Segundo o GAECO, a
facção movimenta mais de R$ 100 milhões anualmente
As investigações,
conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(GAECO), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), através de uma força-tarefa
composta por seis promotores de Justiça e agentes de investigação, com apoio da
Polícia Militar (PM), iniciada no primeiro semestre de 2019 a partir do
cruzamento de múltiplos dados, revelaram a cadeia logística do tráfico de
drogas da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
O GAECO Também
identificou a sucessão entre suas principais lideranças e a fonte de maior
renda da organização criminosa, indicando, ao final, a participação de 21
pessoas. Dois faleceram durante as investigações. Alguns integrantes da facção
se encontram no exterior, comandando atividades logísticas a partir de outros países.
Prisão de homem da contabilidade
Segundo o
promotor do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya, as investigações
tiveram início após a prisão, no dia 8 de agosto de 2018, em São Miguel
Paulista, na zona leste da capital, de Robson
Sampaio de Lima, apelidado de Tubarão ou “Alemanha”. Ele tinha o controle e
as contabilidades de todos os setores da organização criminosa.
Com ele, foi
apreendido um notebook contendo planilhas que indicavam remessas de valores
para o Paraguai e para a Bolívia. Além do notebook foram apreendidos com ele
vários telefones celulares com centenas de mensagens com os integrantes do
braço financeiro do PCC sobre o tráfico de drogas.
O MP descobriu que
os líderes do grupo compraram imóveis e montaram empresas em nomes de
familiares, usados como "laranjas" para não serem identificados.
Segundo o Ministério Público, alguns dos investigados adquiriram casas de luxo
e montaram empresas, transportadoras, salões de beleza e clínicas de estética
em áreas nobres da capital e Grande São Paulo.
Os documentos
apreendidos também levaram os investigadores à Eduardo Aparecido de Almeida, de codinome Dinamarca, também conhecido
como Pisca, preso também em 2018, em uma luxuosa mansão em Assunção, no
Paraguai. Pisca era apontado como um dos principais membros da facção no
exterior.
Com o objetivo de
ocultar centenas de milhares de reais semanalmente, os investigados compravam
veículos e se valiam de imóveis com esconderijos, onde guardavam dinheiro em
espécie antes de realizar transferências, muitas vezes por intermédio de
doleiros. As provas colhidas revelaram que a facção movimenta mais de R$ 100
milhões anualmente. Esse dinheiro é proveniente, basicamente, do tráfico de
drogas e da arrecadação de valores de seus integrantes, por meio de um rigoroso
controle em planilhas.
Operação Sharks
Em 14 de setembro
de 2020 foi deflagrada a Operação Sharks, que contou com a participação de oito
promotores de Justiça e o apoio da ROTA (1º Batalhão de Polícia de Choque), com
250 policiais militares e 65 viaturas.
Foram cumpridos
40 mandados de busca e 12 mandados de prisão para cumprimento em São Paulo, em
cidades da região metropolitana, da Baixada Santista e do interior, expedidos
pelo juiz Ulisses Augusto Pascolati Junior, da 1ª Vara de Crimes Tributários,
Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, contra lideranças
do PCC (Primeiro Comando da Capital).
A ação apreendeu
uma quantia superior a R$ 100 mil em dinheiro vivo, diversos veículos de luxo e
drogas, além de uma pistola calibre 9mm, munição e oito cartuchos de emulsão
explosiva (TNT). O GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais) foi acionado após a
descoberta dos explosivos escondidos no local. Os agentes também encontraram
diversos equipamentos eletrônicos e documentos.
Os promotores
obtiveram o bloqueio judicial de R$ 72.322.585,90, sendo o valor de
R$3.806.451, referente a cada uma das 19 pessoas. O bloqueio atingiu as contas
bancárias e os ativos financeiros de 12 pessoas físicas e 23 pessoas jurídicas
ligadas aos denunciados, por haver suspeita de atuarem como “laranjas” ou
empresas de fachada para o grupo criminoso. Também foram sequestrados, por
ordem judicial, 14 imóveis, alguns deles de luxo.
