Profissionais
evitaram acidente no Porto de São Sebastião, em 2019.
Durante
quase seis horas os práticos Marcio Santos Teixeira e Fábio Rodrigues Alves de
Abreu enfrentaram no dia 28 de abril de 2019 uma tempestade com rajadas de mais
de 130 km/hora (70 nós), ondas de 1,5 a 2 metros, chuva constante, muita tensão
e um enorme desafio pela frente: no meio desse caos fundear em segurança dois
petroleiros carregados e atrelados um ao outro por
cabos de aço.
Esses
navios estavam à deriva no Canal de São Sebastião, levados pela força das
correntes marítimas e rumando perigosamente para Ilhabela, colocando em risco
seus moradores e o meio ambiente. E se não bastante todo o estresse dos
comandantes dos dois navios e da tripulação, eles ainda tiveram que interromper
a delicada operação para retirar um tripulante em estado crítico e mandá-lo
para a terra para tentar um atendimento rápido no hospital.
Para
superarem essas condições adversas do tempo e do mar, eles usaram de todo
conhecimento da região e da experiência, conseguindo concluir essa missão,
reconhecida internacionalmente agora com o Prêmio IMO por Bravura Excepcional
no Mar, da Organização Marítima Internacional, considerado o de mais
alto reconhecimento mundial.
Indicados
pelo Brasil, por sua determinação, profissionalismo e expertise no manejo de
navios demonstrados em uma emergência causada por condições climáticas extremas
durante operação no Terminal Almirante Barroso, no Porto de São Sebastião, as
ações seguras e assertivas dos práticos Márcio e Abreu salvaram vidas e
evitaram graves danos a estruturas de cais e instalações de petróleo, com a
possiblidade de um grande acidente ecológico, com derramamento de óleo. Todos
os fatos e procedimentos foram considerados durante o longo processo da
premiação, que envolve várias etapas e a participação de um grupo de jurados de
entidades reconhecidas pela comunidade
internacional.
O
resultado saiu no dia 10 de setembro de 2020 e foi recebido com muito
entusiasmo na Praticagem de São Paulo. Para o presidente Carlos Alberto de
Souza Filho, a premiação é uma grande honra para a empresa e revela, mais uma
vez, a importância da atividade como essencial para o interesse público na
coordenação eficiente do tráfego marítimo e em todo gerenciamento de riscos
inerentes à navegação em águas restritas.
"Trabalhamos
24 horas por dia com qualquer tempo e em qualquer condição, com a prioridade de
preservar a segurança, atender às emergências e garantir as operações. É uma
atividade que envolve muitos riscos, temos o conhecimento, a técnica, a coragem
e a determinação como, princípios básicos para o exercício da profissão, como
provaram nossos bravos práticos Márcio e
Abreu", afirmou.
Como tudo começou
No dia
28 de abril de 2019, os práticos Márcio e Abreu foram alertados pelo gerente do
Terminal que, devido a rajadas de vento inéditas de até 70 nós, os cabos de
amarração de dois petroleiros atracados em operação navio a navio estavam
partindo. Com pouca visibilidade, causada por fortes chuvas e ondas altas no
canal, os dois práticos embarcaram na lancha da Praticagem para tentar chegar
aos petroleiros, quando perceberam que os navios já
estavam à deriva.
Em
condições bastante desafiadoras, Márcio conseguiu embarcar no navio-tanque Rio
2016, onde encontrou a tripulação bastante apreensiva. Inicialmente ele se
informou sobre a situação crítica para planejar a melhor abordagem, uma vez que
os dois navios ainda estavam conectados por mangueiras de óleo e cabos de
amarração e derivando para a região de Ilhabela.
Nesse
ínterim, correndo sérios riscos, Abreu conseguiu subir a escada de prático do
petroleiro Milton Santos. Ter um prático em cada navio era essencial para fins
de comunicação e como plano de backup. Márcio comenta: "Foi um fato
inédito e uma grande aprendizagem para nós. Essa operação nunca tinha sido
realizada pela Praticagem de São Paulo. Eu e o prático Abreu só descobrimos que
os navios já estavam à deriva e ainda amarrados um ao outro quando nos
aproximamos deles com a lancha da Praticagem. Um navio estava atracado a
contrabordo do outro no mesmo berço quando os 20 cabos de aço que os ligavam ao
cais se partiram com a força do vento. Além das dificuldades de toda a
operação, um grande desafio foi o embarque pelas condições do tempo. O navio
estava praticamente parado, sem propulsão, o que prejudicou a estabilidade da
lancha, ao contrário do que se poderia pensar. O embarque no navio em uma velocidade
normal, de seis nós (11 km/h), é bem
mais fácil."
