Facção brasileira precisou desmantelar o esquema local
para transformar o porto em uma máquina de transporte de cocaína
Antes
da entrada do PCC na logística do embarque de cocaína para a Europa, o negócio
era feito de maneira quase artesanal no porto de Santos. O trabalho era tocado por quadrilhas de pessoas que já tinham trabalhado na estiva e migraram para o contrabando.
A
droga era levada em mochilas e entregue ao tripulante do navio durante as
operações de carregamento. Tudo simples, distante do que, anos depois, viraria
o padrão no porto, com remessas de toneladas sendo enviadas frequentemente para a Europa.
Os
primeiros registros de apreensão de cocaína no porto de Santos com destino ao
exterior datam da segunda metade da década de 80. Profissionais que já haviam
trabalhado em atividades portuárias atuavam na colocação de drogas nos navios.
Esse era o trabalho de Ronaldo Duarte Barsotti Freitas, o Naldinho.
Em 2005, foto de Naldinho junto de Edinho foi usada como
prova do envolvimento dos dois (Foto:Robson Ventura/Folhapress)
Filho
do ex-jogador de futebol Pitico — que jogou ao lado de Pelé no Santos, nos anos
70 — e bem relacionado na cidade, ele teria papel de liderança no esquema de
embarque nesta época. No passado, Naldinho já havia trabalhado como estivador.
Em
2005, Naldinho ficou nacionalmente conhecido ao ser preso na Operação Indira,
do Denarc, que desarticulou um esquema de tráfico de drogas. Ao seu lado, Edson
Cholbi, o Edinho, filho do jogador Pelé, também foi preso.
Naldinho
seria o fornecedor de entorpecentes para facções criminosas do Rio de Janeiro e
tinha contato direto com narcotraficantes colombianos. Apesar das acusações,
ele conseguiu o direito de responder em liberdade após um habeas corpus
concedido pelo STJ, em 2008. Naldinho e Edinho estavam livres.
Três
meses após deixar a prisão, no entanto, Naldinho desapareceu.
Policiais
sustentam a teoria de que ele teria sido executado pelo PCC por não ter cedido
o controle do esquema de tráfico internacional no porto de Santos. Dez anos
depois, seu desaparecimento continua um mistério. Se foi morto, o corpo nunca
foi encontrado.
Após
o desaparecimento de Naldinho, o caminho ficou aberto para o PCC expandir seu
trabalho no porto. A chegada da facção imprimiu um ritmo quase industrial na
logística do tráfico. O processo ‘artesanal’ tinha acabado de vez.
Policiais
que investigam o crime organizado identificaram pelo menos seis grupos de
ex-estivadores que conhecem o funcionamento do embarque de cargas em navios,
além da geografia do complexo porto de Santos.
Esses
grupos passaram a operar como uma espécie de prestadores de serviço para o
crime organizado, oferecendo sua experiência para quadrilhas nacionais e
internacionais.
Operações
como a Monte Polino e Semilla revelaram que a N’dranghetta, grupo criminoso da Calábria, na Itália, também estava usando o esquema de embarque do PCC: envio
em larga escala de cocaína. Na época, integrantes da máfia nigeriana e
traficantes brasileiros sem vínculo à facções também atuavam como intermediários.
O outro lado (do mapa)
Do
outro lado do mapa, estavam os fornecedores da cocaína. Nesta ponta do esquema,
a droga produzida no Peru, Bolívia e Colômbia fazia o caminho para o Porto.
Na
Operação Brabo, três grandes fornecedores foram identificados pela PF: o
espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martins; o colombiano Francisco José Valdez
Garcia; e o americano Samuel Francisco Valdez, que está foragido. A defesa de
Samuel Valdez e Francisco Garcia foi procurada e não quis se manifestar. A
reportagem não localizou o advogado de Oliver.
O
espanhol foi preso no Rio de Janeiro em 2013, na Operação Monte Perdido, em
cooperação com a polícia de Portugal. Em 2015, conseguiu um habeas corpus no
STF e responde o processo em liberdade.
Garcia
foi preso no ano passado em Minas Gerais, acusado de envolvimento em esquema de
envio de cocaína por meio de blocos de granito para a máfia italiana. A Polícia
Federal acredita que ele tem ligações com cartéis colombianos remanescentes dos
famosos cartéis de Calil e Medellin.
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