As
Operações Retis e Spiderweb são desdobramentos da Operação Enterprise,
deflagrada pela Polícia Federal em 2020
A Polícia Federal
(PF) e a Receita Federal do Brasil (RFB) deflagram no dia 24 de março as Operações
Retis e Spiderweb, que teve como objetivo reprimir e desarticular organizações
criminosas especializadas na remessa de cocaína da América do Sul para o
continente europeu.
As investigações
mostraram que, do Brasil, a droga era transportada para terminais portuários da
Itália, da Alemanha, da França e da Holanda.
Foram expedidos
17 mandados de prisão e 86 mandados de busca e apreensão para cumprimento nos
Estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Também foram decretadas medidas
patrimoniais de sequestro de imóveis, bloqueio de bens e valores existentes nas
contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados, que totalizam um
valor estimado de aproximadamente R$ 55.000.000,00 (cinquenta e cinco milhões
de reais), havendo ainda grande probabilidade de que no decorrer dos trabalhos
haja a identificação e o bloqueio de outros bens vinculados aos integrantes das
Organizações Criminosas.
Os investigados
na operação responderão pelos crimes de tráfico internacional de drogas, com
penas que podem chegar até 25 anos de reclusão para cada ação perpetrada, bem
como pelos crimes de pertinência a organização criminosa e associação para fins
de tráfico, que podem chegar a 24 anos de reclusão.
Porsche e BMWs apreendidos em SC
Ao menos três
carros de luxo foram apreendidos em Balneário Camboriú
Os carros
apreendidos são um Porsche 911 Turbo S, uma BMW M5 e uma BMW 320I, que juntos
ultrapassam o valor de R$ 2 milhões.
Operação Enterprise
As operações são
um desdobramento da Operação Enterprise, deflagrada em 2020 pela RFB e PF após
uma apreensão de cocaína realizada pela Receita Federal em 2017. Os dados
levantados pelos dois órgãos permitiram um aumento nas apreensões em 2019 e
possibilitou à Polícia Federal obter mais informações sobre as quadrilhas e
suas atividades.
De cerca de 15
toneladas de cocaína apreendidas pela Receita Federal, em 2019 no Porto de
Paranaguá, estima-se que pelo menos metade foi introduzida ilegalmente no porto
pelas organizações criminosas alvo das operações Retis e Spiderweb.
No decorrer das investigações, foram realizadas 80 apreensões no Brasil e no exterior que totalizam, aproximadamente, 21 toneladas de cocaína.
Modus Operandi
As investigações
revelaram que estas organizações criminosas se utilizavam de métodos variados
para promover a remessa dos carregamentos de cocaína a países da Europa, inclusive com aliciamento de caminhoneiros, no
Terminal de Contêineres de Paranaguá – TCP, localizado no Porto de Paranaguá,
no Paraná, tais como: a inserção da droga por mergulhadores em compartimento
submerso do navio (“sea chest”), ocultação em contêineres sem conhecimento do
exportador, modalidade conhecida internacionalmente como “RIP ON-RIP OFF”,
ocultação no maquinário refrigerador dos contêineres, acondicionamento
dissimulado da droga no interior de cargas lícitas de madeira, suco de laranja,
açúcar, entre outras.
Como agiam as quadrilhas
Durante o
inquérito, a Polícia Federal identificou os responsáveis pela remessa da
cocaína, que era introduzida ilegalmente no porto com o auxílio de
caminhoneiros que eram cooptados para este fim. Dentro do terminal portuário,
integrantes do grupo utilizavam o método rip-on/rip-off, no qual contêineres de
importadores sem envolvimento com o grupo eram abertos e contaminados com a carga
de cocaína. Funcionários do terminal portuário, também aliciados pela quadrilha,
indicavam quais os contêineres que tinham como destino o porto desejado pela
organização criminosa. Uma colaboração com autoridades francesas permitiu o
acompanhamento de um carregamento para o porto de Le Havre, resultando na
prisão dos destinatários da remessa ilegal.
