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Segundo a polícia, ambos são cidadãos italianos e pertencem ao grupo mafioso Ndrangheta, da região da Calábria, no sul da Itália
Na
manhã do dia 8, o Grupo de Pronta Intervenção (GPI), da Polícia Federal,
prendeu dois homens suspeitos de integrar a máfia italiana em uma cobertura de
luxo, no edifício Praia Reis, localizado na Rua Ofélia Cassetari Reis, bairro da Aviação, em
Praia Grande, no litoral paulista.
A
operação, comandada pela PF do Paraná, foi batizada de Barão Invisível. Segundo
a polícia, ambos são cidadãos italianos e pertencem ao grupo mafioso
Ndrangheta, da região da Calábria, no sul da Itália. A organização é apontada
como responsável por controlar aproximadamente de 40% dos envios globais de
cocaína à Europa, principal mercado consumidor e atuava junto com uma das
maiores facções criminosas brasileiras, que atua dentro e fora dos presídios do
país. Eles são suspeitos de enviar cocaína à Europa pelos portos de Santos e Paranaguá
(PR).
Os
mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da
Representação da Polícia Federal junto à Interpol, em cooperação com a Polícia
Italiana.
Presos
De
acordo com a Polícia Federal, Nicola Assisi, conhecido como "fantasma de
Calábria", é condenado por tráfico e associação para tráfico de drogas na
Itália. Ele o filho, Patrick Assisi, ocupavam três apartamentos na cobertura de
um prédio de alto padrão no litoral paulista.
Os
dois estavam foragidos desde 2014. Segundo a polícia, eles passaram por
Portugal e Argentina usando nomes falsos. Nicola estava prestes a se aposentar
do crime para aproveitar a vida em algum lugar no Brasil. A Interpol também
estava atrás deles desde a ocasião. A suspeita é que pai e filho tenham viajado
utilizando documentos falsos. Nicola possui passaporte argentino falso com o
nome de Javier Varela.
Apartamentos
Foto: Reprodução TV Globo |
O
apartamento onde os dois foram presos tinha um esquema de segurança sofisticado,
com câmeras na área externa que eram usadas para identificar todas as pessoas
que entravam no prédio. Uma das câmeras, segundo a PF, custava cerca de R$ 100
mil e filmava em 360 graus.
Os
apartamentos tinham paredes falsas, usadas para esconder drogas, dinheiro e
armas, além de servir de esconderijo.
De
alto padrão, o condomínio tem 17 pavimentos e fica a uma quadra da orla, no
bairro Aviação. Além das coberturas habitadas, os Assisi seriam donos de uma
terceira, de número 165, no mesmo edifício. Os apartamentos tinham paredes
falsas, usadas para esconder drogas, dinheiro e armas, além de servir de
esconderijo. Os policiais federais apuraram que
a porta principal do apartamento de Patrick era meramente decorativa, porque
atrás dela foi construída uma parede de tijolos.
Nicola
residia na cobertura 163. Patrick morava na de número 161 com a mulher e um
casal de filhos, aparentemente de 3 anos de idade. A família pouco saía do
edifício e não mantinha contatos com os demais condôminos. Eles costumavam receber
prestadores de serviços nas coberturas.
Cabeleireiro,
manicure e médico das crianças, quando necessário, eram chamados para atendimento
na residência. Os Assisi evitavam, com isso, exposições desnecessárias e
tentavam perpetuar a ocultação de suas origens criminosas.
Apreendido
De
acordo com a PF, foram apreendidos na operação: 1 pistola calibre 40, 2
pistolas calibre 380, 41 munições calibre 380, 14 aparelhos celulares variados,
1 telefone satelital, 3 notebooks, 1 Ipad, HDs externos e pendrives, 1 modem
portátil, 5 relógios de luxo, Documentos variados, cartões de crédito, 02
veículos (um Corolla e um Logan), R$ 770.745,00, US$ 24.432,00, Euro $
6.165,00, 3,973 kg de pó branco aparentando ser cocaína, lacres falsificados de
contêineres e uma impressora 3D que era usada para falsificar os lacres e
documentos falsos, como um passaporte argentino e um título de eleitor
brasileiro.
PCC
Segundo
a polícia italiana, investigações apontam que a máfia italiana e o Primeiro
Comando da Capital (PCC) se associaram já há algum tempo para enviar cocaína à
Europa, principalmente pelos portos de Santos e Paranaguá (PR). A quantidade de
droga despachada não foi estimada.
A
facção paulista, que se expandiu pelo país e pela América do Sul, conseguiu
ampliar os seus tentáculos dominando o tráfico na fronteira com o Paraguai e
estabelecendo relações comerciais diretas com os produtores de cocaína deste
país, da Bolívia e do Peru.
"A
principal função desses presos era
justamente fazer o elo da produção da cocaína em países como o Peru e a
passagem pelo Brasil, inclusive por portos", afirmou o superintendente da
Polícia Federal no Paraná, Luciano Flores.
Segundo
Flores, a polícia vai investigar se há alguma ligação entre o aumento das
apreensões de drogas nos portos brasileiros e a atuação dos dois suspeitos
presos.
"A
gente tem acompanhando que tanto no Porto de Paranaguá e no de Santos estavam
havendo grandes apreensões de cocaína, recordes históricos para o Brasil e
certamente isso envolve facções e organizações criminosas da América do Sul,
inclusive, do Brasil com organizações criminosas na Europa", disse o
delegado.
Prisão preventiva
No
dia seguinte a prisão, em audiência de custódia, o juiz federal Roberto da
Silva Oliveira converteu em preventiva a prisão dos italianos. A partir dessa
decisão, pai e filho respondem a duas prisões preventivas: a do Supremo
Tribunal Federal (STF), para fins de extradição, e a decorrente do flagrante de
armas, drogas e dinheiro em Praia Grande, onde ambos foram localizados, pois
não houve justificativa da procedência dos ilícitos
Defesa
A
defesa de Nicola e Patrick Assisi tentou levar o caso para a justiça estadual,
pois entendeu que o flagrante de tráfico não configurou crime internacional.
"Pedimos a incompetência do juízo, pois configura tráfico doméstico de
entorpecentes", afirmou o advogado Bruno Galhardo. A droga, segundo ele,
estava em um apartamento vizinho, também de propriedade dos dois.
O
juiz entendeu que o caso deveria permanecer em esfera federal e o advogado,
então, solicitou a liberdade provisória, uma vez que tinha residência fixa. Com
a nova negativa, a Bruno diz que vai recorrer. "Vamos estudar agora o
pedido de revogação da prisão [em instância superior] e até o habeas
corpus" , explicou.
“Basicamente,
o juiz quis saber se houve abuso na prisão. Não houve, mas questionamos o
flagrante por tráfico, porque a droga estava em um imóvel que não pertence aos
acusados, a quantidade apreendida é pequena e não há prova de que ela seria
enviada ao exterior”, disse Galhardo.
O
advogado Bruno Galhardo também afirmou que vai entrar com procuração no STF
para ter acesso aos autos que determinaram as prisões preventivas iniciais e
assim traçar a estratégia da defesa. "Eles negam o tráfico e vão responder
pelas armas encontradas em juízo. Eles também negam envolvimento com a máfia
italiana", disse.
Extradição
Na
sede do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília, Sérgio Moro se
reuniu com o procurador nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália, Federico
Cafiero. No encontro, Moro afirmou que os dois italianos serão extraditados do
país. "O Brasil não deve ser refúgio para criminosos", disse.
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