Investigação
da Polícia Federal obtida pela Pública traz detalhes de como os lucros da
cocaína são lavados no agronegócio e com elos na política
Ao
seguir o rastro do dinheiro da cocaína no Brasil, a Polícia Federal (PF) tirou
das sombras uma economia clandestina lastreada no comércio da droga e descobriu
uma ameaça real às instituições. “Se não destruir financeiramente esses caras,
isso aqui vira um México”, disse em entrevista à Agência Pública o delegado
Elvis Secco, chefe da coordenadoria de repressão às drogas, armas e facções
criminosas da PF em Brasília. Ele se refere ao poder financeiro dos traficantes
brasileiros e a potencial ameaça que representam. No México, assim como na
Colômbia da era Pablo Escobar, os cartéis corromperam a política e deixaram um
macabro saldo de violência.
O Brasil
não está longe do problema. Estatísticas sobre apreensões de cocaína e
relatórios que embasam operações desencadeadas pela PF em 2020 apontam que há
sinais de que organizações criminosas conhecidas pelo uso da violência, como o
PCC, se especializaram na lavagem de dinheiro da droga, interferem na economia
formal e, pouco a pouco, vão se infiltrando no sistema político do país.
O maior
traficante do Brasil e, individualmente, um dos maiores do planeta, Luiz Carlos
Rocha, o Cabeça Branca, responsável, até ser preso em Sorriso (MT), em 2017,
por mandar entre 80 e 100 toneladas por ano para fora do país e lavar parte de
seus lucros com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava
Jato.
As
relações do traficante com a lavanderia, que distribuiu o dinheiro desviado da
Petrobras a políticos, veio à tona num segundo depoimento prestado em 2018 por
outro doleiro, Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, que trabalhou para
Youssef.
Em 2014,
Ceará já havia admitido que entregara propina da estatal a senadores e
deputados. Com Cabeça Branca a PF já sequestrou mais de R$ 1 bilhão e ajudou a
Justiça do Paraguai a bloquear cerca de US$ 183 milhões do traficante naquele
país (o equivalente a R$ 1 bilhão).
Segundo
a PF, no Paraguai o traficante teria subornado políticos e autoridades de
segurança para não ser pego. A PF suspeita que no Brasil, onde viveu os últimos
dez anos com duas identidades falsas e o rosto modificado por três operações
plásticas, Cabeça Branca também tenha subornado autoridades.
O
envolvimento de políticos com o tráfico não é novidade. Em 1991, o então
deputado federal Jabes Rabelo, cuja família construiu um império financeiro de
origem suspeita em Cacoal, Rondônia, teve o mandato cassado pela Câmara depois
que seu irmão, Abidiel Rabelo, foi preso em São Paulo com 554 kg de cocaína
portando uma falsa carteira de assessor parlamentar com a assinatura do
irmão.
A PF
suspeita que da região Norte do país – base territorial dos grandes traficantes
para armazenar a droga – a centros como São Paulo e Rio de Janeiro o tráfico
distribui suborno em troca de apoio político. “Já tem sinais de que o PCC
financia a política. Nós sabemos disso. Eles não dão nomes. Falam assim: ‘Vamos
financiar a campanha política ‘daqueles vereadores’. São estratégias criminosas
para fortalecer a organização”, disse o delegado Elvis Secco.
A PF
ainda não tem provas contra políticos de peso, mas está analisando conversas
telefônicas e documentos apreendidos em mais de uma dezena de operações
desencadeadas entre 2019 e 2020 para cruzar com dados de doações eleitorais e
licitações no serviço público. Como os grupos que controlam hoje o comércio
internacional da cocaína no atacado se sofisticaram na lavagem, repassando os
lucros a terceiros ou criando empresas de fachada, a PF cruza informações para
embasar uma operação destinada especificamente a identificar o núcleo político
ligado ao tráfico.
As
suspeitas estão fundamentadas também na envergadura da estrutura do tráfico no
Brasil. Nunca se apreendeu tanta cocaína no país, conforme ilustra a
estatística da PF nos últimos quatro anos: em 2016 foram 41 toneladas; em 2017,
48; em 2018, 79; e, no ano passado, 105 toneladas, quantidade que, se em vez de
destruída fosse vendida na Europa, a um preço médio de US$ 30 mil o quilo – que
é o que se paga no atacado –, renderia algo em torno de R$ 17,3 bilhões.
