Grupo
foi preso em flagrante pela Polícia Federal e pela Guarda Portuária tentando
embarcar tabletes de cocaína escondidos em cintas no corpo em um navio no Porto
de Santos
Oito
estivadores do Porto de Santos, no litoral de São Paulo, foram condenados pela
Justiça Federal por tráfico internacional de drogas. As penas individuais
variam entre 5 e 9 anos - a somatória de todas passa de 50 anos - e referem-se
à ação do grupo que tentou embarcar cocaína, escondida em cintas pelo corpo, em
um navio no cais.
Os
portuários foram flagrados pela Guarda Portuária e pela Polícia Federal em
outubro de 2018 em um terminal de contêineres da margem direita do porto.
Imagens de câmeras de monitoramento registraram quando os trabalhadores,
utilizados como "mulas" do tráfico, escondiam os tabletes de droga
sob faixas no corpo na área externa da instalação.
Foram
apreendidos aproximadamente 30 kg de cocaína pura, que seria enviada ao porto
de Valência, na Espanha, conforme investigação da Polícia Federal. Em
depoimento, corroborado posteriormente à Justiça Federal, ao menos um estivador admitiu que receberia R$ 1 mil por tablete transportado, mas alegou
"coação" em juízo.
O
juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, considerou
que as provas sustentavam a condenação dos envolvidos por tráfico internacional
de drogas, mas não comprovava eventual associação deles ao tráfico. A cada um
também foi atribuído o pagamento de dias-multa, que ainda serão calculados.
A
reincidência no mesmo tipo de crime e os antecedentes individuais influenciou
nas penas:
- Vicente Alves de Souza, de 56 anos: condenado a 9 anos e 20 dias de prisão;
- Jânio Alves de Souza, de 58 anos: condenado a 9 anos e 20 dias de prisão;
- Leandro Alfredo Casartelli Pinheiro, de 43 anos: condenado a 7 anos, 11 meses e 8 dias de prisão;
- Renato Xavier Koti, de 48 anos: condenado a 6 anos, 9 meses e 20 dias de prisão;
- Douglas Reinaldo Silva de Oliveira, de 52 anos: condenado a 6 anos, 9 meses e 20 dias de prisão;
- Claudemir Silva Santos, de 32 anos: condenado a 6 anos, 6 meses e 22 dias de prisão;
- Orivelton Gonçalves de Jesus, de 38 anos: condenado a 6 anos, 6 meses e 22 dias de prisão;
- Wagner da Silva, de 56 anos: condenado a 5 anos e 10 meses de prisão.
Na
sentença, o juiz diz que Vicente e Janio "possuem envolvimento com ações
pretéritas relacionadas ao tráfico internacional de entorpecentes" e as
respectivas penas tiveram o "agravante da reincidência" com base em
condenações anteriores. Leandro, Renato e Douglas, ainda conforme a decisão,
também possuem "vasta folha de antecedentes".
Os
condenados Claudemir e Orivelton são réus primários e foram beneficiados pela
legislação. De maneira semelhante, Wagner foi o único a admitir e explicar a
real participação na tentativa de embarque de entorpecente em navio estrangeiro
e, apesar de ter antecedentes criminais, teve a pena reduzida à mínima pelo
"atenuante da confissão".
Defesa
No
processo, as defesas dos estivadores tentaram provar que as imagens mostravam
fatos típicos de um trabalhador portuário, como quando um colega ajuda o outro
a se vestir e até arrumar o macacão utilizado durante o serviço no cais. Ou,
então, o uso pessoal de cintas, justamente para evitar problemas na coluna pelo
carregamento de peso.
"Mesmo
que os acusados e seus defensores aleguem que tais atos sejam corriqueiros no
cotidiano de trabalhadores portuários, tenho que os movimentos executados por
eles não podem ser considerados normais, vale dizer, um simples ajuste de
calças ou um mero acerto de agasalhos. Ao contrário, os movimentos registrados
denotam que estavam ocultando algo sob seus trajes", escreveu o juiz na sentença.
Roberto
Lemos dos Santos Filho não permitiu que os condenados recorram em liberdade.
Todos permanecem presos na Penitenciária de São Vicente (SP), para onde foram
encaminhados no momento em que a prisão em flagrante foi convertida pelo mesmo
juiz em preventiva durante a audiência de custódia, em outubro.
- O advogado Alexandre Calixto Rodrigues, que defende Wagner da Silva, afirmou que vai recorrer visando a absolvição do cliente.
- O advogado Eugênio Malavasi, defensor de Jânio Alves de Souza, informou que vai apelar da sentença em instância superior.
- A advogada Luíza Olga Alexandrino Costa Manoel explicou que analisa a sentença de Claudemir Silva Santos para poder recorrer.
- O advogado Celso Ricardo Torrer Rodrigues também disse que avalia decisão, mas vai apelar para a absolvição de Douglas Reinaldo da Silva de Oliveira.
O
G1 não conseguiu contato com a defesa dos demais condenados até a última
atualização dessa reportagem.
Ação criminosa
A
atitude suspeita dos estivadores chamou a atenção das autoridades, que
conseguiram fazer um cerco e evitar que o bando escapasse. A mobilização fez
com que parte dos envolvidos tentasse se desvencilhar da droga largando os
tabletes no banheiro de um vestiário e também pelo pátio da empresa, justamente
para evitar um eventual flagrante.
Para
a Polícia Federal, os portuários se utilizaram da função para embarcar em um
navio atracado no cais e esconder os tabletes em um contêiner. Além dos
tabletes de cocaína, também foram apreendidos serras e fardamentas para abertura
das caixas metálicas a bordo e lacres, que seriam utilizados em substituição
aos originais violados.
Com
base nas investigações e depoimentos, acredita-se que os estivadores poderiam
ganhar até R$ 4 mil pelo transporte da droga, já que somente quatro tabletes
poderiam ser espalhados pelo corpo, embaixo de cintas. O objetivo era que os
trabalhadores passassem despercebidos por agentes federais e pelos seguranças
do terminal.
No
flagrante, o G1 apurou que 14 trabalhadores avulsos estavam no cais, mas só
houve a comprovação de participação de oito deles. Todos são portuários
responsáveis por auxiliar na colocação de cargas em navios, e que são
escalonados pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo) de Santos, a partir da
requisição do próprio terminal.
Fonte:
G1 Santos
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