Prioridade foi cuidar
do tripulante
Um dos
momentos de maior tensão ocorreu quando Márcio foi acionado por Abreu,
informando que havia um tripulante em estado crítico, aparentemente com
problemas cardíacos no Milton Santos, e que precisava ser desembarcado
urgentemente para ser levado para um hospital mais próximo. Esta passou a ser a
prioridade máxima. Como seria impossível pelas condições do mar desembarcar o
tripulante direto do Milton Santos para a lancha da Praticagem, Márcio decidiu,
juntamente com os comandantes e com o Abreu, que ele seria transferido primeiro
para o seu navio e depois para o rebocador. "Foi muito rápido, as
tripulações trabalharam muito bem, o paciente foi levado na maca em um
guindaste e em menos de 5 minutos já estava no rebocador. Foi um momento
crítico, um rebocador faria muita falta, mas a vida humana era prioridade. O
Centro de Operações da Praticagem já havia solicitado uma ambulância que estava
esperando, mas, infelizmente mesmo chegando ao hospital
não resistiu".
Operação de
salvamento
A única
alternativa foi usar a área de fundeio no norte do canal e só os recursos do
"Rio 2016", que foi rebocando o "Milton Santos" a
contrabordo. "Tivemos que seguir a, no máximo, um nó e meio de velocidade,
mais expostos a ventos e correntes, porque os mangotes para transferência de
óleo ainda estavam conectados. Como os ventos nos jogavam para Ilhabela,
tínhamos que jogar a proa para a direção de São Sebastião. O navio, na verdade,
navegava de lado. Mas mostrei ao Comandante, nas telas dos equipamentos, que
era o que tínhamos que fazer e fomos trabalhando em equipe, incluindo os
Comandantes dos rebocadores", contou Márcio.
Márcio
deu continuidade à navegação do Rio 2016, rebocando o Milton Santos ao lado, a
uma velocidade máxima de 1,5 nós (2,8 km/h), em direção à área de fundeio. Após
40 minutos de navegação e uma desafiadora evacuação do tripulante gravemente
ferido do Milton Santos, infelizmente chegou a informação de que ele havia
falecido. A velocidade do vento diminuiu para 56 km/h (30 nós) e, enquanto o
ferro (a âncora) do Rio 2016 estava sendo lançada, as embarcações foram
desconectadas.
Os dois
práticos manobraram cuidadosamente o Milton Santos para longe do Rio 2016 com o
auxílio de rebocadores e, após mais de cinco horas estressantes, o navio finalmente
também largou a âncora.
Depois
de 5h30 de um trabalho cuidadoso e realizado com muita eficiência, eles
finalmente conseguiram evitar um grave acidente com os dois petroleiros da classe
Suezmax carregados de óleo.
Concluir
a operação, separando os petroleiros e fundeando ambos em segurança no meio do
canal, trouxe um sentimento de alívio e
realização: "Acho que a fase mais crítica, com todos os
cálculos possíveis e o conhecimento da região, foi conseguir girar os navios
com segurança ao local de fundeio e tirá-los da área de perigo. Nossa sensação,
minha e do Márcio, quando tudo terminou, foi de que a tripulação não tinha
ideia do risco que todos estavam correndo, caso os navios continuassem à
deriva, mas nós sabíamos o que poderia acontecer e, por isso, todos as ações
foram tomadas com muita agilidade", disse Abreu.
Segunda premiação
Das 31
indicações para o prêmio, uma dividiu o primeiro lugar com os Práticos
Brasileiros. Foi a do suboficial de segunda classe Ralph OfallaBarajan da
Guarda Costeira filipina, indicado pelas Filipinas, pela liderança e
determinação demonstradas, fora de serviço, durante a inundação e naufrágio do
M / V SiargaoPrincess, onde era passageiro junto com 54 pessoas.
Fonte: Jornal da Orla
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