O Brasil
virou o grande entreposto mundial da cocaína, por onde passam 60% do que é
produzido na Colômbia, Bolívia e Peru. Na ponta do lápis, o recorde histórico
de apreensões representa apenas 8,75% das 1.200 toneladas que, segundo a PF,
passaram por aqui em 2019, uma montanha de pó equivalente a R$ 200 bilhões.
Traficante era dono de 16 fazendas
Segundo
relatórios policiais, os comerciantes de cocaína se dividem entre famílias com
um pé no agronegócio e organizações antes especializadas em crimes contra o
patrimônio, que herdaram o modus operandi de lendários contrabandistas da
fronteira do Brasil com o Paraguai. Não mais que dez grupos dominam esse
mercado clandestino. O mais forte é o PCC, que nasceu nas prisões e hoje detém
quase o monopólio da cocaína. Em apenas duas operações, entre setembro e
outubro deste ano, a Rei do Crime e Caixa Forte, foram bloqueados R$ 932
milhões de pessoas ligadas à facção. Os lucros da cocaína fizeram fortuna
também de outros clãs desmantelados pela PF. É o caso das famílias Morínigo,
Pavão e Soares da Rocha, chefiadas, respectivamente, pelos traficantes Emídio
Morínigo Ximenes, Jarvis Pavão e João Soares da Rocha, presos em diferentes
operações e em nome dos quais, segundo a PF, foi encontrada expressiva
quantidade de imóveis, todos passíveis de confisco para venda antecipada.
Os bens sequestrados, prontos para leilão até final de 2020, segundo a PF, deve superar a cifra de R$ 1 bilhão. Só com laranjas de Pavão foram encontrados 337 imóveis. Especialista no transporte e na exportação via portos, como Santos e Paranaguá, Cabeça Branca negociava com todos os grupos. “Ele era um homem de logística do tráfico e atuava com diplomacia, sem se envolver com violência”, afirma o delegado Elvis Secco. Ao ser preso em Sorriso, meca do agronegócio, usava o nome falso de Vitor Luiz de Moraes, um próspero agropecuarista, com relações políticas no norte do Mato Grosso e no sul do Pará.
Segundo
a PF, um de seus parceiros era o ex-prefeito de Brasnorte (MT) Eudes Tarciso de
Aguiar (DEM), que, ao término de seu mandato (2012-2016), foi eleito o melhor
prefeito mato-grossense e um dos 50 mais bem avaliados do país. Às vésperas de
ser preso, em 22 de novembro de 2018, durante uma nova fase da Operação
Spectrum, a Sem Saída, Eudes era apontado pela imprensa local como “a maior
liderança de Brasnorte” por ter ajudado a eleger o governador do Mato Grosso,
Mauro Mendes, o senador Jaime Campos, todos do DEM, e pelo apoio “apaixonado”
ao então candidato a presidente Jair Bolsonaro. “O presidente Bolsonaro vai
aumentar os repasses aos municípios e com isso todos saem ganhando”, declarou
Eudes ao site regional A Folha do Vale seis dias antes de ser algemado pela
PF.
Procurado
pela reportagem, Eudes, já em liberdade, negou envolvimento com o tráfico e
atribuiu a denúncia que o tornou réu ao fato de ser irmão de um dos homens
fortes de Cabeça Branca na região, Alessandro Rogério de Aguiar, que cuidava
dos negócios da família enquanto administrou o município. Disse que abandonou a
política depois de ter feito campanha por Bolsonaro na região, em 2018.
De fato,
o vínculo mais forte com o traficante é Alessandro, acusado pela PF de enviar
toneladas de cocaína para o exterior através do Porto de Paranaguá. O problema
é que as duas principais empresas da família, a Madeireira Imperatriz e a
Agropecuária Estrela do Oeste, teriam lavado R$ 175 mil para o traficante. Numa
procuração encontrada pela PF, os dois figuram como supostos procuradores do
traficante. Nas imagens apreendidas, Alessandro aparece também num elevador do
Shopping Iguatemi, em São Paulo, ao lado de Cabeça Branca. Em vários áudios
captados pela polícia, o irmão do prefeito aparece negociando remessas de
cocaína.
