RPC
teve acesso à delação de Jorge Santos Zela, que foi preso pela PF na Operação
Enterprise. No depoimento, ele deu detalhes sobre o caminho da cocaína
despachada para outros países
A
quadrilha investigada por exportar toneladas de cocaína pelo Porto de
Paranaguá, no litoral do Paraná, recrutava caminhoneiros e funcionários do
terminal de contêineres para mandar a droga para fora do país, de acordo com o
homem apontado como um dos chefes do esquema.
O
delator Jorge Santos Zela, o "Zóio", tem 37 anos e foi preso pela Polícia
Federal (PF) na Operação Enterprise em novembro do ano passado, por tráfico
internacional de drogas.
A
PF afirma que Zela comandava um dos dois grupos que agem no Porto de Paranaguá,
a mando de Sérgio Roberto de Carvalho, o "Major", chefe da quadrilha
e ex-oficial da Polícia Militar de São Paulo. Ele está foragido.
A
RPC teve acesso à delação de Jorge Zela, fechada com o Ministério Público e a
Polícia Federal e homologada pela Justiça Federal. No depoimento, Zela deu
detalhes sobre o caminho da cocaína despachada a partir de Paranaguá.
A
cocaína saía de vários fornecedores da Colômbia, Peru, Bolívia e Paraguai,
entrava no Brasil em aviões que pousavam nas fazendas da quadrilha e depois era
transportada em vans e caminhões para vários portos do Brasil.
No
depoimento, Zela explicou que a droga chegava a Paranaguá escoltada.
"Essa
droga vinha de São Paulo geralmente, em vans e sprinters com carroceria. E esse
pessoal vinha junto abatendo até chegar em Paranaguá. Eles me avisam antes de
chegar aqui, o horário que eles iam chegar e eu marcava um local na entrada da
cidade para cruzar com eles na BR e ir guiando eles até o lugar para
descarregar", disse Zela.
Segundo
ele, para levar a cocaína para dentro do terminal de contêineres a quadrilha
recruta caminhoneiros que transportam produtos para exportação. A missão é
entrar e esconder a droga dentro dos contêineres - o que a quadrilha chama de
"contaminação".
"O
[suspeito] colocou na cabine e foi em direção ao porto e, assim, lá dentro do
porto tinha um pessoal já pronto para ajudar a contaminar né?", comentou
Zela.
Esse
"pessoal" a que Zela se refere são trabalhadores do terminal de
contêineres, também a serviço do tráfico. De acordo com ele, um ex-funcionário
do terminal foi recrutado pela quadrilha e montou uma equipe lá dentro.
"Ele
tinha três pessoas cada turno, né? Tem quatro turnos no dia, mais ou menos umas
12 pessoas", revelou o delator.
Para
a PF, Zela disse que o Major informa antes para que país a droga deve ser
exportada e aí a equipe procura um contêiner com o mesmo destino.
"E
o pessoal já se posicionava para contaminar o contêiner, da mesma forma,
chegando do lado da pilha, abrindo a porta do motorista e colocando o material
nos três funcionários e os três funcionários contaminando".
O
delator disse que a quadrilha mandava, pelo menos, um carregamento de cocaína
por mês desse jeito. Contudo, a Receita Federal descobriu o esquema e passou a
fazer apreensões seguidas de droga no porto. Os traficantes, então, foram
obrigados a mudar de tática.
Para
tentar escapar da fiscalização, eles passaram a esconder os pacotes de cocaína
no sistema de refrigeração dos contêineres, também com ajuda de trabalhadores
do terminal.
"Trabalham
para a própria TCP. A gente usava eles de dia para verificar espaço, abrir o contêiner,
ver se tinha espaço para colocar dentro e efetuava, geralmente, um dia antes ou
uma hora antes do navio", contou Zela.
A
quadrilha exigia um comprovante de cada remessa.
"Eram
funcionários [que lacravam o contêiner]. Eles colocavam material e tiravam
foto. No começo faziam vídeo, depois só foto, e fechavam, lacravam e tiravam
foto com o lacre novo", relatou Zela.
Parte
do esquema ruiu em novembro do ano passado, na Operação Enterprise. A PF
prendeu Jorge Zela e mais 39 pessoas suspeitas de tráfico internacional.
Além
disso, também foram apreendidos carros e aviões, e a Justiça determinou o
bloqueio de R$ 400 milhões em bens dos traficantes.
Desde
essa operação, a Receita Federal fez mais 16 apreensões no Porto de Paranaguá,
que somam mais de duas toneladas e meia de cocaína.
"Esse
pessoal acaba sendo substituído. Você prende um, aparece outro e assim vai. Por
isso que a gente tenta trabalhar em uns grupos maiores. A gente imagina que a
estrutura do Major ainda esteja atuando. Certamente o que se mostra eficaz
nesse sentido é a desarticulação financeira das quadrilhas. Esse sempre é um
norte da PF de identificar questão de valores, patrimônio, para que eles sejam
apreendidos e essas quadrilhas percam a sua capacidade de atuação",
afirmou Sergio Luis Stinglin de Oliveira, delegado da PF.
O outro lado
A
empresa que administra o terminal de contêineres em Paranaguá, Terminal de
Contêineres Paranaguá (TCP), informou que observa todos os protocolos de
segurança estabelecidos pelos órgãos competentes e que se colocou à disposição
das autoridades para colaborar com as investigações.
A
RPC não conseguiu contato com a defesa de Sérgio Roberto de Carvalho.
Fonte: RPC Curitiba - Texto: Wilson Kirsche, José Vianna e Diego Ribeiro
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