SAIBA MAIS: QUADRILHA RECRUTA CAMINHONEIROS E FUNCIONÁRIOS DO PORTO DE PARANAGUÁ EM ESQUEMA DE TRÁFICO DE DROGAS, DIZ DELATOR
Atuação da Receita Federal
A Receita Federal
colaborou com as investigações da Polícia Federal monitorando as atividades
suspeitas dentro da área do porto. Esse monitoramento foi realizado com o
auxílio do circuito interno de televisão e com a utilização de todos os
sistemas aduaneiros da Receita Federal, o que contribuiu na identificação de
motoristas e responsáveis pela movimentação da droga no terminal portuário. A
Receita Federal também monitorou a pedido da Polícia Federal a movimentação
patrimonial de integrantes da quadrilha.
Além do monitoramento,
a Receita Federal realizou dezenas de operações de fiscalizações com o objetivo
de localizar os carregamentos de droga que eram inseridos pelo grupo criminoso.
Com a atribuição legal de fiscalizar a entrada e saída de produtos nas
fronteiras, portos e aeroportos, a Receita Federal utiliza equipamentos como
scanners, cães de faro, lanchas e helicópteros para impedir a ação de
criminosos. De 2019 até hoje, a Receita Federal apreendeu mais de 31,5
toneladas de cocaína em 75 ações distintas realizadas no Porto de Paranaguá.
Durante os
trabalhos, foram realizados dois procedimentos de entrega controlada em
conjunto com a França, que proporcionaram às autoridades daquele país a
oportunidade de acompanhar o recebimento da cocaína em solo europeu, com a identificação
do grupo criminoso responsável pela retirada da droga (“RIP OFF”) no Porto de
Le Havre, resultando na prisão dos envolvidos e apreensão de pistolas e fuzis,
além da droga remetida.
Apurou-se,
também, que as organizações criminosas investigadas possuem vínculo direto com
a máfia italiana, especificamente com uma organização mafiosa constituída na
região da Calábria, que contrata a logística executada pelos investigados em
Paranaguá para enviar os carregamentos de cocaína até os portos da Europa, em
especial o porto italiano situado na região na qual detém predomínio nas ações
criminosas.
As organizações
criminosas alvos da operação de hoje também se caracterizam pela extrema
violência empregada em suas ações, havendo a constatação do envolvimento de
seus integrantes em homicídios, inclusive o líder de um destes grupos foi
executado a tiros.
Notas do Terminal e do Porto
A empresa que
administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá, TCP, afirmou que colabora
com os órgãos competentes no fornecimento de informações para as investigações.
A companhia reforçou, em nota, que tem "um amplo sistema de segurança e
escaneamento de cargas".
Também por nota, a
empresa pública que administra o Porto de Paranaguá disse que as ações foram
realizadas em terminal privado no porto paranaense. Sobre o envolvimento de
funcionários do porto, afirmou que "não há qualquer acusação contra
colaborador do quadro da empresa pública ou de contratadas por esta, sendo,
portanto, equivocada a informação".
Suspeitos
As investigações da Polícia Federal, que constam no Inquérito Policial 049/2019 SR/DPF/PR, apontam que Anderson Pereira
Machado era o líder da organização, que inclusive tinha uma frota própria de
caminhões, adquirido em nome de interpostas pessoas.
Alguns suspeitos de
integrar as organizações criminosas envolvidas nas operações foram divulgados
pela no Programa Litoral Urgente, com a participação da
Nove pessoas foram identificadas como lideres operacionais da organização criminosa. Três deles são considerados os principais integrantes e auxiliares do líder do grupo. Cabia a eles a função de aliciar caminhoneiros e coordenar as ações dos demais integrantes.
Além dos lideres
e principais integrantes, alguns caminhoneiros também foram identificados. Eles
eram responsáveis por introduzir a droga nos contêineres.
Também foram
identificados dois mergulhadores e dois estrangeiros responsáveis pela
contratação da remessa da droga
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