As
ações ocorreram, de forma simultânea, em cinco estados e três países
A Polícia Federal
(PF) deflagrou no dia 15 de fevereiro, duas operações simultâneas com o
objetivo de desarticular organizações criminosas voltadas ao tráfico
internacional de drogas e a lavagem de capitais.
Cerca de 200
policiais federais, além de membros do Ministério Público Federal (MPF) e
auditores fiscais da Receita Federal do Brasil (RFB), participaram das duas
operações em que foram cumpridos, ao todo, 86 mandados judiciais, expedidos
pela 5ª e 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Nas operações
foram apreendidas máquinas de falsificar dinheiro, forte armamento, como fuzis
e pistolas, cartuchos e estojos de munições.
Operação TURFE
No âmbito da
Operação Turfe, os policiais federais cumpriram, com participação de auditores
fiscais da Receita Federal do Brasil (RFB) e membros do GAECO/MPF, 20 mandados
de prisão e 30 de busca e apreensão em residências dos investigados e nas
empresas supostamente ligadas à organização criminosa, expedidos pela 5ª Vara
Federal Criminal, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Mato Grosso, além de medidas de cooperação policial no Paraguai, Espanha
e Emirados Árabes (Dubai). A Justiça Federal também decretou o sequestro de
aproximadamente 250 milhões em bens.
Investigação
A investigação
teve início há cerca de um ano e meio e identificou uma organização criminosa
que atua no transporte de cocaína da fronteira oeste do Brasil até portos do estado
do Rio de Janeiro e São Paulo. A PF descobriu ainda que os bandidos montaram uma
grande logística para trazer as drogas da Colômbia e Bolívia.
Para estocar as
drogas e que posteriormente seriam levadas para os portos da Europa — em
especial de Barcelona e Valência e depois enviados para outros países daquele
continente, traficantes da maior facção criminosa do Rio guardavam os
entorpecentes na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na Zona Norte.
A droga era
inserida em contêineres a serem exportados, utilizando-se da prática conhecida
como rip on rip off, que consiste em utilizar uma exportação legítima para
enviar a droga ao exterior.
“Por serem
grandes quantidades de drogas, essas remessas nem sempre eram feitas de uma vez
só. O modal utilizado foi o marítimo. As remessas eram movimentadas através de
contêineres. Foram sete eventos distintos, quando as drogas eram levadas de
forma fracionada”, afirmou o delegado regional da PF, João Barreto.
No ano passado,
de acordo com a Polícia Espanhola, nove pessoas foram presas nos portos de
Barcelona e Valência na retirada das drogas.
Lavagem de dinheiro
Também foi
identificada uma rede utilizada, que usava de casas de câmbio para lavar o
dinheiro. A organização criminosa se valeu de interpostas pessoas físicas e
jurídicas a fim de evitar o rastreamento dos recursos financeiros obtidos de
forma ilícita pelos órgãos de controle e persecução penal brasileiro.
A RFB monitorou
as operações de exportação em cooperação estreita com a PF, bem como, realizou
a análise fiscal de diversos investigados, o que contribuiu para caracterização
do delito de lavagem de capitais.
Ao todo foram
apreendidas, ao longo da investigação, mais de 8 toneladas de cocaína, tanto no
Brasil, quanto na Europa – destino final do entorpecente. Além disso, mais de
R$ 11 milhões foram arrecadados dos criminosos, ainda na fase sigilosa, antes
da deflagração.
No campo
internacional, com a participação do DEA (Drug Enforcement Administration), da
Guarda Civil Espanhola e da EUROPOL, as autoridades brasileiras e estrangeiras
atuaram em franca cooperação, otimizando os resultados alcançados contra o
grupo criminoso.
De acordo com o
superintendente regional da PF, Tácio Muzzi, as operações contaram com apoio de
órgãos de países como: França, Marrocos, Bélgica, Itália e Holanda.
O nome da
operação faz referência a uma das formas de lavagem de capitais da organização
criminosa que é a aquisição e negociação de cavalos de corrida.
Incursão na favela
Com relação a
Vila Cruzeiro [comunidade onde foi cumprido um dos mandados], eles usavam o
local para armazenar a droga e depois enviar para a Europa”, explicou o
delegado da Polícia Federal, Heliel Martins.
