Porto
de Natal é apontado pela PF como um dos principais pontos de embarque de drogas
para a Europa.
No
dia 18 de agosto, com a participação de aproximadamente 630 agentes e equipes
do Comando de Operações Táticas, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Além-Mar,
que investiga esquema de Tráfico Internacional de Drogas e Lavagem de Dinheiro.
Foram
cumpridos 139 mandados de busca e apreensão e 50 mandados de prisão (20 prisões
preventivas e 30 prisões temporárias), expedidos pela 4ª Vara Federal – Seção
Judiciária de Pernambuco. Os mandados foram dirigidos a endereços e pessoas
localizados em 12 estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São
Paulo) e no Distrito Federal.
Foi
determinado, ainda, pela Justiça Federal o sequestro de aviões (7),
helicópteros (5), caminhões (42) e imóveis (35) urbanos e rurais (fazendas)
ligados aos investigados e ao esquema criminoso, além do bloqueio judicial do
valor de R$100 milhões.
As
investigações apontaram que a droga saía do Paraguai, entrava no Brasil
transportada por helicópteros, e enviada através de portos brasileiros à países
europeus, como Holanda e Bélgica.
Atuação de Quatro
Organizações Criminosas - ORCRIM
Quatro
organizações criminosas autônomas, atuando em conexão, viabilizavam o esquema
de tráfico internacional de drogas investigado na atual operação, por meio do
qual, toneladas de cocaína foram exportadas para a Europa via portos
brasileiros, especialmente no Porto de Natal/RN.
ORCRIM 1 – São Paulo-SP
A
primeira célula do grupo, estabelecida na capital paulista, operava a entrada
da cocaína pela fronteira com o Paraguai, transportando-a via aérea até o
estado de São Paulo e distribuindo-a no atacado para organizações criminosas
estabelecidas no Brasil e na Europa.
ORCRIM 2 – Campinas-SP
A
segunda, estabelecida em Campinas/SP, parceira da anterior, recebia a cocaína
internalizada no território nacional para distribuição interna e exportação
para Cabo Verde e Europa.
ORCRIM 3 – Recife-PE
A
terceira, estabelecida em Recife/PE, é integrada por empresários do setor de
transporte de cargas, funcionários e motoristas de caminhão cooptados, atuava na
logística de transporte rodoviário da droga e o armazenamento da droga até o
momento de sua ocultação nos containers.
ORCRIM 4 – São Paulo-SP
A
quarta parte da organização criminosa, estabelecida na região do Braz, em São
Paulo/SP, cuidava das finanças, atuando como um banco paralelo,
disponibilizando sua rede de contas bancárias (titularizadas por empresas
fantasma, de fachada ou em nome de “laranjas”) para movimentação de recursos de
terceiros, de origem ilícita, mediante controle de crédito/débito, cujas
restituições se dão em espécie e a partir de TEDs, disponibilizando
essas contas mediante remuneração.
Os
dólares obtidos com a venda no exterior eram repatriados de forma paralela, sem
conhecimento das autoridades, e os valores em espécie eram repassados aos
traficantes no Brasil. Não havia um endereço específico, mas, de acordo com a
PF, o esquema de movimentação financeira ocorria em ruas como a Oriente e a 25
de março, no Brás.
"Essa
organização também oferecia um serviço que chamamos de 'dólar cabo', quando o
pagamento pela droga é feito na Europa e a organização entrega o dinheiro no
Brasil, sem uma operação de câmbio", disse a delegada.
Investigação
Prisões
em flagrante e apreensões de drogas ao longo das investigações caracterizaram
um modus operandi dividido em três fases: INTERNAÇÃO da cocaína pela fronteira
com o Paraguai e armazenamento no interior de São Paulo; TRANSPORTE INTERNO da
droga para as regiões de embarque marítimo e armazenamento em galpões;
TRANSPORTE INTERNACIONAL mediante embarque da droga em navios de carga
(contaminação de containers) ou veleiros.
Durante
a fase sigilosa das investigações foram presas 12 pessoas e apreendidas mais de
11 toneladas de cocaína, no Brasil e na Europa, relacionados ao esquema criminoso.
Dentre esses presos estava um grande traficante, que permaneceu foragido da
justiça brasileira por 10 anos e era procurado pela Polícia Federal e pela
National Crime Agency – NCA, do Reino Unido. Ele foi preso em Jundiaí/SP em
março/2019.
As investigações foram iniciadas no ano de 2018, com a apreensão de cocaína em veleiros no litoral pernambucano, nas proximidades de Fernando de Noronha através de informações difundidas à Polícia Federal pela National Crime Agency – NCA, como resultado de parceria estabelecida para reprimir o tráfico de cocaína destinada à Europa.
Utilização de helicópteros
Segundo
a Delegada da Polícia Federal Adriana Vasconcelos, diferentemente de outras
quadrilhas, que utilizam aviões privados e se submetem a toda a fiscalização do
espaço aéreo brasileiro, essa organização usava helicópteros, que são menos
suscetíveis a esse sistema de fiscalização, mas tem menos autonomia do que os
aviões.
