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sábado, 5 de fevereiro de 2022

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ESPANHOL CONHECIDO COMO ‘AQUAMAN DO CRIME’ COLOCAVA DROGAS EM CASCOS DE NAVIOS

 

Ele tinha um equipamento razoável e ele tinha o principal que era o conhecimento pra fazer esse mergulho

Criminosos estão em uma lancha, à procura de um alvo. No caso, um grande navio cargueiro. As embarcações estão atracadas na região portuária de Vitória. Há policiais federais na área. Um dos criminosos repassa para o resto da quadrilha o alerta do bandido que está no comando da lancha: o momento de agir não é agora.

“Não sou eu. É o Pollo. Quer ver o que o Pollo tá falando aqui? Não tem como”, diz um dos bandidos.

“Pollo” é uma palavra em espanhol que significa “frango”. O criminoso tem também um outro apelido: o super-herói Aquaman, por causa das suas habilidades embaixo d’água. Mas este é o “Aquaman do crime”.

Joaquín Francisco Gimenez tem 34 anos e nasceu em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, na Espanha. Ele é mergulhador e sócio de uma empresa em Madri que atua na área de transporte marítimo e construção naval.

Entre as várias tatuagens de Pollo, em uma lê-se “plata o plomo” – que significa “dinheiro ou chumbo” em espanhol. Uma expressão famosa do traficante colombiano Pablo Escobar.

‘Aquaman do crime’ tinha frase famosa do traficante Pablo Escobar tatuada na mão — Foto: Reprodução/TV Globo

Nos últimos dois anos, o espanhol passou a vir com frequência ao Brasil. Segundo a Polícia Federal, ele foi contratado pela quadrilha de Marcos Camacho, o Marcola, para coordenar o envio de cocaína para a Europa usando a experiência em estrutura de navios e em mergulhos em alto mar.

“Ele tinha ferramentas apropriadas. Ele tinha um equipamento razoável e ele tinha o principal que era o conhecimento pra fazer esse mergulho”, afirmou o agente Rogério Lages, da Polícia Federal.

Para escapar de um flagrante, os traficantes costumam agir de madrugada. A policia levou a reportagem até o local onde os navios ficam ancorados, e onde o aquaman do crime mergulhava.

     Para chamar menos atenção, traficantes agiam durante a madrugada no Porto de Vitória — Foto: Reprodução/TV Globo

“Pollo falou que tá tranquilo. Tá favorável”, fala um dos criminosos em áudio interceptado.

Eram 4 horas da manhã, a visibilidade era baixa, o mar estava calmo e as condições do tempo eram favoráveis à navegação. Havia 47 navios ancorados no Porto de Vitória.

“Chega devagarzinho, motor desligado pra não fazer barulho da lancha e faz o mergulho. E o navio, você não consegue enxergar de cima. Tem um ponto cego no navio. porque tem aquela curvatura natural do navio, casco do navio”, orienta o delegado da Polícia Federal, Bruno Zane Santos.

     Caixa de mar do navio tem grade onde droga era amarrada — Foto: Reprodução/TV Globo

De acordo com as investigações, o aquaman do crime entrava na água e a primeira coisa que fazia era tentar encontrar a chamada “caixa de mar” da embarcação.

“São compartimentos grandes que tem abaixo da linha d’água, são responsáveis pela captação da água pro navio, pra geradores, para motores, pra resfriamento. Ela tem um gradil justamente pra evitar que sejam sugadas objetos grandes que possam interferir no funcionamento do navio”, explica Lages.

Ilustração mostra onde fica a caixa de mar de um navio — Foto: Reprodução/TV Globo

A profundidade da caixa de mar pode chegar até cerca de 18 metros, dependendo do peso do navio.

“Eles abrem as grades, colocam a droga dentro, amarram e fecham as grades. Então da parte exterior, você não consegue ver”, detalha Lages.

Segundo as investigações, a quadrilha fez um levantamento minucioso das rotas de cada navio, para saber a data exata da saída do porto e o dia da chegada à Europa. Quando os traficantes entravam no mar, eles já sabiam exatamente em qual embarcação esconderiam a carga de cocaína.

A Polícia Federal investiga se o espanhol conseguiu embarcar a droga em navios que saíram de pelo menos dois portos, o de Vitória e o de Santos (SP).

        O mergulhador colocava anilhas – pesos de academia – para os pacotes não boiarem — Foto: Reprodução/TV Globo

“Se ele não lacrar, não embalar a vácuo, se ele não fizer uma boa amarração, ou essa droga vai ser sugada ou ela vai se desmanchar no caminho. Ele sabe quando esse navio vai chegar lá. Ele consegue acompanhar pela internet a movimentação do navio. E ele se desloca ou ele tem uma equipe lá de mergulhadores pra retirar. Fazer a operação inversa do que ele fez no Brasil”, conta o agente da PF.

O fim da farra do espanhol começou no mês passado. Policiais e promotores faziam uma investigação quando encontraram 510 kg de cocaína em uma casa em Vila Velha, no Espírito Santo, e mais 380 kg em uma lancha.

      PF apreendeu 160 kg de cocaína em lancha do ‘aquaman do crime’ — Foto: Reprodução/TV Globo

Três pessoas foram presas em flagrante e tiveram os celulares apreendidos.

Os investigadores também descobriram que o espanhol havia comprado a lancha por cerca de 70 mil reais, e se preparava para esconder os quase novecentos quilos de droga em pelo menos um navio.

O aquaman do crime conseguiu fugir do Espírito Santo, mas acabou preso no dia 11 de janeiro no Guarujá, litoral paulista.

Policiais receberam uma denúncia de que haveria um embarque de cocaína na região e encontraram o espanhol já com roupa de mergulho em uma viela que dá acesso ao Porto de Santos.

Como ele era procurado pela justiça do Espírito Santo, foi direto pra cadeia, e deve prestar depoimento em breve. A reportagem tentou falar com o advogado dele, mas não teve nenhuma resposta.

A Polícia Federal investiga se o mergulhador também está envolvido em duas tentativas de envio de drogas no ano passado por navios que sairiam do Porto de Santos.

160 kg foram apreendidos. 60 iriam para Las Palmas, na Espanha, a cidade natal do aquaman do crime.

Agentes da Polícia Federal estão fazendo cursos de mergulho com especialização em varredura de cascos de navios, para reforçar o combate ao tráfico.

Comandantes de embarcações também adotaram medidas de segurança. Uma delas é colocar luzes nos locais próximos da caixa de mar.

“Ficam penduradas no navio justamente pra iluminar o entorno do navio e tentar coibir a presença dessas embarcações próximas”, explica o agente da PF.

“As organizações criminosas têm estruturas muito semelhantes a empresas, a multinacionais. Contam com representantes em vários países, em vários estados. Então é uma estrutura absurda e que precisa ser duramente combatida pelas policias” declara o superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo Eugênio Ricas.

Fonte: Roger Santana- TV Gazeta


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