Nos
dois portos utilizados com mais frequência (Santos e Paranaguá), as apreensões
em 2019 bateram recorde.
A
rota do tráfico internacional de cocaína, dominada no Brasil pelo PCC (Primeiro
Comando da Capital), começa nas plantações de coca nos países andinos, continua
na travessia da droga pelo país — por meios terrestres, fluviais e aéreos — e
chega até grandes portos brasileiros. De lá, a cocaína é levada a outros
continentes.
Garçons e prostitutas ligadas à maior facção criminosa do Brasil subornam marinheiros.
São eles que levam a droga até contêineres de navios mercantis atracados nos
principais portos do país, como os de Santos (SP), Paranaguá (PR), Itajaí (SC),
Recife e Salvador, segundo investigações da PF (Polícia Federal).
Levantamento
da PF, obtido pelo UOL em primeira mão, aponta que, entre o ano passado e este
ano, dobrou o número de cocaína — o principal produto comercializado pelo PCC —
apreendido nos principais portos do Brasil. Nos dois portos utilizados com mais
frequência (Santos e Paranaguá), as apreensões em 2019 bateram recorde. Confira
os dados abaixo:
Apreensões
de cocaína em portos do Brasil (em kg)
Santos
é tida pelo PCC, segundo investigações do MP (Ministério Público), como a
principal cidade da facção para o andamento do tráfico internacional. É de lá
que sai boa parte da cocaína que é levada do Brasil para a Europa, incluindo ao
sul da Itália, onde a facção paulista mantém negócios com a principal máfia italiana, a 'Ndrangheta.
Gaetano
Paci, procurador antimáfia da Calábria (província da Itália), afirmou que
"há muitas evidências de uma relação entre a 'Ndrangheta e
narcotraficantes sul-americanos. Muitas cargas de cocaína partem precisamente
de portos brasileiros, particularmente dos portos de Recife e Santos".
"São
navios que seguem rotas específicas para o transporte de contêineres. Muitos
desembarcam em Gioia Tauro, um dos maiores portos do Mediterrâneo e que é
controlado pela 'Ndrangheta", complementou.
Para
ter cargo de liderança em Santos, inclusive, é preciso de aval da cúpula da
facção — hoje detida e isolada em presídios federais. Quem comandou os negócios
da facção por anos na Baixada Santista foi Rogério Jeremias de Simone, o Gegê
do Mangue, que foi assassinado sob suspeita de ter roubado o próprio PCC e por
não ter cumprido um plano de resgatar Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola,
principal chefe da organização.
Após
a morte de Gegê do Mangue, André de Oliveira Macedo, o André do Rap, foi
escalado para comandar os negócios da facção em Santos. Ele era apontado como
um dos homens de confiança de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que é
apontado como o braço direito de Marcola em liberdade e que prometeu ao líder
cumprir o plano de resgatá-lo. André do Rap foi preso em setembro de 2019.
A
procuradora da República Ryanna Pala Veras, responsável pela denúncia da
Operação Brabo, deflagrada em 2017, e que obteve a condenação de 26 pessoas por
tráfico internacional de drogas no último mês de maio, diz que "o porto de
Santos constitui a principal rota de escoamento de grandes carregamentos de
cocaína produzida na América do Sul".
"Foi
organizada uma rede de logística entre produtores, transporte, armazenamento e
embarque em navios com destino à Europa, África e Oriente Médio. Essa logística
é controlada pelo PCC, que praticamente detém monopólio dessa atividade
criminosa no Brasil", informou a magistrada.
Segundo
a Polícia Federal, o PCC tem o interesse de fazer o mesmo em portos do sul do
Brasil, por serem mais próximos do Paraguai — uma das principais rotas de
entrada da cocaína adquirida pelo PCC. Entre esses portos, estão Paranaguá (PR)
e Itajaí (SC).
Para
o desembargador José Laurindo de Souza Netto, professor e supervisor pedagógico
na Escola da Magistratura do Paraná e que tem estudos sobre as máfias
italianas, o PCC "se utiliza de fato do transporte marítimo, mais
especificamente dos contêineres para enviar a droga para a Itália e outros
países. O envolvimento das facções em toda a logística de atuação nos portos
está constatada pelas autoridades competentes".
Fonte:
UOL
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