As
redes de tráfico de drogas no Brasil usam táticas de distribuição de drogas
existentes para também transportar animais selvagens
Durante a
Operação Aveas Corpus, a Polícia Federal brasileira trabalhou de mãos dadas com
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o Instituto
Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade para coibir o tráfico de animais
silvestres, nos estados do Espírito Santo e Rio
de Janeiro, em 9 de novembro de 2021.
Cientistas da
Universidade de Waterloo, no Canadá, analisaram 150 estudos publicados desde
2000 em todo o mundo e concluíram que o tráfico de drogas é o crime mais ligado
ao comércio ilegal de animais silvestres. A investigação Comércio Ilegal de
Vida Selvagem e Outros Crimes Organizados: Uma Revisão do Escopo, publicada na
revista da Real Academia Sueca de Ciências, em dezembro de 2021, revela que o
contrabando de fauna e flora selvagens pode ser usado para encobrir o tráfico
de drogas. O Brasil seria um exemplo, com centenas de grupos criminosos
envolvidos no comércio ilegal de animais silvestres; Portanto, as autoridades
estão travando uma dupla luta, uma vez que os criminosos também estão
envolvidos em outras atividades criminosas, como o tráfico de drogas e armas.
“As redes de
tráfico de drogas no Brasil usam táticas de distribuição de drogas para também
transportar animais silvestres. Nossos dados sugerem que as convergências do
crime organizado no Brasil podem ocorrer com maior frequência no comércio
ilegal de aves e répteis. Os grupos criminosos envolvidos no tráfico de drogas
no Brasil desempenham um papel de destaque no fornecimento ilegal de animais
silvestres para a Europa e América do Norte”, explicou Michelle Anagnostou,
principal autora do estudo, à Diálogo.
Anagnostou
explica que de todos os crimes graves e organizados identificados na pesquisa,
o tráfico de drogas foi a convergência mais notificada com o comércio ilegal de
animais silvestres. “Drogas e vida selvagem muitas vezes podem ser
contrabandeados juntos nas mesmas remessas e, em alguns casos, a vida selvagem
é usada para camuflar o contrabando de drogas. Além de vários grupos
criminosos, o tráfico de drogas pode coincidir com o comércio ilegal de animais
silvestres de outras formas, como a troca de animais silvestres por drogas
ilícitas ou a transferência de bens ilegais sem dinheiro”, disse Anagnostou.
Segundo o
pesquisador, em alguns casos os traficantes de animais silvestres podem ser
consumidores finais de espécies comercializadas ilegalmente, principalmente
animais exóticos como os grandes felinos, para usá-los como símbolo de poder e
riqueza. "Finalmente, grupos criminosos territoriais como os narcoinsurgentes
podem impor um 'imposto' a outros grupos ilícitos para traficar animais
selvagens através de um território ou porto sob seu controle, como forma de
complementar sua renda", acrescentou Anagnostou.
A Freeland
Brasil, braço sul-americano da Freeland Foundation, organização internacional
que luta contra o tráfico de animais silvestres e de pessoas, indica que no
Brasil há informações que citam o uso das mesmas rotas para o tráfico de
drogas, a corrupção dos mesmos agentes , o uso de animais para esconder drogas
ou o cheiro de entorpecentes, e que os mesmos traficantes realizam os dois
tipos de tráfico.
“Há regiões onde
o contrabando transfronteiriço é controlado por organizações criminosas, sem
cujo conhecimento seria difícil realizar qualquer tipo de tráfico. Por fim, há
casos de tráfico de drogas de um país para outro, onde os mesmos traficantes
retornam ao seu país de origem com vida selvagem ilegal”, comentou Freeland
Brasil em nota à Diálogo.
Segundo a
organização, as espécies que são vítimas do contrabando variam de acordo com o
destino e o mercado consumidor. Aqueles que são traficados mais nacionalmente
diferem daqueles que são traficados transacionalmente. A nível nacional,
traficam aves canoras, papagaios, répteis como jabutis, jabutis, iguanas e
algumas cobras e, em menor escala, araras, pequenos primatas e felinos, entre
outros. Internacionalmente, são traficados peixes ornamentais, incluindo
anfíbios, répteis diversos, araras e papagaios, especialmente aqueles mais ameaçados
e/ou espécies exóticas.
Anagnostou
argumenta que o tráfico de vida selvagem é uma das maiores ameaças à
biodiversidade em todo o mundo, potencialmente perturbando o delicado
equilíbrio dos ecossistemas, já que muitas espécies estão à beira da extinção.
“É uma fonte de introdução de espécies invasoras por meio de animais de
estimação exóticos, que podem competir com plantas e animais nativos. As taxas
atuais de extração ilegal de madeira e tráfico de vida selvagem também
representam sérios danos às pessoas, incluindo ameaças ao desenvolvimento
sustentável. O crime contra a vida selvagem priva as comunidades locais desses
recursos naturais que fornecem benefícios culturais, espirituais e de
subsistência”, explicou.
O Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que, excluindo o comércio ilegal de
peixes e madeira, o tráfico de animais selvagens movimenta cerca de US$ 23
bilhões anualmente.
Michelle
Anagnostou, da Universidade de Waterloo, Canadá, é autora de um estudo que liga
o comércio ilegal de animais selvagens ao tráfico de drogas. (Foto: Arquivo
pessoal de Michelle Anagnostou).
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