O MP apurou ainda
que o PCC gastou US$ 925.860,00 na aquisição de aeronaves; contratações de pilotos
para transportar drogas; despesas com combustíveis e reposição de peças para os
aviões e helicópteros.
Promotores de
Justiça descobriram que alguns dos investigados adquiriram casas de luxo,
transportadoras, salões de beleza e clínicas de estética em bairros nobres da
capital e Grande São Paulo.
Comunicação
Após Operação
Sharks, o GAECO descobriu que os
membros da principal facção criminosa de São Paulo se comunicam usando apelidos
inspirados na série espanhola “Casa de Papel”. Os líderes do esquema utilizavam
iPhone de última geração e mantinham uma rede restrita para trocar mensagens.
Argentina,
Austrália, Turquia, Jamaica, Inglaterra, Equador, Bolívia, Congo, Egito. Na
lista, não são países, mas os apelidos de integrantes do PCC.
De acordo com a
investigação, apenas uma pessoa ligada ao setor financeiro era responsável pela
compra dos telefones, inclusão de contatos na agenda e instalação de aplicativos.
A Organização utiliza programas para troca de mensagens pouco conhecidos com o
objetivo de dificultar o monitoramento e a quebra de sigilo das conversas.
É comum o envio
de códigos como este, o "QRCode", pelo celular. Uma chave para entrar
em salas secretas de bate-papo. O processo de decodificação necessita de um
trabalho junto ao fabricante, então existem poucas ferramentas disponíveis,
principalmente no mercado nacional. No entanto, normalmente os fabricantes
desses aplicativos menos conhecidos no Brasil, não têm filial no território
nacional. Com isso, de certa forma, eles não respondem às leis e nem às determinações
da Justiça do Brasil, por exemplo, num mandado de busca e apreensão.
Estrutura Financeira
A investigação
também descobriu como se organizava a parte da estrutura financeira da facção. Robson Sampaio de Lima (Alemanha) é
apontado como o chefe do setor. Acima dele, está Marcelo Moreira Prado, chamado de "Amigo", que seria o
responsável por repassar as ordens da cúpula para o setor financeiro. Assim
como Eduardo Aparecido de Almeida,
mais conhecido como "Cássio". Ambos viviam no Paraguai e foram presos
em 2018.
Prisão Preventiva
No dia 23 de
outubro, o juiz Ulisses Augusto Pascolati Junior, da 1ª Vara de Crimes
Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, após
receber a denúncia oferecida pelo (Gaeco) contra 19 integrantes da organização
criminosa PCC, decretou a prisão preventiva.
Os promotores
obtiveram ainda o bloqueio judicial de R$ 72.322.585,90, sendo o valor de R$ 3.806.451,89
referente a cada uma das 19 pessoas. O bloqueio atingiu contas bancárias e
ativos financeiros de 12 pessoas físicas e de 23 pessoas jurídicas ligadas aos
denunciados, por haver suspeita de atuarem como “laranjas” ou empresas de
fachada para o grupo criminoso. Também foram sequestrados, por ordem judicial,
14 imóveis, alguns deles de luxo.
Para ocultar a
movimentação bilionária, os denunciados compravam bens e se valiam de imóveis
com fundos falsos, onde guardavam dinheiro vivo antes de realizar
transferências, muitas vezes por intermédio de doleiros. Também recorriam a
empresas em nome de terceiros para movimentar valores.
Entre os
denunciados estão as principais lideranças do PCC atualmente em liberdade e
algumas já presas. Alguns integrantes da facção se encontram no exterior,
comandando atividades logísticas a partir de outros países. Dos 21 envolvidos,
dois faleceram durante as investigações.
Organograma da ORCRIM
Segundo as
investigações, a cúpula do PCC é formada por cinco setores: o "Sintonia
final da rua", que tem quatro homens tidos como os principais chefes; o
"Raio-X", que tem como objetivo levantar informações, com cinco
integrantes; o de "Logística e fornecimento de drogas", que agem no
comércio de drogas, com três membros; e o do "Progresso", responsável
por cumprir as missões com seis e, dentro do "Progresso", o
"Financeiro", com três. Veja, abaixo, a situação de cada integrante
da cúpula da facção.