Alvo número 1
Reportagem revelou
que o proprietário e investidor de cavalos Puro Sangue Inglês (PSI), que
disputam corridas no Hipódromo da Gávea e em outros prados pelo Brasil e no
exterior, Cristiano Mendes de Cordova Nascimento, de 42 anos, era um dos
principais alvos da Operação Turfe.
A identidade do
suspeito foi revelada pelo Programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão.
Cristiano, que está preso, é suspeito de lavar dinheiro com a compra e venda de
produtos de luxo ou caros e seria o chefe da quadrilha.
— A gente estima
que ele possa ter atualmente 60 cavalos de corrida, sendo que um único desses
animais pode valer 500 mil dólares (mais de R$ 2,5 milhões). Mas não eram
apenas cavalos de corrida. Ele acumulava bens de elevado valor, como carros e
imóveis de luxo, aviões particulares e bens de elevado valor — disse o delegado
da Polícia Federal, Heliel Martins.
Antes da operação,
a quadrilha já havia sofrido diversas perdas no Brasil e no exterior. Em
novembro de 2021, 700 kg de cocaína foram apreendidos quando um caminhão tombou
na Avenida Brasil, quando os ocupantes fugiam da polícia. A quadrilha também já
teve drogas apreendidas em Marrocos e na Espanha.
Cristiano Mendes,
que se apresentava como empresário dono de uma transportadora despertou a
atenção dos aficionados pelas corridas quando no início de 2020 decidiu
contratar o jóquei Jorge Ricardo como titular para montar seus cavalos na
Gávea. Recordista mundial de vitórias, Ricardinho aproveitou o convite para
voltar a morar no Rio, depois de 15 anos radicado na Argentina. A polícia já
descartou a participação do jóquei com atividades criminosas.
Segundo a PF,
depois de escolher o destino da droga, a quadrilha substituía no Porto do Rio de
Janeiro parte de mercadorias legalizadas acondicionadas em contêineres, por
entorpecentes, sem o conhecimento das transportadoras. O esquema, inclusive,
foi revelado por integrantes da quadrilha em interceptações telefônicas
autorizadas pela Justiça:
— Só tira a
quantidade de cimento que tiver para completar os 1,8 mil kg e coloca tudo em
bolsa. Vai dar 36 sacos — diz Lindomar Reges Furtado, que segundo a reportagem
seria braço direito de Cristiano.
Outro detido na
operação foi o ex-zagueiro do Vasco da Gama, Alexsandro Marques de Oliveira,
campeão pelo clube em 2003. Segundo a polícia, seria ele quem alugaria os
galpões usados pela quadrilha.
O Fantástico teve
acesso a imagens que mostram um desses contêineres retirado do porto, levado
até um galpão no Caju, e depois devolvido. O bando tinha uma aliança com a
principal facção criminosa que atua no Rio.
— O grupo tem uma
visão empresarial sobre esse tráfico. Mas eles se associaram a facções
criminosas para fins de armazenamento e segurança da carga aqui no Sudeste —
acrescentou o delegado.
A defesa de
Lindomar disse que ele só vai se manifestar depois de analisar os documentos da
investigação. Já os advogados de Alexsandro disse que não há provas de
envolvimento do cliente. Por sua vez, a defesa de Lindomar disse que considerou
desnecessária a prisão preventiva do cliente; e que os fatos serão esclarecidos
em juízo.
Alvo número 2 – o braço direito
A Secretaria Nacional
Antidrogas (Senad), do Paraguai, revelou que ele é considerado o “maior
narcotraficante conhecido da atualidade”. Ele possui 67 processos abertos no
Brasil, ligados ao tráfico de drogas.
Os agentes da
Polícia Federal e da SENAD invadiram a sua mansão no condomínio de luxo Paraná
Country Club, de Hernandarias.
Lindomar e a
esposa Gladys Aparecida Duarte, no entanto, conseguiram fugir das equipes
policiais apenas 45 segundos antes da chegada, em uma Toyota Hilux. Segundo a
PF ele teria sido informado por seguranças do condomínio, e abandonou o local
por uma saída alternativa.
O assessor de
imprensa da Senad, Francisco Ayala, informou que as equipes só foram liberadas
três minutos depois da chegada ao condomínio e, ao entrarem, tiveram a passagem
obstruída por uma BMW. Então, eles tiveram que vistoriar a caminhonete, pois
Lindomar poderia estar lá, o que atrasou a chegada das equipes na casa dele.
