Em 2020, esta área foi responsável por 130 dos 135 raptos
de trabalhadores marítimos a nível mundial
O maior grupo transportador marítimo
do mundo, o dinamarquês Maersk, pediu hoje o lançamento urgente de uma grande
operação internacional para combater a pirataria no Golfo da Guiné, após
sucessivos ataques aos seus navios naquela região.
“Em 2021, nenhum marinheiro deveria ter
medo de navegar em qualquer lugar por causa de piratas”, disse Aslak Ross,
responsável pelas normas marítimas do gigante dinamarquês do transporte
marítimo, citado pela agência France Presse (AFP).
O porta-contentores número um do mundo, que
viu dois dos seus navios serem atacados por piratas em menos de um mês, quer
uma presença marítima internacional mais forte perto da costa da África
Ocidental, semelhante à operação europeia “Atalanta” para combater a pirataria
ao largo da costa da Somália, há cerca de dez anos.
“Uma solução é conseguir que a comunidade
internacional apoie uma missão a curto prazo”, segundo Ross, em paralelo com os
esforços a longo prazo para reforçar as capacidades antipirataria dos países
costeiros.
Durante algum tempo, os ataques
concentraram-se ao largo da costa da África Oriental, onde diminuíram
consideravelmente após o destacamento de uma armada militar internacional,
enquanto a situação se deteriorou no Golfo da Guiné, onde piratas nigerianos
estão a tornar-se mais profissionais.
Em 2020, esta área, que se estende por
5.700 quilómetros desde as costas do Senegal, a norte, até às de Angola, a sul,
foi responsável por 130 dos 135 raptos de trabalhadores marítimos a nível
mundial, de acordo com um relatório recente do Gabinete Marítimo Internacional,
ações mais lucrativas do que os ataques a petroleiros.
Atravessada diariamente por mais de 1.500
navios, a rota marítima que faz fronteira com os dois maiores produtores de
petróleo de África – Nigéria e Angola – é regularmente utilizada por cerca de
50 navios do grupo Maersk.
A Dinamarca está a tentar convencer a União
Europeia, mas também a França, que mantém presença militar na África Ocidental.
“A Dinamarca pode fazer a diferença, mas
não pode resolver o problema sozinha”, disse à AFP o ministro da Defesa
dinamarquês, Trine Bramsen.
Para Maersk, não há ninguém “melhor que os
franceses”, para assumir esse papel, diz Ross, apontando para “interesses
históricos e uma presença regular na região”.
Segundo fontes francesas, Paris não prevê,
nesta fase, uma operação marítima europeia à semelhança da “Atalanta”, mas
propõe o estabelecimento de uma “presença marítima coordenada” na zona,
validada pela União Europeia e incluindo a França, Espanha, Itália e Portugal.
“Os dinamarqueses são bem-vindos a aderir
com os meios”, sublinha o lado francês.
A presença marítima coordenada, lançada no
final de janeiro, consiste na partilha de informação e inteligência e no
fornecimento de recursos. Em termos concretos, os navios controlam a área e
transmitem a informação a uma célula europeia.
Para a UE, isto é uma prova de “maior
empenho operacional europeu”, mas para a investigadora Jessica Larsen, do
Instituto Dinamarquês de Relações Internacionais, continua a ser mais
vigilância do que intervenção.
“Parece haver falta de vontade política
para lançar uma operação militar do lado europeu” nesta região, disse.
A especialista também apontou para a
relutância dos estados da região em aceitar tal operação, justificada com a
necessidade de preservar a sua soberania.
“Não estão necessariamente interessados em
receber uma tal operação naval nas suas águas, como foi o caso ao largo da
costa da Somália”, afirmou, apontando em particular o caso da Nigéria.
“É improvável que a Nigéria acolha uma
coligação naval internacional porque isso evidenciaria a falha dos seus
esforços para combater a pirataria”, defendeu, por seu lado, Munro Anderson, da
empresa de segurança marítima Dryad Global.
Fonte: Portugal Digital
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