Sintonia final da rua:
- Marcos Roberto de Almeida, o "Africano", “Angola”ou "Tuta", atualmente foragido é a principal liderança de rua do PCC, à frente da chamada “Sintonia Final da Rua”, o denunciado, é o responsável por comandar os integrantes soltos da organização criminosa, mantendo contato direto com a cúpula da facção que está no sistema prisional. Com passagens por roubo a banco e tráfico de drogas, ele é suspeito de ser responsável pelos planos de fuga das lideranças da facção reclusas em presídios federais, e ainda de liderar os planos de assassinar agentes e autoridades públicas em represália às transferências e às ações contra a cúpula da organização. Também ostentava cargo de técnico do Consulado de Moçambique em Belo Horizonte.
- Eduardo Aparecido de Almeida, preso,
vulgo “Pisca”; conhecido como "Cássio",
- Marcelo Moreira Prado, preso,
o Exu, vulgo “Sem Querer”; também chamado de "amigo", que seria o
responsável por repassar as ordens da cúpula para o setor financeiro. Ambos
viviam no Paraguai e foram presos em 2018.
- Patric Uelinton Salomão: o “Forjado”,
está preso, condenado a 15 anos de prisão, ele cumpre pena por tráfico de
drogas, associação ao tráfico de drogas, porte ilegal de arma, formação de
quadrilha, roubo e homicídio.
Raio-X:
- Gilberto Flares Lopes Ponte, foragido, ele é
apontado como responsável pela chamada ‘Célula Territorial’ e tinha a
incumbência de fazer o contato entre a cúpula e as lideranças atuantes em
outros estados do Brasil e países da América Latina, a chamada ‘Sintonia Geral
dos Estados e Países’.
- Gratualino de Sousa Lira, identificado como “Espanha”, que está foragido, era responsável pelo controle dos pontos de venda de drogas e pelo tráfico de maconha (‘Setor do Bob’).
- Décio Gouveia Luiz, 53, o Décio Português
ou Decinho, apontado por investigadores como o substituto de Marco Willians
Herbas Camacho, o Marcola, no comando do PCC (Primeiro Comando da Capital) em
São Paulo, preso, está entubado, em estado de saúde gravíssimo, na Santa Casa
de Presidente Venceslau, no interior paulista. Décio Português
foi preso em agosto do ano passado em uma casa de luxo em Arraial do Cabo, na
Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Ao notar que era observado, Décio
Português saiu de São Paulo. Foi para o Rio de Janeiro, onde passou a usar o
nome falso de Lucas de Souza Oliveira e ter grande cobertura de segurança da
cúpula do PCC. Em 14 de agosto, foi preso. No celular dele havia uma foto com o
brasão do cartel mexicano de Sinaloa, criado na década de 1980 por Joaquín
Guzmán Loera, o El Chapo. Segundo a Promotoria, essa foi a primeira ligação do
PCC com o cartel mexicano já registrada.
- Cláudio José Pinheiro de Freitas, de 36 anos, que
tinha o codinome Bulgária, foi surpreendido em
um apartamento de classe média alta, na Avenida Ophelia Caccerari Reis, no
bairro da Aviação, na cidade de Praia Grande, no litoral de São Paulo. Apontado como líder da facção na Baixada
Santista, ele foi morto em confronto com a polícia, na Operação Sharks. No
apartamento dele foram encontrados oito explosivos, uma pistola alemã, colete à
prova de balas, dinheiro em espécie (reais, dólares e guaranis, do Paraguai).
- Wellington Roberto da Cruz, que está preso,
era responsável último por fazer cumprir as normas e a disciplina da facção criminosa
(‘Resumo disciplinar’).
Logística de Fornecimento de drogas
O MP-SP, ao
investigar a ORCRIM identificou os integrantes da facção responsáveis pela logística
do tráfico de drogas.
