Morabito
e Vincenzo são integrantes de clãs diferentes da ‘Ndrangheta e negociavam o
envio de cocaína para a Europa com o PCC
No
dia 24 de maio, por volta das 14h30, a Polícia Federal (PF) deteve, em um
quarto no 3º andar do flat Ecco Summer, na praia de Tambaú, em João Pessoa, no
litoral da Paraíba, Rocco Morabito, 54,
um dos narcotraficantes mais procurados do mundo, conhecido como "o Rei da
Cocaína de Milão" e apontado pelas polícias da Europa e da América do Sul
como um dos principais líderes da máfia italiana 'Ndrangheta.
O
hotel é famoso e fica numa das praias mais badaladas da capital da Paraíba.
Morabito
estava hospedado no flat desde o dia 25 de abril.
Com
ele, havia outros dois estrangeiros. Um deles era Vincenzo Pasquino, 30, um fugitivo originário de Turim e incluído
na lista de fugitivos perigosos.
Segundo
dito por um funcionário do flat ao jornalista Josmar Jozino, do site UOL,
Morabito não resistiu à prisão, e Pasquino tentou fugir pulando pela varanda,
mas foi dominado. Um terceiro homem, baixo, forte, branco, com cabelos lisos e
olhos castanhos, escapou. A PF não confirmou essa informação.
De
acordo com o funcionário do flat, no quarto com os italianos também estava um
corretor de imóveis, identificado como Anselmo. Foi ele quem alugou os quartos
para os mafiosos. Morabito morava sozinho no 3º andar e, Pasquino e o terceiro
se hospedaram juntos no 4º andar. O corretor de imóveis passou mal quando os
agentes federais chegaram. Ele não teria conhecimento de que os italianos eram
criminosos procurados. Ele prestou depoimento à PF e depois foi liberado.
Investigação
A
prisão deles pela PF foi efetivada em cumprimento a mandado de prisão de
Morabito, expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em uma operação
conjunta internacional, que envolveu a ABIN (Agência Brasileira de
Inteligência), o Grupo de Operações Especiais (ROS) da Arma dos Carabineiros da
Itália, da Procuradoria Antimáfia da Itália, com a colaboração da Administração
de Fiscalização de Drogas (DEA), do FBI e do Departamento de Justiça dos
Estados Unidos.
Segundo
os investigadores, as apurações foram abastecidas pelo compartilhamento de
informações de um projeto da Interpol denominado Projeto I-Can (Interpol
Cooperation against 'Ndrangheta) que envolve 11 Países, junto com o
departamento de Segurança Pública da Itália, para investigar a 'Ndrangheta'.
Um
mês antes da prisão, a INTERPOL coordenou o compartilhamento de informações e a
ligação entre as autoridades participantes e os Escritórios Centrais Nacionais
da INTERPOL na Itália e no Brasil. As informações de inteligência apontavam
onde Morabito poderia estar.
Um
dia antes, uma equipe de policiais italianos do Escritório Central da INTERPOL
em Roma e dos Carabinieri, deslocou-se ao Brasil ante a perspectiva de que a
prisão fosse realizada.
A
ministra do Interior da Itália, Luciana Lamorgese, disse: "A prisão de
Rocco Morabito é um resultado extraordinário que demonstra a capacidade do
judiciário e das agências de aplicação da lei de combater eficazmente o crime
organizado e suas ramificações internacionais, graças à frutífera e intensa
colaboração policial desenvolvida no âmbito do I- Projeto CAN, promovido e
financiado pelo Ministério do Interior e liderado pela INTERPOL sob o
Secretário-Geral Jürgen Stock para intensificar o esforço conjunto na luta
contra a 'Ndrangheta e todos os seus interesses transnacionais ilegais”.
“A
prisão de um dos fugitivos mais procurados da Itália é um testemunho do
trabalho árduo e da dedicação do Ministério do Interior italiano, da Arma dei
Carabinieri e da Direção Central da Polícia Criminal sob a liderança do
prefeito Vittorio Rizzi”, disse o secretário-geral Jürgen Stock.
“Meus
parabéns à Polícia Federal brasileira por seu trabalho vital e tenho certeza de
que veremos mais prisões por meio do projeto I-CAN nos próximos meses”, acrescentou
o Secretário-Geral Stock.
Quem é Morabito
Nascido
em 1966, o italiano é acusado de associação mafiosa, tráfico de drogas e outros
crimes graves. Ele é considerado o segundo criminoso mais procurado da Itália e
tido pela polícia italiana como um dos mafiosos mais violentos do país desde o
final dos anos 1980.
Integrante
da 'Ndrangheta, considerada uma das maiores e mais poderosas organizações
criminosas do mundo, ele é conhecido mundialmente como "o Rei da Cocaína".
Procurado desde 1994 estava incluído na lista do Ministério do Interior dos 10
fugitivos mais perigosos da Itália.
Ele
é acusado de comandar a logística da exportação de cocaína de São Paulo para
Milão, no norte da Itália.
No
Brasil, ele comandava as negociações de cocaína para a 'Ndrangheta junto ao PCC
(Primeiro Comando da Capital) com apoio do jordaniano Waleed Issa Khamayis, que
está preso na Turquia.
