Ele foi
detido com documentos adulterados; ele é acusado de três assassinatos e de
liderar uma organização criminosa de tráfico internacional de cocaína.
Preso
pela Interpol (International Criminal Police Organization), o traficante
brasileiro Hernandes Oliveira da Silva, conhecido como Mike, simulou a própria
morte com direito a lápide, homenagens póstumas e documentos falsos. Suspeito
de três assassinatos e de liderar uma organização criminosa internacional, ele
adulterou sua identidade para despistar as autoridades, mas acabou detido no
Uruguai.
Mike
foi localizado em Canelones, a 40 quilômetros da capital Montevidéu, no último
dia 22 de julho, por agentes do Departamento de Capturas Internacionais da
Interpol. Eles encontraram mais de 64 mil dólares e 126 mil pesos uruguaios –
cerca de R$ 351 mil na cotação atual – com o criminoso, que se passava por Ruan
Cortes da Silva, supostamente natural do Pará. De acordo com informações da
Polícia Federal, no entanto, não há qualquer registro desse nome no estado.
Documentos
mostram que Mike teria morrido por conta de um “infarto por insuficiência
respiratória” em 22 de junho, na capital paraguaia Assunção. Além do
certificado de óbito, duas homenagens a ele foram publicadas na seção de
serviços fúnebres de um jornal local, com o intuito de tornar a morte ainda
mais crível. Uma das mensagens dizia: “Baixinho, como o chamavam seus amigos e
familiares. Seus amigos de Ciudad del Este e Foz do Iguaçu acompanhamos seus
familiares em tão triste dor. Que descanse em paz”.
“O boato que circulava era de que ele morreu com Covid-19 e que o caixão estava fechado, além desses documentos”, disse a delegada Tathiana Guzella, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) no Paraná. “Faz todo sentido ele ser, em tese, enterrado num país em que não temos acesso para exumar e realizar qualquer perícia”.
A Polícia Civil no Paraná investiga Mike desde novembro do ano passado pelo assassinato do ex-policial Samir Skandar e seu funcionário Alvari de Paula Silva. O crime ocorreu em um barracão no Bairro Alto, em Curitiba. No curso das apurações, verificou-se que o suspeito integrava uma organização criminosa de tráfico internacional de cocaína vindo da Bolívia. Ele era apontado como chefe do grupo no Sul do Brasil, por onde a droga passava antes de ser enviada à Europa. De acordo com a polícia, há provas e indícios de que ele estava envolvido no esquema.
O
traficante foi preso em março deste ano no município de Itapema, em Santa
Catarina, por tentativa de feminicídio – homicídio contra a mulher pelo fato de
ela ser do sexo feminino. Assim que soube da detenção, a DHPP pediu a inclusão
de um mandado por duplo homicídio qualificado, atendido pela 2ª Vara do
Tribunal do Júri.
Por
uma falha no sistema, Mike acabou em liberdade provisória após revogação da
ordem que ensejou sua prisão, embora o outro mandado permanecesse valendo. De
acordo com a Polícia Civil, o servidor que se equivocou já foi punido.
“Desde então, ele nunca mais foi encontrado. Mike tinha plena ciência da nossa investigação e, por isso, tentou se passar por morto. Ainda não sabemos por quem ele foi assessorado, mas certamente ele teve ajuda para orquestrar tudo isso”, afirmou a delegada.
O mandado contra o traficante foi inserido na difusão vermelha da Interpol, o alerta internacional expedido pela Justiça de países membros. A partir do depoimento de testemunhas, a DHPP recebeu a informação de que Mike costumava passar temporadas no Uruguai, onde teria uma casa, e acionou as autoridades do país. O criminoso foi reconhecido em um veículo e apresentou documentos adulterados à polícia local, mas sua identidade foi confirmada pelas impressões digitais.
“Para
completar, a foto que constava na sua identidade falsa era exatamente a mesma
da publicação do jornal paraguaio. Ele nem se deu o trabalho de tirar outra
foto. As tatuagens também eram as mesmas. Temos inúmeras provas de que ele
usava documento falso no nome de Ruan”, disse Guzella.
Segundo
a Polícia Civil do Paraná, Mike será indiciado por duplo homicídio qualificado
e organização criminosa. A Polícia Federal apura outros crimes, cuja
investigação segue em sigilo. Ele já havia sido preso por tráfico de
entorpecentes, além do caso de feminicídio. Cabe à justiça brasileira solicitar
sua extradição. O traficante ainda poderá ser investigado pelas autoridades
paraguaias por forjar sua morte, de acordo com a legislação do país.
No dia 20 de julho, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu, em São Paulo, o croata Luka Maric, de 28 anos, comparsade Mike.
Ele também estava foragido e era procurado pela Interpol.
O crime
Integrantes
da organização de tráfico internacional, Mike e Maric teriam ordenado as
execuções de Samir Skandar e Alvari de Paula Silva, assassinados com vários
disparos. A polícia descobriu que Skandar foi morto após o grupo, no qual ele
havia acabado de ingressar, ter descoberto que ele era policial. As autoridades
acreditam que o ex-policial tentou se infiltrar na organização para
investigá-la. Em uma troca de mensagens, a polícia verificou que Skandar não
cumpriu uma ordem de Mike para sequestrar uma pessoa identificada como
“papa-léguas”.
Mike
ainda é investigado pela morte do sérvio Marjan Jocic, que seria integrante da
mesma quadrilha. O corpo dele foi encontrado no dia 4 de maio deste ano, em um
lago em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Outras duas pessoas
foram presas temporariamente por envolvimento no assassinato dias após o crime.
Elas foram soltas no início de junho por decisão da Justiça e vão responder
pelo crime em liberdade.
Fonte:
Revista Época
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