Segundo
a PF, o traficante era dono de 16 fazendas em áreas praticamente contínuas
entre Mato Grosso e Pará, com extensão total estimada em cerca de 40 mil
hectares, avaliadas em cerca de R$ 200 milhões. Uma das fazendas, de 920
hectares, em Tapurah, estava com toda a documentação preparada para receber a
escritura definitiva, requisitada através do programa de regularização
fundiária do governo federal. Em março do ano passado, ao negar um pedido de
habeas corpus em que o ex-prefeito pedia liberdade, o ministro Gilmar Mendes,
do Supremo Tribunal Federal (STF), frisou no despacho uma provável relação dele
com queimadas, desmatamento e retirada ilegal de madeira na região. Mendes
escreve que as relações com o irmão e contradições verificadas no interrogatório
apontam que Eudes teve “papel ativo” na organização criminosa chefiada por
Cabeça Branca: “[…] ao que tudo indica, pratica de forma habitual outros
delitos: crimes ambientais, corrupção e provável delitos de lavagem de dinheiro
para ocultar patrimônio pessoal e da família”.
O
ministro se referia a um grampo em que a PF captou um diálogo entre Eudes e o
irmão para despistar a fiscalização do Ibama numa das fazendas. O ex-prefeito
sugeriu que Alessandro usasse um laranja para camuflar a propriedade rural, mas
acabou admitindo o suposto crime: “Também meti fogo”, diz, acrescentando que
fez o “serviço completo”. Em seguida, achincalha os fiscais do Ibama com
palavrões: “Já que é pra tomar no cu, toma igual vaca de pé e berrando”. À
Pública, ele afirmou que se referia à queima de pastagem. “Não pertenço a
organização criminosa. Nasci dentro de uma serraria e vendo madeira há 40 anos.
Vou explicar a origem do dinheiro à Justiça. O que pesa contra mim é a denúncia
de lavagem. Nunca vi esse homem”, disse Eudes, referindo-se a Cabeça Branca.
Cabeça
Branca investiu seus lucros na compra de imóveis, na produção de grãos e de
gado, em maquinário agrícola, em carretas usadas no transporte dos produtos e
armazéns que garantiam, num primeiro momento, a camuflagem da cocaína mandada
para Europa e Estados Unidos e, num segundo, o colocava no agronegócio, dono de
fazendas produtivas e autossuficientes. Sua rede ligava as áreas de produção
agrícola em municípios do Norte do Mato Grosso e Sul do Pará a Osasco, na
Grande São Paulo, onde ele construiu modernos galpões para armazenar grãos e
cocaína que seguiriam para o exterior pelo Porto de Santos.
Narcotráfico e pecuária
Preso em
fevereiro de 2019 em Tucumã, no Pará, durante a Operação Flak, o empresário
João Soares da Rocha é apontado pela PF como um misto de traficante de cocaína,
empresário do agronegócio, garimpeiro e comerciante ilegal de madeiras na
Amazônia Legal. Segundo a PF, é parceiro de Cabeça Branca no tráfico e, embora
tenham o mesmo sobrenome, não são parentes.
Atuava
com o irmão Evandro Geraldo Rocha Reis e um sobrinho, o piloto Cristiano Felipe
Rocha Reis, ambos mortos na queda de um monomotor Cessna, nas proximidades da
pista do aeroporto de São Félix do Xingu, no Pará, no curso das investigações
sobre as atividades do grupo, em agosto de 2018.
João
Soares e o irmão eram donos de garimpo em Ourilândia do Norte. O empresário é
dono também de postos de combustíveis e da Agropecuária Abelha Comércio e
Serviços, fazenda dedicada à produção de gado de corte e grãos. É acusado de
extração ilegal de madeira em terras indígenas. Em 2013 o empresário entrou
para lista suja do trabalho escravo.
