ele tinha
uma mansão na cidade, fora de um condomínio.
LEIA TAMBÉM: A PRISÃO DE ANDRÉ DO REP, APONTADO POR TRAFICAR DROGAS PELO PORTO DE SANTOS
Lancha ajudou a encontrá-lo
A lancha foi um
dos elementos que ajudaram a polícia a localizá-lo em 2019. Os investigadores
descobriram que uma empresa de fachada comprou a embarcação, e a pessoa
responsável era alguém que não tinha rendimentos o suficiente para arcar com os
valores.
"Ela está em
nome de um empresário que tem uma moto CG [um dos modelos mais básicos de
moto]. Como um cara que tem uma moto CG tem uma lancha de R$ 6 milhões? A gente
acredita que ele usava essas pessoas como “laranjas” para lavar o dinheiro
dele", disse na ocasião Fábio Pinheiros Lopes, delegado da Divisão
Antissequestro.
André do Rap era
dono de um sítio investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais
(Deic) em Bertioga.
Segundo o Deic,
ele substituiu Wagner Ferreira, o “Cabelo Duro”, assassinado na porta de um
hotel no bairro do Tatuapé, Zona Leste, logo depois das mortes de Gegê do
Mangue e do Paca, no Ceará. Segundo a polícia, até 2018, o tráfico de Santos era
comandado por Gegê do Mangue.
André já era
conhecido da polícia e ficou sete anos e meio preso, até ser solto em 2008.
As condenações por tráfico
Ele estava preso
por duas condenações em segunda instância por tráfico internacional de drogas,
com penas que totalizam 25 anos, nove meses e cinco dias de reclusão em regime
fechado.
O esquema de
tráfico que envolvia André foi descoberto em 2013, considerado um dos maiores
esquemas de remessa de cocaína do Brasil ao exterior pelo porto santista.
Investigações da
Polícia Federal resultaram nas apreensões de 3,7 toneladas da droga, no país e
fora dele, entre janeiro de 2013 e março de 2014. Também foi apurado o vínculo
do PCC com a máfia italiana "Ndrangheta".
O Ministério
Público Federal (MPF) ajuizou ações penais para cada uma das apreensões, que
denominou de “eventos”. O traficante estava envolvido em dois deles.
Em um, chamado de
evento nº 2, houve a interceptação de 84 quilos de cocaína, em 23 de agosto de
2013. A droga seria despachada no navio MSC Vigo para o porto espanhol de
Valência
No outro, chamado
evento nº 13, foram apreendidos, em 17 de dezembro de 2013, 145 quilos de
cocaína que seriam levados no navio MSC Athos ao Porto de Las Palmas, nas Ilhas
Canárias, Espanha.
Fonte: Por
Rodrigo Nardelli, g1 Santos
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