Sistema,
que utiliza câmeras de alta resolução para liberar cargas animais e vegetais,
está em fase piloto em dois terminais. Mesmo processo é adotado oficialmente pela
Alfândega há mais de um ano.
Os
produtos agropecuários que entram e saem do Porto de Santos, o maior da América
do Sul, serão fiscalizados por um novo sistema de inspeção à distância com
câmeras de alta resolução, sem a necessidade de conferir a carga
presencialmente. A ação é inédita no país, já que o processo não foi implantado
em nenhum outro porto brasileiro. A solução tecnológica deve promover agilidade
na fiscalização e reduzir o tempo de liberação das cargas de origem animal e
vegetal, trazendo menos custos à comunidade portuária.
A
Alfândega do Porto de Santos, responsável pela entrada, permanência,
movimentação e liberação das mercadorias, implantou em 2015 o sistema Confere
(Conferência Física Remota) para agilizar o fluxo das cargas que caem no canal
vermelho e exigem uma conferência dos fiscais federais.
O
Confere permite a fiscalização das cargas a distância por meio de câmeras já
presentes nos terminais. O sistema foi desenvolvido pela Associação Brasileira
de Terminais e Recintos Alfandegários (ABTRA), por meio de uma parceria
público-privada, em que o órgão público não teve nenhum gasto com a nova
tecnologia.
Após
prévio agendamento da verificação da mercadoria, a carga é posicionada no local
adequado a conferência, em frente às câmeras disponíveis no terminal. Dentro do
escritório, o fiscal consegue realizar a análise da carga. Ele mantém contato
telefônico e visual com a equipe que está no local, podendo fazer orientações e
intervenções a qualquer momento.
"Você
posiciona o contêiner na frente da câmera e abre. Com um controle remoto, que
fica no escritório, onde está o funcionário público, ele dá um zoom na imagem.
Ele pode até pedir para um funcionário do terminal entrar em um contêiner com
uma câmera de celular, ou algo assim. Tudo isso é integrado no sistema”,
explica o engenheiro e diretor-executivo da Abtra, Angelino Caputo.
Segundo
a Abtra, atualmente, oito estações de trabalho da Alfândega de Santos exibem as
imagens, em tempo real, da abertura de contêineres captadas por cerca de 250
celulares e câmeras fixas e móveis instaladas em 16 terminais alfandegados.
“Tem
as câmeras fixas, de frente para os contêineres, que oferecem uma visão mais
periférica e câmeras que tem um zoom ótico. Agora, com a inclusão dos
celulares, tivemos a maior definição de detalhes. Tanto as etiquetas como
lacres, de diversos tamanhos e colorações. Isso colaborou muito para a
fiscalização”, explica a gerente de TI da Abtra, Juliana Rodrigues.
O
Confere passou a funcionar, de forma definitiva, na Alfândega do Porto de
Santos em 2018, quando as normas foram divulgadas por meio da Portaria Alf/STS
134. De acordo com a Alfândega, o sistema trouxe uma economia de tempo e
custos, já que o fiscal pode conferir uma carga e, a seguir, verificar outra em
um terminal diferente e distante. Com todos os fiscais em uma sala, o
atendimento é centralizado e há maior integração entre eles.
O
maior benefício é a maior agilidade na liberação de cargas no cais santista.
Atualmente, segundo a Alfândega do Porto de Santos, a Equipe de Conferência
(Eqcof) realiza, em média, de 8 a 15 conferências por dia. A solução
tecnológica também traz mais segurança ao controle aduaneiro, já que as imagens
ficam gravadas e podem ser consultadas em até 120 dias.
O
trabalho de fiscalização no Porto de Santos, além da Alfândega, também é
realizado pelo Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – que supervisiona as
cargas de origem animal e vegetal – e pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) – responsável pela execução das atividades de controle
sanitário. Os dois órgãos devem começar a utilizar o mesmo sistema já adotado
pela Alfândega.
“A
partir de troca de experiências e vendo que era possível, o Vigiagro se
candidatou a ter também uma solução igual a da Alfândega do Porto de Santos. É
o mesmo trabalho”, explica Caputo. Segundo ele, desde o início do ano, a equipe
técnica da associação trabalha para desenvolver o Confere Agro, que utilizará
as mesmas câmeras empregadas no Confere. A Associação comprou computadores e
fez as ligações de fibra óptica. Agora, o sistema sofre ajustes finais para se
adaptar as necessidades das equipes do Vigiagro. O investimento, por parte da
Abtra, foi de R$ 40 mil.
“É
muito barato pelo benefício que traz. Tivemos que fazer uma parte técnica
especial para levar as imagens até o escritório do Vigiagro, porque elas
estavam sendo levadas somente para a Alfândega. Enquanto a Vigiagro quer ver a
questão da barreira sanitária, a Alfândega está vendo mais a questão
tributária, o contrabando, cargas ilícitas. É o mesmo sistema para os dois, mas
o que eles estão olhando são coisas diferentes“, explica Caputo.
De
acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, o sistema
encontra-se já instalado na sede do Vigiagro, em Santos, e está pronto para
utilização em todos os recintos alfandegados de contêiner do Porto. O processo
está em fase piloto, sendo efetuadas fiscalizações em dois terminais
alfandegados.
Nas
últimas duas semanas, no Porto de Santos foram realizadas algumas verificações
de importação de azeite, vinhos, alhos, fertilizantes e defensivos agrícolas,
por exemplo, com bons resultados iniciais. E, se alcançando os resultados
esperados, o planejamento é expandir o processo para os demais recintos do
Porto.
Para
Caputo, os sistemas trazem mais agilidade ao burocrático processo de liberação
de cargas de exportação e importação, reduzindo o custo e trazendo mais
competitividade ao Porto de Santos no cenário do comércio exterior. Sendo a
maior porta de entrada do Brasil, o cais santista se torna um modelo para
outros portos brasileiros.
“O
embrião é Santos. A Alfândega já está sinalizando que vai fazer projetos em
outros portos, estamos à disposição para ajudar. Se não tem gente, tem que
colocar tecnologia no lugar e temos uma solução própria que funciona e já está
comprovada. Se funciona em Santos, funciona em qualquer outro lugar”, finaliza
Caputo.
Fonte:
G1 Santos-SP
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