O
relatório da Polícia Federal mostra que os lucros convertidos da cocaína eram
lavados no agro. “As investigações indicam que alguns investigados, em especial
João Soares da Rocha e Raimundo Prado da Silva (preso também na mesma
operação), investem o dinheiro adquirido com o narcotráfico na atividade
pecuária”, diz a PF no relatório da Operação Flak. O empresário especializou-se
no transporte da droga entre os países produtores, Brasil e Caribe, cobrando
por cada viagem US$ 150 mil. Entre 2017 e 2018, período tratado pela Operação
Flak, realizou pelo menos 23 fretes, faturando US$ 3,450 milhões (algo em torno
de R$ 19 milhões).
A PF
listou um total de 51 aeronaves apreendidas com o grupo chefiado pelo
empresário. Destas, nove estavam em nome de João Soares da Rocha ou de
familiares, e outras três foram destruídas, duas em acidentes e uma terceira,
avaliada em R$ 1 milhão, foi incendiada depois de concluído o transporte de
cocaína – perdas que, segundo a polícia, nem chegaram a afetar os lucros. O
empresário mandou adaptar tanques de combustível reservas dentro de pequenos
aviões para alongar a autonomia de voos e escapar dos radares.
Era um
bem-sucedido empresário do agronegócio, no qual envolveu a mulher, filhos,
irmãos e sobrinhos. A Agropecuária Abelha, por exemplo, está em nome de três
filhos e tem como atividades a criação de gado de corte e a produção de
soja.
João
Soares da Rocha atuava também na compra e revenda de cereais e animais vivos,
cultivo de milho, cacau e prestação de serviços em obras de engenharia através
de outras duas empresas das quais é sócio, a Rolomat Terraplanagem e a Geo
Comércio de Areia. Em outra atividade paralela, alugava máquinas e equipamentos
agrícolas modernos, que funcionam sem operador.
A PF
mira o patrimônio do empresário, estimado em R$ 330 milhões. “Tirando o
dinheiro, tira-se o poder. É importante conhecer a estrutura das facções, mas
não adianta só apreender a droga e dizer que o tráfico sofreu uma grande baixa
financeira. As perdas fazem parte do risco. Tem que seguir o dinheiro, que é
lavado em empresas sólidas, legalmente constituídas e normalmente insuspeitas”,
afirma o delegado Elvis Secco. Ele avalia que a magnitude da estrutura do
tráfico exige dos órgãos públicos um tratamento sistêmico, baseado em operações
contínuas focadas no “laranjal” do tráfico e na lavagem do patrimônio. A
repressão, segundo o delegado, seguirá o modelo da Lava Jato, com operações em
série.
Com o
esvaziamento da Lava Jato, o poder do tráfico levou os órgãos de controle do
governo a mirar o foco mais nos barões da cocaína.
Na
sexta-feira, 23 de outubro, a Justiça de São Paulo decretou a prisão de 18
acusados de pertencer ao PCC. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE) de
São Paulo, são membros da estrutura de tráfico de drogas e de lavagem de
dinheiro que comandam as ações da organização criminosa nas ruas. “Creio que
essa será a primeira fase da Lava Jato do PCC”, disse o promotor Lincoln Gakiya
ao Estadão, um dos seis que assinam a denúncia contra o grupo.
O PCC,
segundo dados que constam nos documentos apreendidos na Operação Sharks, que
investigou a lavagem de dinheiro da facção entre junho de 2018 e setembro de
2020, movimentou R$ 1,2 bilhão com o tráfico internacional de drogas por ano.
“Uma máfia”: a estratégia do PCC
Liderado
por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que controla a organização
criminosa de dentro da prisão federal de segurança máxima de Brasília, o PCC
erigiu um império financeiro. Na Operação Rei do Crime, desencadeada em
setembro de 2020, a PF bloqueou R$ 730 milhões do PCC e estimou, com base num
relatório do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf), que nos
últimos quatro anos o setor encarregado da lavagem do dinheiro movimentou R$ 32
bilhões através de uma rede com 78 empresas ligadas a uma rede de combustiveis, que
controla mais de cem postos e lojas de conveniência no país.
“Foram anos para solidificá-la no mercado econômico e financeiro através de uma
marca sólida”, escreveu o delegado federal Rodrigo de Campos Costa ao abordar a
estratégia do PCC.
