Terminal
será implantado no local conhecido como Largo do Caneu, no canal do Porto de
Santos.
Ambientalistas
e especialistas da Baixada Santista estão preocupados com a iniciativa da
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) ao realizar, até 19 de
fevereiro, consultas e audiências públicas, em Brasília (DF) e não na região,
que visa o recebimento de propostas para a norma que regulamenta as operações
de transbordo de navio para navio e o subsequente transporte a granel de
petróleo, seus derivados, gás natural e biocombustíveis.
Segundo
acreditam, a verdadeira intenção é avalizar um terminal da Companhia de Gás de
São Paulo (Comgás), que está sendo implantado, com pouca publicidade, no local
conhecido como Largo do Caneu, no canal de acesso ao Porto de Santos, próximo
ao terminal da Ultracargo e a Cava do manguezal do Largo do Casqueiro, em
Cubatão. Integrantes da Associação de Combate aos Poluentes já ingressaram com
representações nos ministérios públicos, Estadual e Federal (MPE-SP e MPF).
O
terminal será uma plataforma na qual ficarão atracados navios, com tanques
capazes de transportar 85 mil toneladas de gás liquefeito e outros
vaporizadores. Uma tubulação de 20 polegadas de diâmetro e extensão de 8,5
quilômetros levará esse gás de Santos a um conjunto de instalações que fará a
sua distribuição conhecido como City Gate em Cubatão. Todo esse aparato
permitirá o transporte diário de 14 milhões de metros cúbicos de gás.
Alertas
Os
ambientalistas fazem vários alertas. Um deles é sobre a posição estreita do
canal de navegação que possibilita choques entre embarcações. Outro é o traçado
das tubulações de gás - por baixo do Canal de Piaçaguera e do Rio Cubatão -
alvos de constantes dragagens. "Além disso, a tubulação passará ao lado de
empresas e comunidades, sobretudo no Jardim Costa e Silva (Cubatão). Não pode
ser aceitável expor populações urbanas a esse risco", apontam os
especialistas no documento enviado aos ministérios públicos.
O
procurador da República, Antônio José Donizetti Molina Dalóia, um dos
responsáveis pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) envolvendo o incêndio
de Ultracargo, e a promotora Almachia Zwarg Acerbi, do Grupo de Atuação
Especial do Meio Ambiente (GAEMA-MPE-SP), que acompanhou a situação de
Termoelétrica de Peruíbe, empreendimento que não caminhou por conta da pressão
popular e de ambientalistas da região, foram acionados.
Navios-Bomba
Conforme
alertam, os milhares de metros cúbicos de gás, cujo ponto de descarga é
extremamente perigoso, poderão afetar outros depósitos de combustíveis e
produtos químicos. Eles enfatizam que, em caso de vazamentos, falhas
estruturais e operacionais de acoplamento; vaporização ou bombeamento poderão
causar uma enorme bola de fogo que atingirá vários quilômetros, causando
inúmeras mortes. "Um projeto com esse potencial de risco de destruição não
pode ter, no Centro da Cidade de Santos, um atracadouro de navios-bomba. É
preciso afastar este terminal de descarga e a passagem desses navios em centros
urbanos", alertam.
Os
ambientalistas lembram o acidente ocorrido em Santos envolvendo o Gasômetro da
Vila Nova, cuja explosão destruiu um quarteirão inteiro, na década de 60,
deixando 400 pessoas feridas, sendo 40 em estado grave. "O sistema de
distribuição é bem semelhante ao pretendido pela Comgás, só que em proporções
bem maiores", finalizam.
Pedidos
Os
ambientalistas pedem ao procurador e à promotora que formalizem um documento
junto à Comgás que afaste o atracadouro oito quilômetros de distância de
assentamentos urbanos; que modifique o traçado das tubulações; que transforme o
sistema de vaporização de aberto para fechado (para que o ecossistema não seja
afetado em função da temperatura da água); que a empresa apresente um sistema
de controle operacional seguro e um plano de contingência e evacuação eficazes.
Também avaliação de risco de cada 100 metros de tubulação, emissão constante de
comunicações de riscos à população e publicidade a um possível processo de
evacuação.
