Ele
tinha um equipamento razoável e ele tinha o principal que era o conhecimento
pra fazer esse mergulho
Criminosos estão
em uma lancha, à procura de um alvo. No caso, um grande navio cargueiro. As
embarcações estão atracadas na região portuária de Vitória. Há policiais
federais na área. Um dos criminosos repassa para o resto da quadrilha o alerta
do bandido que está no comando da lancha: o momento de agir não é agora.
“Não sou eu. É o
Pollo. Quer ver o que o Pollo tá falando aqui? Não tem como”, diz um dos
bandidos.
“Pollo” é uma
palavra em espanhol que significa “frango”. O criminoso tem também um outro
apelido: o super-herói Aquaman, por causa das suas habilidades embaixo d’água.
Mas este é o “Aquaman do crime”.
Joaquín Francisco
Gimenez tem 34 anos e nasceu em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, na Espanha. Ele
é mergulhador e sócio de uma empresa em Madri que atua na área de transporte
marítimo e construção naval.
Entre as várias
tatuagens de Pollo, em uma lê-se “plata o plomo” – que significa “dinheiro ou
chumbo” em espanhol. Uma expressão famosa do traficante colombiano Pablo
Escobar.
Nos últimos dois
anos, o espanhol passou a vir com frequência ao Brasil. Segundo a Polícia
Federal, ele foi contratado pela quadrilha de Marcos Camacho, o Marcola, para
coordenar o envio de cocaína para a Europa usando a experiência em estrutura de
navios e em mergulhos em alto mar.
“Ele tinha
ferramentas apropriadas. Ele tinha um equipamento razoável e ele tinha o
principal que era o conhecimento pra fazer esse mergulho”, afirmou o agente
Rogério Lages, da Polícia Federal.
Para escapar de
um flagrante, os traficantes costumam agir de madrugada. A policia levou a
reportagem até o local onde os navios ficam ancorados, e onde o aquaman do
crime mergulhava.
“Pollo falou que
tá tranquilo. Tá favorável”, fala um dos criminosos em áudio interceptado.
Eram 4 horas da
manhã, a visibilidade era baixa, o mar estava calmo e as condições do tempo
eram favoráveis à navegação. Havia 47 navios ancorados no Porto de Vitória.
“Chega
devagarzinho, motor desligado pra não fazer barulho da lancha e faz o mergulho.
E o navio, você não consegue enxergar de cima. Tem um ponto cego no navio.
porque tem aquela curvatura natural do navio, casco do navio”, orienta o
delegado da Polícia Federal, Bruno Zane Santos.
De acordo com as investigações, o aquaman do crime entrava na água e a primeira coisa que fazia era tentar encontrar a chamada “caixa de mar” da embarcação.
“São compartimentos grandes que tem abaixo da linha d’água, são responsáveis pela captação da água pro navio, pra geradores, para motores, pra resfriamento. Ela tem um gradil justamente pra evitar que sejam sugadas objetos grandes que possam interferir no funcionamento do navio”, explica Lages.
A profundidade da
caixa de mar pode chegar até cerca de 18 metros, dependendo do peso do navio.
“Eles abrem as
grades, colocam a droga dentro, amarram e fecham as grades. Então da parte
exterior, você não consegue ver”, detalha Lages.
Segundo as
investigações, a quadrilha fez um levantamento minucioso das rotas de cada
navio, para saber a data exata da saída do porto e o dia da chegada à Europa.
Quando os traficantes entravam no mar, eles já sabiam exatamente em qual
embarcação esconderiam a carga de cocaína.
A Polícia Federal
investiga se o espanhol conseguiu embarcar a droga em navios que saíram de pelo
menos dois portos, o de Vitória e o de Santos (SP).
“Se ele não
lacrar, não embalar a vácuo, se ele não fizer uma boa amarração, ou essa droga
vai ser sugada ou ela vai se desmanchar no caminho. Ele sabe quando esse navio
vai chegar lá. Ele consegue acompanhar pela internet a movimentação do navio. E
ele se desloca ou ele tem uma equipe lá de mergulhadores pra retirar. Fazer a
operação inversa do que ele fez no Brasil”, conta o agente da PF.
O fim da farra do
espanhol começou no mês passado. Policiais e promotores faziam uma investigação
quando encontraram 510 kg de cocaína em uma casa em Vila Velha, no Espírito
Santo, e mais 380 kg em uma lancha.
Três pessoas
foram presas em flagrante e tiveram os celulares apreendidos.
Os investigadores
também descobriram que o espanhol havia comprado a lancha por cerca de 70 mil
reais, e se preparava para esconder os quase novecentos quilos de droga em pelo
menos um navio.
O aquaman do
crime conseguiu fugir do Espírito Santo, mas acabou preso no dia 11 de janeiro no Guarujá, litoral paulista.
Policiais
receberam uma denúncia de que haveria um embarque de cocaína na região e
encontraram o espanhol já com roupa de mergulho em uma viela que dá acesso ao
Porto de Santos.
Como ele era
procurado pela justiça do Espírito Santo, foi direto pra cadeia, e deve prestar
depoimento em breve. A reportagem tentou falar com o advogado dele, mas não
teve nenhuma resposta.
A Polícia Federal
investiga se o mergulhador também está envolvido em duas tentativas de envio de
drogas no ano passado por navios que sairiam do Porto de Santos.
160 kg foram
apreendidos. 60 iriam para Las Palmas, na Espanha, a cidade natal do aquaman do
crime.
Agentes da
Polícia Federal estão fazendo cursos de mergulho com especialização em
varredura de cascos de navios, para reforçar o combate ao tráfico.
Comandantes de
embarcações também adotaram medidas de segurança. Uma delas é colocar luzes nos
locais próximos da caixa de mar.
“Ficam penduradas
no navio justamente pra iluminar o entorno do navio e tentar coibir a presença
dessas embarcações próximas”, explica o agente da PF.
“As organizações criminosas têm estruturas muito semelhantes a empresas, a multinacionais. Contam com representantes em vários países, em vários estados. Então é uma estrutura absurda e que precisa ser duramente combatida pelas policias” declara o superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo Eugênio Ricas.
Fonte: Roger Santana- TV Gazeta
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