Segundo o ABC
Color, as imagens do circuito de segurança não mostram o momento em que ele sai
do veículo. Uma das hipóteses é a de que ele pode ter fugido pelo Rio Paraná,
ou por uma área de mata.
“Na portaria (do
condomínio), eles nos detiveram por um tempo inexplicável. E nas câmeras de
segurança se vê como nosso alvo escapava, enquanto nós esperávamos para
entrar”, disse à rádio Monumental 1080 AM o promotor Manuel Rojas.
“Estamos falando
de uma diferença de 45 segundos entre a saída do veículo com o narcotraficante
e a chegada da equipe”, disse Ayala. Além disso, seguranças do condomínio
detiveram os policiais, mesmo estes apresentando mandado de busca.
Ele e o também
promotor Elvio Aguilera lideraram as buscas dentro das investigações por
tráfico internacional de drogas, que no Brasil ganhou o nome de Operação Turfe.
Detenções
Manuel Rojas
disse que foram obrigados a entrar à força no condomínio. Uma das familiares do
suspeito chegou a bloquear com um veículo a passagem dos promotores e dos
agentes da Senad.
Tanto a mulher
como cerca de 20 seguranças do Paraná Country Clube foram detidos por suspeita
de facilitar a fuga.
Segundo o
promotor, o brasileiro, é suspeito de ser o principal responsável pelo envio de
23 toneladas da cocaína apreendida na Europa, no ano passado. Haveria vínculos
também com outras apreensões feitas no Paraguai.
Não é de estranhar
outra informação prestada pelos promotores: o brasileiro suspeito de chefiar
uma organização criminosa de tráfico internacional de drogas tinha dois habeas
corpus que lhe permitiam circular livremente pelo Paraguai.
Não podia ser preso?
Desde 2021, o juiz
Carlos Vera Ruíz, de Cidade Del Leste, já tinha concedido habeas corpus
preventivo a Lindomar.
A justificativa
sobre já obter o habeas corpus, segundo informações policiais, é de que
Lindomar era vítima de extorsão por parte da polícia, no entanto, ele já estava
sob investigação há dois anos, no âmbito da operação Turfe.
A organização é
composta por brasileiros, que levam a cocaína do Paraguai ao Brasil e, daqui, à
Europa, em contêineres embarcados nos portos de Paranaguá e Santos.
Com a fuga do
suspeito, promotores e policiais fizeram buscas minuciosas na casa dele e
também na sua empresa, em Ciudad del Este. Ele teria outras propriedades no
Paraguai, o que leva os promotores a suspeitar também de lavagem de dinheiro no
país.
Outros Presos
Até a última atualização
desta reportagem, de todas as pessoas que haviam sido presas no Brasil, três
são estrangeiros: um de Portugal, o outro da Espanha e o terceiro dos Países
Baixos. Sendo ainda 4 detidos na Espanha.
Sumaré-SP
Um homem,
apontado como integrante de uma das maiores organizações criminosas de tráfico
internacional de drogas em atividade no país, foi preso em flagrante em Sumaré.
Na casa do suspeito, os agentes da Polícia Federal localizaram cerca de R$ 1
milhão em maços com cédulas de R$ 100, aparentemente falsas.
Baixada Santista- Santos/Guarujá/ Praia Grande
- SP
Na Baixada
Santista, os alvos foram localizados em três cidades: Santos, Guarujá e Praia
Grande. Uma delas foi na Vila Santa Rosa, em Guarujá, onde foram
apreendidas munições e uma obra de arte,
avaliada em R$ 9.700,00.
Campinas-SP
Em Campinas, no
interior de São Paulo, os agentes encontraram pelo menos R$ 900 mil em notas de
R$ 100 na casa de um dos alvos.
Balneário Camboriú, Florianópolis, São
Francisco do Sul e Araquari - SC
Quatro cidades de
Santa Catarina foram alvos de operações simultâneas contra o tráfico
internacional de drogas e a lavagem de dinheiro. Mandados de busca e apreensão
foram cumpridos em Balneário Camboriú, Florianópolis, São Francisco do Sul e
Araquari. A PF não informou sobre prisões.
Rondonópolis-MT
Na cidade, a 218
km da capital, Cuiabá, além do mandado de prisão, três mandados de busca e
apreensão foram cumpridos, um na casa de um empresário, que não teve a
identidade revelada, e outros dois em escritórios de contabilidade e empresas da
cidade, que teriam ligação com o tráfico internacional. Esse empresário é
apontado pela PF como um membro importante na quadrilha e atuaria na lavagem de
dinheiro.