Como
esse tipo de aeronave tem baixa autonomia de voo, o município de Teodoro
Sampaio-SP era utilizado como base para o abastecimento. Conforme as
investigações, o entorpecente saía e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e tinha
como ponto de entrada no país a cidade de Ponta Porã, passava por Dourados, e
cruzava o Estado até entrar no interior paulista.
Nessa
cidade do interior paulista, a cocaína era colocada em compartimentos
preparados antecipadamente para que fosse ocultada. Em seguida, o transporte
ocorria por meio de caminhões para a região de embarque marítimo. “Via de
regra, na região Nordeste, mas também houve transporte para a região Norte”,
disse a delegada.
A
droga era levada, segundo a PF, escondida junto à mercadoria que estava dentro
dos contêineres. "Há também outro modus operandi, que é a colocação e
retirada rápida da droga, que fica localizada na porta do contêiner. Nessa
segunda técnica, muitas vezes o contêiner é retirado ainda no mar",
afirmou a delegada.
Integrantes presos
De
acordo com a Delegada Adriana Vasconcelos, antes de a operação ser deflagrada,
já haviam sido feitas prisões e apreensões de drogas em municípios dos estados
Alagoas, São Paulo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e no porto de Rotterdam,
na Holanda.
O
homem apontado pela delegada como responsável pela primeira organização
criminosa, Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, conhecido como
"Minotauro", foi preso pela PF em 2019. "Os comparsas dele
continuaram na atuação. A informação que temos é que a organização internava 5
toneladas de cocaína por mês", disse.
Na
segunda organização criminosa, a PF apontou Romilton Queiroz Hosi como o
responsável. "Ele era foragido, procurado há dez anos pela Polícia Federal
e pela polícia do Reino Unido. No curso das investigações, conseguimos prendê-lo
em 2019", afirmou Adriana.
Na
terceira organização, segundo a delegada, não havia uma única pessoa à frente
do setor de transportes. "Havia uma rotatividade grande de
empresários", disse. Entre os presos estão empresários e um piloto.
"Ele [o piloto] é uma pessoa que teve um incremento patrimonial absurdo ao longo de três anos. Uma pessoa que, há três anos, tinha um veículo usado e agora tem seis, sete aeronaves, entre helicópteros e aviões. Na mesma forma, no Pará, foi alvo um outro piloto do tráfico, que começou do zero e apresentou aquela evolução patrimonial não justificada", explicou Adriana.
Ceará
A
operação identificou que o PCC lavava dinheiro do tráfico em uma rede de postos
de combustível no Ceará, com aproximadamente 80 unidades. Por trás do esquema
estaria um relevante prefeito cearense.
A rede de postos seria gerida por parente do gestor. O prefeito mesmo trabalharia nos bastidores fazendo o jogo sujo com os chefões da facção.
Mato Grosso do Sul
No
município de Três Lagoas (MS) um veterinário foi conduzido para a delegacia.
Segundo informações da Polícia Federal, houve o cumprimento de um mandado de
busca e apreensão na residência do homem, localizada no bairro Vila Nova.
Apreensões
Segundo
informações da PF, entre os bens que tiveram o sequestro determinado pela
Justiça Federal estão 7 aviões (incluindo 1 em Brasília, 1 em SP e 2 no PA), 5
helicópteros (3 deles em PE), 42 caminhões e 35 imóveis urbanos e rurais
ligados aos investigados. Além disso, também foi determinado o bloqueio
judicial de R$ 100 milhões.
Veja abaixo alguns bens apreendidos:
Pernambuco
Em
Pernambuco, vários carros de luxo foram apreendidos, entre eles um porche avaliado em
mais de R$ 320 mil, e uma carreta.
São Paulo
A
investigação é realizada pela PF de Pernambuco, mas é no território paulista a
maioria dos alvos. Equipes do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná deram apoio
a essa operação.
No
interior de São Paulo, um avião foi apreendido em Campinas. Em Bauru um homem foi
preso na Vila Pacífico, região da Vila Falcão. Em Marília, uma oficina de
aeronaves, instalada no aeroporto de Marília, na zona Leste, foi alvo de
mandado de busca da PF, com a apreensão de documentos e dados de serviço.
Mato Grosso do Sul
Um
avião foi apreendido em Campo Grande (MS).
Rio Grande do Norte
No
Rio Grande do Norte foram cumpridos 5 mandados de busca e apreensão nas cidades
de Brejinho, São José de Mipibu, Parnamirim e Natal e um mandado de prisão na
capital potiguar.
Um
empresário foi preso no Rio Grande do Norte, em propriedades do suspeito, que
atua no ramo de combustíveis, cavalos e carros de luxo também foram
apreendidos. Os cavalos e os carros estavam em fazendas em Brejinho e São José
de Mipibu. Em uma casa, em Parnamirim, os agentes ainda apreenderam um Porsche.
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