Suspeitos usavam roupa de mergulho, capuz, escalaram a
lateral do cargueiro por uma corda com 15 m e ameaçaram oficial imediato com um
facão. PF decretou sigilo nas investigações
Equipes
de emergência do Governo da Itália foram mobilizadas durante a invasão ao navio "Grande Francia", a 15 quilômetros do acesso ao Porto de Santos, no litoral de
São Paulo, no domingo (12). O alerta sobre uma "ação de pirataria" em
andamento foi emitido pelo comandante, que trancou toda a tripulação em uma
sala blindada e pediu socorro via rádio. As informações foram obtidas com
exclusividade pelo G1 na manhã desta quinta-feira (16).
O
incidente ocorreu enquanto o cargueiro, de bandeira italiana, estava ancorado
aguardando autorização para atracar no cais santista. A Polícia Federal sabe
que de quatro a cinco homens armados foram a bordo simulando um roubo, para
embarcar cocaína - mais de 1,3 tonelada da droga foi achada a bordo. O sigilo
nas investigações foi decretado.
Invasão e droga a bordo:
- De quatro a cinco invasores vestindo roupas de mergulho e com facões subiram no navio;
- Polícia Federal investiga se parte do carregamento de cocaína foi içado na invasão;
- Os 26 tripulantes ficaram trancados em sala segura, monitorando de longe a invasão;
- Polícia Federal ouviu e liberou suspeito, e decretou sigilo nas investigações.
O
G1 apurou que os criminosos vestiam roupas pretas de borracha, semelhantes
àquelas usadas por mergulhadores, e estavam com balaclavas (gorro que cobre
toda a cabeça). O bando utilizou cordas com nós e um gancho (galateia) para
escalar, aproximadamente, 15 metros da lateral frontal do cargueiro para
acessar o convés (cobertura superio) por aberturas acima da âncora.
O
oficial imediato, profissional que está somente abaixo do comandante em
hierarquia, foi um dos três tripulantes que perceberam a invasão. Um dos
criminosos, com um facão na mão, correu em direção a ele, que conseguiu isolar
com grades toda a área do convés, por onde o grupo embarcou, e alertar os
demais colegas sobre o que estava acontecendo a bordo.
Em
um comunicado oficial na quinta-feira, a Grimaldi Lines, empresa proprietária
do navio, declarou que o protocolo de emergência foi cumprido com sucesso.
"O capitão acionou o alarme geral, e todos os tripulantes se abrigaram na
sala segura da embarcação. O sistema de segurança também foi ativado para
informar o Estado da bandeira [Itália]", declarou.
Ao
colocar os 26 marinheiros e oficiais na sala segura, o comandante também
acionou o "botão de pânico". Um funcionário da armadora no Brasil,
que pediu anonimato, explicou que o alerta foi recebido e confirmado de forma
instantânea no Ministério dos Transportes da Itália, onde há uma equipe
específica para prestar apoio em ocorrências de pirataria.
O
sistema automático de emergência também comunicou o centro de controle de
operações da frota da Grimaldi, na Itália, informou a armadora. Enquanto isso,
a Praticagem de São Paulo recebia, via canal aberto de rádio, o pedido de socorro
do capitão e repassava as informações à Polícia Federal, em Santos. A Marinha
do Brasil também foi acionada.
Durante
as duas horas de invasão, houve um período de silêncio entre as equipes de
emergência e o comandante, uma vez que ele e a tripulação ficaram trancados na
sala segura, cujo revestimento é de aço e capaz de suportar até explosões. Ao
fim, o capitão afirmou a todos que não haveria necessidade de intervenção, pois
os invasores tinham fugido.
No
comunicado, a Grimaldi ainda agradeceu às autoridades brasileiras pelo
"sucesso na operação", e parabenizou a tripulação por ter enfrentado
pela primeira vez a situação de invasão, ao seguir os "protocolos de
segurança" utilizado em ataques. "Os representantes da empresa colocaram-se
à disposição das autoridades para auxiliá-las na investigação", afirmou.
O
G1 também apurou que tratava-se da primeira viagem a Santos daquela formação da
tripulação, o que pode afastar eventual envolvimento ou conivência dos
marítimos com os narcotraficantes. Entretanto, para não prejudicar o andamento
da apuração do caso, a Polícia Federal decidiu tornar sigiloso o inquérito, que
ocorre pela Delegacia de Santos.
Investigações
O
bando utilizou uma embarcação de pequeno porte para enfrentar ondas de 2,5
metros, provenientes de uma ressaca marítima, e chegar ao navio, ancorado no
Fundeadouro 4. Trata-se de uma área de 100 mil metros quadrados onde os
cargueiros aguardam autorização para entrar no cais santista e realizar
operações de carga e descarga de mercadorias.
A
delegada Luciana Fuschini, responsável pelo caso, afirmou anteriormente ao G1
acreditar que os criminosos simularam a pirataria para levar cocaína a bordo.
"Encontramos e apreendemos 1,3 tonelada da droga, e algumas das 41 malas
em que elas eram armazenas estavam molhadas. Por isso, acreditamos que parte
foi levada ao navio durante aquela invasão".
O
comandante e os tripulantes prestaram depoimentos na terça-feira (14), e o
conteúdo do que eles disseram não pode ser divulgado pela Polícia Federal.
Ainda quarta-feira, a Grimaldi confirmou que a delegada esteve a bordo do navio
para ouvir outros membros da tripulação e reconstituir a invasão. O cargueiro
foi liberado para seguir viagem nesta quinta-feira (16).
Na
segunda-feira, um dia após a ocorrência, policiais das Rondas Ostensivas Tobias
de Aguiar (Rota), da Polícia Militar, detiveram um suspeito de participação no
crime no bairro Gonzaga, em Santos, após denúncias anônimas. O homem foi
liberado após ser ouvido, mas o celular dele foi apreendido para ser analisado
e, posteriormente, periciado.
Juntas,
a Polícia Federal e a Alfândega da Receita Federal no Porto de Santos
contabilizam mais de 14 toneladas de cocaína interceptadas no cais santista
este ano. Trata-se de um número recorde no complexo portuário, considerado o
principal do Brasil. A quantidade registrada supera as apreensões de 2017
(11.539 kg) e 2016 (10.622 kg).
Fonte:
G1 Santos
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