A
polícia, inclusive, tem gravações de telefonemas em que ele negociou a compra
de quase uma tonelada de cocaína da América do Sul, numa transação de cerca de
8 milhões de euros.
No
período em que esteve foragido, o criminoso passou alguns anos no Brasil, onde
conseguiu um passaporte falsificado, e depois seguiu para o Uruguai.
Condenado
Depois
de 23 anos foragido da Justiça, o mafioso foi detido em setembro de 2017 no
Uruguai. Em junho de 2019, porém, ele fugiu da prisão com dois brasileiros e um
argentino. À época, ele estava prestes a ser extraditado do Uruguai para a
Itália.
Morabito
tinha quatro condenações na Itália, sendo duas de 22 anos, uma de 30 anos e
outra de 29 anos. Segundo a documentação da Interpol, as penas foram unificadas
em 30 anos. Contra Morabito havia um mandado de prisão expedido em 13 de agosto
de 2008 e outro em 8 de julho de 2013. As condenações ocorreram pelas Cortes de
Apelação da Calábria, em 10 de junho de 2005; Milão, em 5 de julho de 2001;
Palermo, em 11 de março de 2000; e Milão, em 30 de abril de 1999.
Atividade no Brasil
As
investigações apontam que antes de chegar a João Pessoa, ele passou por São
Paulo (SP), Campos do Jordão (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Santa Catarina (SC).
Segundo
a PF, há registros da atuação de Rocco Morabito com a organização do tráfico de
drogas entre Brasil e Europa desde a década de 1990, conforme investigação à
época realizada no âmbito da “Operação King”.
O
Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV apurou com autoridades
estaduais de São Paulo e federais que, antes de ser preso, Morabito havia
marcado uma reunião com integrantes do PCC, sem data certa, em Campos do Jordão
(SP). Lá, um dos criminosos que estaria presente seria Marcos Roberto de
Almeida, o Tuta, apontado pela Promotoria paulista como o sucessor de Marco
Willians Herbas Camacho, o Marcola, à frente do PCC.
Morabito
e comparsas montaram um escritório no Itaim Bibi, zona sul paulistana. Faziam
parte do grupo o sobrinho dele, Francesco Sculli, e o jordaniano Waleed Issa
Khmayis, que já passou pela Casa de Detenção, no Carandiru, e atualmente está
preso na Turquia. O bando tentou enviar 600 kg de cocaína para a Europa pelo Porto
de Fortaleza (CE), em julho de 1992.
Prisão e fuga no Uruguai
Durante
pelo menos 15 anos, o mafioso viveu na cidade litorânea de Punta del Este,
entre 2002 e 2017, utilizando a identidade de "Francisco Antonio Capeletto
Souza", se passando por um empresário brasileiro que vivia da compra e
venda de soja.
No
entanto, segundo as autoridades uruguaias, no início de 2017, ele foi
matricular sua filha em um colégio e cometeu um erro ao preencher o formulário
com seu sobrenome italiano. Com isso, a polícia descobriu seu paradeiro. No Uruguai, ele foi processado por
falsificação de documentos, após entrar no país em 2003 com identidade falsa.
Eles
escaparam pelo telhado da prisão à meia-noite, por um buraco. A polícia
conseguiu recapturar os três indivíduos que fugiram com Morabito alguns dias
depois, mas não conseguiu encontrar o ex-chefe da máfia italiana.
Vincenzo Pasquino
Preso
junto com Morabito, Vincenzo Pasquino, um dos 30 foragidos mais procurados pela
polícia italiana, tinha contra ele um mandado de prisão expedido em 7 de
outubro de 2019 pela Corte de Turim, sua cidade natal. A última atualização da
inclusão do nome dele na difusão vermelha da Interpol foi feita no dia 21 de
maio.
Ele
estava ilegal no país. Consta no sistema de controle migratório da PF que a sua
entrada no país em 10 de janeiro de 2018 e valia por 90 dias.
Em
8 de julho de 2019, a PF prendeu em um prédio na Praia Grande (SP), Nicola
Assisi e o filho dele, Patrick Assisi, ambos também da 'Ndrangheta. Agentes
federais disseram que apreenderam na cobertura dos Assisi um passaporte em nome
de Vincenzo Pasquino.
Ligação com o PCC
Segundo
a PF, os Assisi, Rocco Morabito e Pasquino tinham envolvimento com o narcotraficante
brasileiro André Oliveira Macedo, o André do Rap, ligado ao PCC (PrimeiroComando da Capital) e foragido da Justiça, e com outros criminosos da facção.
As
autoridades italianas suspeitam que o encontro entre Rocco e Vincenzo em João
Pessoa, que são integrantes de clãs diferentes da ‘Ndrangheta, estava
relacionada a negócios envolvendo o tráfico internacional de drogas da máfia
calabresa.
“Vincenzo
Pasquino é um traficante internacional. Alvo de um procedimento penal da
direção setorial antimáfia de Torino, porque pertence ao clã da ‘Ndrangheta
chefiado por Nicola e Patrick Assisi. Apesar de não ter condenação definitiva,
há uma investigação contra ele em Torino”, afirmou o procurador italiano
Bombardieri.
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