Durante o
cumprimento do mandado de prisão e busca e apreensão na sua residência os
policiais encontraram um revólver e uma pistola. A esposa acabou presa em
flagrante por porte ilegal de arma, mas liberada em seguida após pagamento de
fiança. Na casa, também foi apreendido um veículo Toyota SRV, avaliado em mais
de R$ 200 mil.
Segundo a mulher,
o marido teria viajado para a cidade de Araçatuba, em São Paulo.
Foz do Iguaçu
Em Foz do Iguaçu,
policiais cumpriram dois mandatos de prisão e três buscas e apreensão em
condomínios de luxo na cidade.
Carros de luxo
estavam em uma residência em Foz do Iguaçu (PR), que faz fronteira com o
Paraguai, foram apreendidos
Paraguai
Entre os presos na operação está a cabeleireira de Balneário Camboriú, Karla Andressa Guimarães. Dois vigias do condomínio, Miguel Paniagua Mello e Eusebio Cáceres Benítez, também foram presos por obstrução da operação policial.
De acordo com o
relato do jornal “La Nación”, Andressa teria tentado distrair os policiais para
ajudar na fuga de outros dois envolvidos. “Ela estava na casa e temos elementos
que indicam sua relação com um dos lideres do grupo criminoso que, nesta
ocasião, atuou como elemento de distração, explicou o procurador Manuel Rojas,
que liderou a operação no Paraguai.
A cerca de 70 metros da casa, os policiais avistaram um veículo,
alvo da operação. Ao ser abordado, que estava no carro era Karla, de pijama,
ela alegou estar indo comprar pão. No veículo foram localizados documentos de
Lindomar. Enquanto a mulher era abordada, o suspeito conseguiu fugir em uma
caminhonete.
Vínculo com máfia italiana
Segundo o Senad,
o ex-morador de Mato Grosso, Marcus Vinicius Espindola Marques Pádua, foi preso
no Paraguai. Ele é acusado de narcotráfico internacional de drogas e vínculo
com a máfia italiana. Ele era morador de Cocalinho (a 923 km de Cuiabá).
A prisão do
brasileiro fez com que o ministro do Interior do Paraguai, Arnaldo Giuzzio,
fosse demitido, pela relação que tinha com ele.
Após a
destituição, o ministro paraguaio se defendeu dizendo que conheceu o traficante
brasileiro por conta de serviços de blindagem. Conforme Arnaldo, Marcus representava
a empresa Black Eagle.
Ele ainda disse
que, em dezembro de 2021, durante uma viagem familiar, seu veículo teria
quebrado e, por isso, encontrou o brasileiro para alugar um veículo de sua
empresa.
O ministro
declarou que tudo ocorreu sem que ele tivesse conhecimento do envolvimento do
brasileiro em uma organização criminosa.
No entanto, os
investigadores paraguaios acreditam que os serviços do brasileiro eram feitos
em benefício de atividades criminosas. A suspeita é de que os veículos de
traficantes eram blindados na empresa de Marcus para, posteriormente, ser
usados no transporte de grandes quantidades de drogas.
Operação Brutium
Na Operação
Brutium foram cumpridos 19 mandados de prisão e 17 de busca e apreensão nos
estados do Rio, Santa Catarina e São Paulo. O alvo foi outra organização
criminosa, que compra drogas na Bolívia e no Peru e revende para a Europa, com
a ajuda de duas facções criminosas brasileiras.
O nome da
operação faz referência a integrantes da organização criminosa No Limit
Soldiers, originária de Curaçao, no Caribe, e com ramificações em outros países
da América Central e na Holanda, composta, em sua maioria, por traficantes de
drogas.
Investigação
A investigação,
iniciada há 2 anos, tem por objetivo combater o tráfico internacional de
cocaína.
A ação contou com
a colaboração das forças de segurança da França, Marrocos, Bélgica, Espanha,
além da agência antidrogas americana, o DEA (Drug Enforcement Administration),
revelou a ação de um grupo criminoso da América Central e Europa em território
nacional.
Até o momento, mais de duas toneladas de cocaína foram apreendidas no Brasil, na Europa e na África, além de R$ 3,5 milhões de reais.
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