O PCC
dos negócios da cocaína prima pela discrição e estratégias complexas na lavagem
dos lucros. No caso da Operação Rei do Crime, se a polícia demorasse mais dois
anos para agir, não teria mais como rastrear o dinheiro. É uma tática usada
pelas máfias, qualificação, aliás, que a PF passou a dar à facção. “O que
faltava para o PCC ser considerado uma máfia? Saber lavar dinheiro, que é o que
estamos demonstrando. Eles têm tentáculos no mundo todo. Não é tráfico de
drogas. É tráfico de cocaína. O PCC é uma máfia”, afirma o delegado Elvis
Secco. “O PCC é um monstro que estamos matando.”
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A
Operação Rei do Crime enredou José Carlos Gonçalves, o Alemão, o principal
preso ligado ao PCC. Com ele foram apreendidos 32 carros de luxo, um iate,
joias, dinheiro vivo, dois helicópteros e um patrimônio estimado em cerca de R$
12 milhões. Levava uma vida de respeitável empresário, mas sua ficha e as
investigações mostram que tinha relações obscuras. Era dele, segundo a polícia,
o helicóptero usado para assassinar dois traficantes que deixaram de seguir as
rígidas regras do PCC e passaram a roubar a facção, Rogério Jeremias de Simone,
o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca. Os dois foram mortos em
fevereiro de 2018, em Aquiraz, próximo a Fortaleza, no Ceará. Outro jurado de
morte, mas que conseguiu convencer a facção a não executar a “sentença”, é o
agora famoso André de Oliveira Macedo, o André do Rap, traficante da pesada,
que deixou pela porta da frente a penitenciária de Presidente Venceslau, em São
Paulo, no dia 10 de outubro, favorecido por decisão do ministro Marco Aurélio
Mello, do STF. Chefe do PCC na Baixada Santista, condenado a 15 anos e seis
meses por remeter quatro toneladas de cocaína pelo Porto de Santos, o
traficante se transformou no pivô de uma crise entre Mello e o presidente do
STF, Luiz Fux, que derrubou a liminar do colega e mandou investigar as circunstâncias
da decisão que jogou holofotes sobre o poderio da organização.
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No topo
do PCC está Marcola, sentenciado a 150 anos de reclusão, mais de 30 deles já
cumpridos, condenado a passar o resto de seus dias na cadeia. Marcola é um
preso diferenciado: durante o longo cárcere, se politizou, adicionou métodos
capitalistas ao crime e controla a organização sem precisar mostrar a cara. O
relatório da PF ao qual Pública teve acesso descreve a facção como uma
grande corporação empresarial, baseada em princípios de conglomerados
capitalistas, segundo os quais a hierarquia, disciplina e obediência às regras
de negócios são indispensáveis. A semelhança com a máfia italiana, segundo o
relatório da PF, vem da violência e intimidação contra agentes de segurança e,
em especial, contra os integrantes que violam as regras ou delatam. Marcola,
segundo está escrito no relatório, mesmo preso exerce “com mãos de ferro o
comando da cadeia alimentar do PCC, o que significa dizer que todas as ordens
ou ‘salves’ [ordens para missão] da facção devem [submissão] a sua anuência,
sob pena de severa punição, inclusive pelos conhecidos tribunais do crime”.
A
Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do Ministério da Justiça, já arrecadou
em 2020 mais de R$ 100 milhões sequestrados do crime, dos quais pelo menos 20%
já foram reconhecidos pela Justiça como originários da cocaína, um recorde na
história de confisco dos bens do tráfico. A meta da Senad é fechar 2020 com a
arrecadação de R$ 200 milhões. No site do ministério há uma lista de quase
3.800 bens a serem leiloados, dos quais até recentemente pelo menos 33 eram
fazendas de traficantes bloqueadas para leilões futuros, algo aproximado em 100
mil hectares de extensão. A secretaria quer apressar os convênios com os
estados para vender logo os imóveis. “Não somos uma imobiliária”, disse a
Pública o diretor de gestão de ativos do órgão, Giovane Magliane.
Fonte: Texto:Vasconcelo Quadros - Pública – Agência de Jornalismo Investigativo
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