"Isso está me
cheirando mal"
O
professor e ambientalista Élio Lopes dos Santos, mestre em Engenharia Urbana
(com ênfase em poluição do ar), químico, engenheiro industrial, pós-graduado em
Engenharia de Segurança do Trabalho e de Controle de Poluição garante que o
empreendimento é um risco enorme para a Baixada Santista.
"Existe
uma licença-prévia junto à CETESB (Companhia de Tecnologia e Saneamento do
Estado de São Paulo) que aprovou a localização e concepção do empreendimento,
atestando a sua viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implantação. Agora, são
estranhas essas audiências em Brasília, pois a discussão deveria ser regional.
Plano de contingência, a Barragem de Mariana também tinha. Tenho 40 anos e
nenhum deles dá certo. Isso está me cheirando mal", afirma Lopes.
O
professor é um dos pioneiros na área de Meio Ambiente em instituições como CETESB,
Ministério Público Estadual, Ministério da Saúde, Secretaria de Meio Ambiente e
universidades locais.
Lopes
afirma que empresas dos arredores, como a Ultrafértil, a Usiminas, BTP, a
Petrobrás e as que ocupam a Ilha Barnabé deveriam estar questionando o
empreendimento sob o ponto de vista econômico e de segurança.
"Os
órgãos ambientais deveriam ter mais cuidado e se distanciar do interesse dos
empreendedores. Os navios vão trazer o gás do exterior e trabalhar com alta
pressão. Os riscos são tecnicamente reais. O sistema aberto de refrigeração que
será implantado é mais barato, mas antigo e inadmissível no Mundo por conta de
possíveis problemas ao meio ambiente. A meu ver, entre outras coisas, esse
navio deveria operar longe da nossa costa, mas o custo é grande. Então,
optou-se pela City Gate. Todos os acidentes que eu já avaliei tinham um
componente gerador: a ganância", finaliza o consultor.
Comgás garante a segurança
do terminal e das operações
Questionada,
a Comgás informou, por sua Assessoria de Imprensa, que o comércio mundial se dá
por meio do Gás Natural Liquefeito (GNL). Para o Brasil ter acesso a essa fonte
de energia competitiva e limpa é necessário investir em infraestrutura para o
recebimento deste insumo.
O
projeto em Santos é de suma importância para o desenvolvimento sustentável do
Estado e em especial da Baixada Santista, pois permitirá acesso a uma fonte de
energia limpa, segura e competitiva, que trará benefícios para a o polo
industrial da região e para os demais segmentos de consumo de gás natural:
comercial, residencial e transporte.
Empregos e Tributos
O
projeto gerará empregos, tributos e renda. Durante todo o projeto serão criados
cerca de 1.500 empregos diretos e ele incorpora a mais avançada tecnologia
disponível no Mundo para este tipo de operação. Todos os parâmetros da
legislação vigente estão atendidos, assim como todos os requisitos necessários
para o seu licenciamento.
Além
de atender toda a legislação, o projeto vem sendo amplamente debatido desde
2015, quando foi concebido. Todos os pareceres e todas as manifestações de
órgãos competentes foram favoráveis. Os estudos socioambientais foram
realizados por consultores especializados e independentes. Audiências públicas
foram realizadas em Santos e Cubatão.
Por
ter rigorosamente seguido todas essas etapas e pelo fato de os estudos terem
demonstrado sua viabilidade ambiental, o projeto já obteve Licença Prévia (LP)
emitida pelos órgãos competentes.
Brasil e Mundo
Finalizando,
a Comgás garante que o terminal de GNL é uma tecnologia segura, amplamente
utilizada em todos os continentes há mais de 50 anos, sem registro de
incidentes. Há terminais nos Estados Unidos, Japão, Coréia, França, Finlândia,
Espanha e Holanda.
O
Brasil revela, já possui quatro terminais em operação, no Rio de Janeiro,
Sergipe, Bahia e Ceará. Há ainda outros dois projetos licenciados em implementação,
além de outros em estudo.
São Paulo
Todos
os terminais existentes no Mundo estão operando em áreas marítimas abrigadas,
próximas aos centros de consumo de energia. No Estado de São Paulo, onde a
demanda de energia tende a aumentar, Santos figura como única localidade
realmente viável, além de segura, para a implementação desta solução.
Fonte:
Diário do Litoral
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