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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

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PORTO DO PÓ: PCC CONQUISTOU DOCAS E ACABOU COM TRABALHO 'ARTESANAL'



Facção brasileira precisou desmantelar o esquema local para transformar o porto em uma máquina de transporte de cocaína

Antes da entrada do PCC na logística do embarque de cocaína para a Europa, o negócio era feito de maneira quase artesanal no porto de Santos. O trabalho era tocado por quadrilhas de pessoas que já tinham trabalhado na estiva e migraram para o contrabando.
A droga era levada em mochilas e entregue ao tripulante do navio durante as operações de carregamento. Tudo simples, distante do que, anos depois, viraria o padrão no porto, com remessas de toneladas sendo enviadas frequentemente para a Europa.
Os primeiros registros de apreensão de cocaína no porto de Santos com destino ao exterior datam da segunda metade da década de 80. Profissionais que já haviam trabalhado em atividades portuárias atuavam na colocação de drogas nos navios. Esse era o trabalho de Ronaldo Duarte Barsotti Freitas, o Naldinho.
Em 2005, foto de Naldinho junto de Edinho foi usada como prova do envolvimento dos dois (Foto:Robson Ventura/Folhapress)

Filho do ex-jogador de futebol Pitico — que jogou ao lado de Pelé no Santos, nos anos 70 — e bem relacionado na cidade, ele teria papel de liderança no esquema de embarque nesta época. No passado, Naldinho já havia trabalhado como estivador.
Em 2005, Naldinho ficou nacionalmente conhecido ao ser preso na Operação Indira, do Denarc, que desarticulou um esquema de tráfico de drogas. Ao seu lado, Edson Cholbi, o Edinho, filho do jogador Pelé, também foi preso.
Naldinho seria o fornecedor de entorpecentes para facções criminosas do Rio de Janeiro e tinha contato direto com narcotraficantes colombianos. Apesar das acusações, ele conseguiu o direito de responder em liberdade após um habeas corpus concedido pelo STJ, em 2008. Naldinho e Edinho estavam livres.
Três meses após deixar a prisão, no entanto, Naldinho desapareceu.
Policiais sustentam a teoria de que ele teria sido executado pelo PCC por não ter cedido o controle do esquema de tráfico internacional no porto de Santos. Dez anos depois, seu desaparecimento continua um mistério. Se foi morto, o corpo nunca foi encontrado.
Após o desaparecimento de Naldinho, o caminho ficou aberto para o PCC expandir seu trabalho no porto. A chegada da facção imprimiu um ritmo quase industrial na logística do tráfico. O processo ‘artesanal’ tinha acabado de vez.
Policiais que investigam o crime organizado identificaram pelo menos seis grupos de ex-estivadores que conhecem o funcionamento do embarque de cargas em navios, além da geografia do complexo porto de Santos.
Esses grupos passaram a operar como uma espécie de prestadores de serviço para o crime organizado, oferecendo sua experiência para quadrilhas nacionais e internacionais.
Operações como a Monte Polino e Semilla revelaram que a N’dranghetta, grupo criminoso da Calábria, na Itália, também estava usando o esquema de embarque do PCC: envio em larga escala de cocaína. Na época, integrantes da máfia nigeriana e traficantes brasileiros sem vínculo à facções também atuavam como intermediários.
O outro lado (do mapa)
Do outro lado do mapa, estavam os fornecedores da cocaína. Nesta ponta do esquema, a droga produzida no Peru, Bolívia e Colômbia fazia o caminho para o Porto.
Na Operação Brabo, três grandes fornecedores foram identificados pela PF: o espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martins; o colombiano Francisco José Valdez Garcia; e o americano Samuel Francisco Valdez, que está foragido. A defesa de Samuel Valdez e Francisco Garcia foi procurada e não quis se manifestar. A reportagem não localizou o advogado de Oliver.
O espanhol foi preso no Rio de Janeiro em 2013, na Operação Monte Perdido, em cooperação com a polícia de Portugal. Em 2015, conseguiu um habeas corpus no STF e responde o processo em liberdade.
Garcia foi preso no ano passado em Minas Gerais, acusado de envolvimento em esquema de envio de cocaína por meio de blocos de granito para a máfia italiana. A Polícia Federal acredita que ele tem ligações com cartéis colombianos remanescentes dos famosos cartéis de Calil e Medellin.

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