Operação
Calvary foi realizada em conjunto com a Receita Federal e em colaboração com a
Europol
Na manhã de
ontem, quinta-feira (18), a Polícia Federal (PF) em conjunto com a Receita
Federal do Brasil (RFB) e em colaboração com a Europol - European Police Office,
deflagrou a Operação Calvary. Cerca de 150 policiais federais e 8 servidores da
RFB participam da ação.
O objetivo foi
desarticular uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de
cocaína, com atuação em diversos atos de lavagem de dinheiro.
Ao todo foram
cumpridos 36 mandados de busca e apreensão, 6 mandados de prisão preventiva, 4
mandados de prisão temporária e 7 mandados de interdição de atividade
econômica, nos Estados de São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná
e Rio Grande do Sul. Os mandados foram expedidos pela 6ª Vara Federal de São
Paulo/SP.
Também foi
determinado o sequestro de um navio de longo curso, o qual pertence ao grupo
criminoso investigado e seria utilizado no transporte transoceânico de cocaína,
bem como fora determinada a interdição da atividade de uma rede de postos de
combustível no Estado da Bahia.
Apreensões
Foram
sequestrados 28 imóveis (localizados em 4 Estados) e cinco carros de luxo —
entre eles dois Porsches, uma BMW, uma Mercedes e um Volvo e valores
custodiados em contas bancárias de 53 pessoas físicas e jurídicas (incluindo
contas abertas em Portugal e na Bélgica).
Em Santa Catarina
foi apreendido um Porsche 718, em um endereço não divulgado, na Meia
Praia, na cidade de Itapema, no Litoral Norte.
Segundo as
investigações, há suspeita de que ele também era proprietário de um apartamento
de luxo na cidade, comprado em nome de outra pessoa (“laranja”), que ele
utilizava para passar temporadas ao lado da mulher.
Também foi apreendido armas, relógios e dinheiro, tanto do Brasil, como de outros países.
Ao todo,
estima-se que os bens apreendidos/sequestrados durante a investigação superam
R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais).
Navio apreendido
O navio panamenho
Srakane, atracado no Porto de Santos, no litoral paulista, está entre os bens
apreendidos pelos agentes durante a operação. Ele foi usado pela organização
criminosa para transportar cocaína ao exterior.
Segundo as
autoridades, o líder da quadrilha conhecido pela alcunha de "Don
Corleone", em alusão ao personagem mafioso do filme "O Poderoso
Chefão", assumiu as dívidas da embarcação e confirmou ser o proprietário
de fato.
De acordo com o
delegado Datahyde, ele vinha pagando por reparos no navio, mas uma grande
apreensão de cocaína, em outubro do ano passado, causou prejuízo financeiro
milionário à quadrilha e adiou os trabalhos. – Eles pretendiam usar o navio no
tráfico de drogas. Como tiveram prejuízo, o reparo atrasou – explicou ele.
O navio foi alvo
de uma operação de combate ao crime no mar que encontrou trabalhadores de três
países europeus em situação de abandono em abril deste ano.
A embarcação
ficou, durante meses, atracada no Porto de Santos com 15 tripulantes em
condições precárias e limitado acesso a alimentos. Uma fiscalização do
Ministério Público do Trabalho (MPT) constatou as irregularidades na ocasião.
Rede de Combustíveis para Lavagem de dinheiro
Na Bahia, foram
interditados seis postos de combustíveis, usados para lavar dinheiro, nos
municípios de Candiba, Caetité, Lagoa Real, Lajedo do Tabocal e Maracás. Os
estabelecimentos fazem parte da Rede Chefão.
O proprietário da
rede de combustíveis foi alvo de mandado de busca e apreensão. O nome dele não
foi informado.
Investigação
As investigações,
que tiveram início em janeiro de 2021, revelaram a existência de organização
criminosa com atuação em remessas de cocaína para Europa, por meio,
principalmente, de embarcações transoceânicas.
O grupo articulou
a exportação de 2.700 kg de cocaína, em outubro de 2020, a partir do Porto de
São Sebastião, no litoral de São Paulo, utilizando o navio denominado UNISPIRIT,
de bandeira Antigua e Barbuda, com tripulação russa, que tinha como destino
final a cidade de Cadiz, no sudoeste da Espanha.
Parte da droga, escondida
no meio de carga de milho, foi apreendida no Brasil (1.500 kg), durante fiscalizaçãoconjunta da RFB, PF e GPort, e a outra parte na Espanha (1.200 kg), após
comunicação às autoridades daquele país. As apurações indicam, no entanto, que
outros portos eram usados pelo grupo, como o de Salvador.
No bojo das
investigações ainda foi determinado a quebra do sigilo bancário e fiscal de 66
pessoas, incluindo 39 pessoas jurídicas suspeitas de serem utilizadas pelos
investigados para prática de lavagem de dinheiro.
Modus operandi
Segundo as
investigações, a organização criminosa atuava na logística do tráfico
internacional de drogas em larga escala, sobretudo a cocaína. As remessas eram
enviadas à Europa, para destinos como Espanha, Portugal e Bélgica.
Segundo o
delegado Luccas Dathayde, "Don Corleone" (Sua identidade não foi
revelada), era como o chefe da quadrilha era identificado em aplicativos de
conversa criptografados.
A droga não era fornecida
pela quadrilha, mas eles se dispunham a fazer essa remessa do Brasil para o
exterior por meio de embarcações. A quadrilha planejava a logística de
transporte até o porto e, a partir do porto, até a Europa. Tudo era planejado e
comunicado aos proprietários do entorpecente.
“Ele se
comunicava com seus comparsas por meio desses aplicativos, tratavam sobre as
empreitadas criminosas, sobre as remessas de droga, e o apelido dele nesse
aplicativo era Don Corleone”, explicou o delegado Luccas Dathayde.
De acordo com o
delegado, a quadrilha usava doleiros para trazer o dinheiro da Europa para o
Brasil e pagar operações logísticas por meio de contas tituladas por laranjas e
pessoas fictícias. Seus integrantes também adquiriam imóveis e colocavam em
nome de pessoas jurídicas inexistentes. Entre os imóveis, estão sítios no
Paraná e apartamentos em Santa Catarina e São Paulo, base das operações da
organização criminosa.
“Eles estão
implicados em vários atos de lavagem de dinheiro”, afirmou Dathayde.
Nome da operação
A operação foi
batizada de “Calvary” em alusão ao cemitério no qual Don Corleone, do filme “O
Poderoso Chefão I”, foi sepultado, uma vez que o líder da organização criminosa
é chamado pelos demais integrantes do grupo de “Don”, em referência ao
personagem.
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