- Valdeci Alves dos Santos, vulgo
“Colorido” comandava a cadeia de suprimento de drogas da facção, sobretudo
aquela vinda de outros Países. Ele é acusado pelo MP de ter adquirido três
imóveis em Alphaville.
- Sergio Luiz de Freitas Filho também comandava, junto com Valdeci, a cadeia de suprimento de drogas da facção. Ambos continuam foragidos, segundo o MP-SP, e a suspeita é a de que eles estejam fora do Brasil, de onde atuam para a facção. Ambos estão no rol de pessoas mais procuradas do Ministério da Justiça.
- Levi Adriano Felício, 52 anos, foi preso
no seu apartamento, em um dos bairros mais luxuosos de Assunção na capital do
Paraguai. De acordo com relatório da Polícia Federal, era o responsável
por lavar dinheiro e guardar armas para a facção no Paraguai. Segundo o MP
informou na segunda-feira (14), tinha certificado de registro como CAC
(colecionador, atirador e caçador) junto ao Exército brasileiro. O documento
encontrado pela investigação tinha validade até 2016.
Progresso:
- Odair Lopes Mazzi Júnior, o “Argentina”, que se encontra
foragido, a frente da ‘Sintonia
Final do Progresso’ e da ‘Padaria’ (refino de drogas), era responsável direto
pelo preparo, guarda e divisão da droga entre os integrantes. Segundo o Ministério
Público, era a pessoa que mais mantinha contato com Alemanha na hora de fechar
negócios. Ele é um dos responsáveis pela logistica do tráfico de drogas. De
acordo com as investigações, ele possui imóveis em Alphaville, restaurante e
salão de beleza em Moema e apartamento no Morumbi.
- Sergio Luiz Ferrari, ele se encontra
foragido.
- Wagner Rodrigo dos Santos, 42 anos, conhecido
como branquinho, que se encontra preso, é acusado pelo MP de ter movimentado
US$ 13,6 milhões para os cofres da facção no período de 17 de outubro de 2018 a
27 de julho de 2019.
- Diego Macedo Gonçalves do Carmo, 36 anos, se
encontra preso.
- João Paulo Tomaz de Souza, ele se encontra preso.
- Edmilson de Meneses: Ele está foragido.
Segundo o MP ele é cunhado de um preso apontado como o número 2 na hierarquia
do PCC, recolhido na Penitenciária Federal de Brasília. De acordo com as
investigações ele é proprietário de uma transportadora.
Financeiro:
- Robson Sampaio de Lima, apelidado de
Tubarão ou “Alemanha” (foto) é apontado como o chefe do setor.
- José Carlos de Oliveira, 49 anos, foi morto
durante realização de um assalto em confronto com policiais da Rota (Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar), em julho deste ano, em Itaquaquecetuba.
- Carla Luy Riciotti Lima, identificada como
“Chechênia”, que se encontra presa, tinha a missão de organizar o esquema de
comunicação entre os membros da facção. Uma de suas funções, de acordo com o
MP, era providenciar os telefones para uso da rede restrita dos líderes.
PCC movimentou R$ 1,2 bi em tráfico
internacional de drogas
Segundo dados
levantados pelas autoridades, obtidos a partir de documentos apreendidos
durante a Operação Sharks, entre junho de 2018 e setembro de 2020, o tráfico
internacional de drogas fez o PCC movimentar R$ 1,2 bilhão. O valor não incluía
negócios particulares realizados por membros e associados da facção.
Pela primeira
vez, o PCC foi caracterizado pelo Ministério Público como organização de tipo
mafioso. O motivo é a estrutura de lavagem de dinheiro da facção — o que
restava em termos de organização para que pudesse ser considerada uma máfia.
Cerca de R$ 200
milhões foram movimentados no sistema financeiro por meio de contas bancárias
em nomes de laranjas e empresas fantasmas.
O restante era
mantido em casas-cofre, transportado em carros e remetido a doleiros para que
enviassem o dinheiro ao exterior e, assim, a facção pagar fornecedores de
drogas em países como Bolívia, Paraguai e Peru.
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